Page 25 - Revista da Armada
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República, que tanta falta fez à Pátria e sobre- Arevoltaqueestalouem14deMaiode1915 Leote que era popular, interligava bem com
tudo à marinha. foi rápida e violenta sendo para além de tudo o pessoal e era publicamente mais conhecido.
Com a alma de joelhos, nós, os marinheiros, um entrave à intentona realista. Contava com
devemos empregar todos os esforços para fa- Leote do Rego como comandante da insurrei- De interesse focar que Leote do Rego fa-
zer ressurgir a Armada, esquecendo erros e ção na marinha, que sustentou um importan- lando sobre o recrutamento do pessoal para
perdoando agravos, unidos e decididos a causa dizia: «não se tratava de saber se eram
a tudo ousar e a tudo vencer, pugnando
pela criação de uma marinha de combate, camachistas, evolucionistas ou democrá-
principal sustentáculo e elemento impres- ticos, Eles só sabiam que toda a marinha-
cindÃvel do Portugal Maior». gem amava a República e tendo-a ajudado
É uma visão da marinha de guerra que a fundar não a queriam deixar morrer à s
aos olhos da época teve bastantes defenso- mãos dos ditadores. Confiavam em mim,
res e que tem ênfase na existência das coló- confiavam em Freitas Ribeiro».
nias e de um passado de más recordações
com a vizinha Espanha. Freitas Ribeiro dirigiu o ataque ao
Freitas Ribeiro no curto perÃodo de ca- Quartel de Marinheiros (Alcântara), logo
torze meses, num ambiente social e po- após o sinal dado pelos navios acompa-
lÃtico extraordinariamente agitado, teve nhado pelo Major Sá Cardoso, pelo mé-
dificuldade em concretizar as suas ideias, dico naval Andrade Sequeira, pelo Pri-
sabe-se no entanto que se preocupou coma meiro-tenente Mariano Martins e de mais
instalação e organização das escolas daAr- gente. Houve tiroteio na parada que Frei-
mada, procurando dentro do estuário do tas Ribeiro pôs termo, não sem que hou-
Tejo encontrar a instalação definitiva para vesse feridos.
as Escolas Práticas deArtilharia, Máquinas
e de Torpedos e Electricidade. Foi um acto temerário, considerando
Durante este perÃodo começou-se a pla- que foi um dos locais em que as forças
near a deslocação do Arsenal de Marinha governo mais se empenharam, sendo de
para a Margueira na margem sul do Tejo. evidenciar a valentia e ponderação dos
Foi formada uma Divisão Naval de Ins- responsáveis. No meio da manhã, o co-
trução e Manobra constituÃda por quatro mandante de Infantaria 2, em nome do
cruzadores, um contratorpedeiro e dois general comandante da divisão, propôs
navios torpedeiros que efectuaram exercÃ- a rendição do quartel, para evitar a efu-
cios nos mares do continente e dos arqui- são de sangue.
pélagos da Madeira e Açores. O ministro
dava especial atenção aos navios navega- Dedicatória do Dr. Afonso Costa a Freitas Ribeiro. Freitas Ribeiro respondeu: «Ainda es-
tamos no princÃpio e ainda falta muito até
rem, considerando que as manobras no mar te duelo de artilharia que foi fundamental no que os navios vão todos ao fundo e o quar-
«educam sobremaneira o pessoal, dando-lhe apoio das forças terrestres. tel pelos ares».
iniciativa, treino, sangue frio e competência». Segundo Jaime Nogueira Pinto, «para a
Para além das movimentações, das campa- chefia do golpe, o núcleo de sargentos cons- O governo demitiu-se ao fim da tarde,
nhasjornalÃsticascontraosdemocráticos,estes piradores hesitaram entre Leote do Rego e o tendo-se formado uma Junta Constitucio-
não dispunham de maioria no Senado o que comandante Freitas Ribeiro. Freitas Ribeiro nal composta por Norton de Matos, António
tornava a governação de Afonso Cos- Maria da Silva (único civil),José de Freitas Ri-
ta insustentável, pelo que no inÃcio de beiro, Alfredo de Sá Cardoso e Ãlvaro Xavier
1914 o governo apresentou a demissão, de Castro.
não tendo continuidade as acções pla- AJunta cessou funções três dias depois com
neadas para a defesa pelo chefe do go- a tomada de posse do ministério presidido por
verno que constava do seu importante
discurso proferido no Porto em fins de José de Castro, pois os revoltosos pre-
1913 e que ia dar satisfação a alguns as- tendiam apenas acabar com a ditadura
petos ambicionados por Freitas Ribeiro. e consolidar a república.
Em Março de 1914 reassumiu o car-
go de 2º comandante da Escola Práti- Entre 1907 e 1915 Freitas Ribeiro
ca de Torpedos e Electricidade, vindo sempre que esteve em Lisboa fez par-
em Janeiro de 1915 assumir o comando te dos «comités» revolucionários, com
do cruzador «Adamastor» que largou a coerência que lhe era peculiar, sem
em Fevereiro para Angola comboian- alardos populistas e ao largo de qual-
do navios mercantes com forças ex- quer regime de privilégios.
pedicionárias, estávamos na I Guerra
Mundial. Em virtude de ter tido uma Freitas Ribeiro ficou comandando
avaria ao largo da Madeira, o cruzador interinamente o Corpo de Marinhei-
regressou a Lisboa tendo Freitas Ribei- ros até assumir de novo o comando
ro desembarcado. do cruzador «Adamastor» em 11 de
Em Março de 1915 estava implan- Componentes da Junta Revolucionária – 1915. Novembro de 1915 que seguiu para
uma estação em Moçambique onde a
tada a ditadura conservadora de Pimenta de tinha mais créditos ideológicos - era um repu- existência de uma fronteira com uma
Castro tendo Freitas Ribeiro, com destacados blicano do 5 de Outubro, militante da causa colónia alemã a norte era uma fonte de
elementos do partido democrático como o Dr. desde estudante, fora ministro das colónias e preocupação.
António Maria da Silva e osMajoresSá Cardo- da marinha e era também maçon (o Altair da
so e Norton de Matos, constituÃdo uma Junta loja Portugal)». Em Fevereiro de 1916 a Grã-Breta-
Revolucionária. No entanto, os subalternos optaram por nha pede a Portugal a requisição dos
navios mercantes alemães fundeados
em portos portugueses, cuja execução
foi a causa decisiva que levou a Alemanha a
declarar-nos a guerra em 09 de Março de 1916.
O comandante do «Adamastor» em colabo-
ração com as capitanias efetuou o apresamen-
to dos navios alemães que se encontravam em
Lourenço Marques, Beira e Ilha de Moçam-
Revista da Armada • NOVEMBRO 2012 25