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Navios Hidrográficos
20. O Navio Hidrográfico Carvalho Araújo II
O N.H. Carvalho Araújo, o segundo baptizado com este “A Missão Hidrográfica de Angola e S. Tomé começou a cam-
nome, tinha sido a corveta Chrysantemum construÃda em 1942 panha em 15 de Junho e ela deverá prolongar-se até 15 de De-
nos estaleiros da Harland Wolff, em Belfast, que serviu na zembro.
Marinha Britânica durante a II Guerra Mundial. Após o termo
do conflito foi vendida à Marinha Francesa e, posteriormente, Antes do inÃcio da campanha foi o N.H. “Carvalho Araújo†uti-
a uma empresa da República da Ãfrica do Sul. Foi então que, lizado, por longos perÃodos, no serviço operacional do Comando
em 1958, o Governo português a adquiriu à Hector Whalling Naval de Angola, e, tenho informações de que cumpriu sempre, da
Co., da Cidade do Cabo. Após as necessárias transformações, melhor forma, as missões de que foi encarregado.
efetuadas em Luanda, foi classificada de navio hidrográfi-
co, denominada É evidente que o rendimento de trabalho das missões hidrográficas
Carvalho Araújo e é bastante afectado com a utilização do navio noutros serviços, mes-
aumentada ao Efe-
tivo dos Navios da mo que esta seja fei-
Armada em maio ta fora dos perÃodos
de 1959, passando de campanha, mas,
a servir na Missão nas actuais circuns-
Hidrográfica de tâncias, o Coman-
Angola e S. Tomé do Naval de Angola
(MHAST). teve necessidade de
O navio apresen- utilizar o N.H. “Car-
tava as seguintes caracterÃsticas: valho Araújoâ€, por
Deslocamento máximo.................................. 1350 toneladas carência de outros
Comprimento (fora a fora)............................ 62,33 metros navios, ou por razões
Boca.................................................................. 11 “ urgentes, havendo que encarar esse facto, embora ele represente sa-
Calado.............................................................. 5,02 “ crifÃcio para o pessoal e prejuÃzo no planeamento dos trabalhos do
Velocidade....................................................... 16 nós Instituto, como uma necessidade para a defesa do nosso território,
Era propulsionado por duas máquinas de trÃplice expansão e isto deve sobrepor-se a quaisquer outros interesses ou serviçosâ€.
com 2.700 cavalos e possuÃa uma guarnição de 48 homens. Entre 1962 e 1964, participou nos trabalhos conducentes Ã
Dos trabalhos em que o navio participou salientam-se, em atualização das cartas nº 341 e 343 e procedeu aos levanta-
1960, os levantamentos hidrográficos da barra de Chicala, mentos do plano de Quicombo e Moçâmedes. Seguiram-se,
da costa entre a baÃa do Dande e a Chicala e entre a baÃa do em 1965 e 1966, o levantamento da carta geral de S. Tomé e
Bengo e a ponta das Palmeirinhas, e no ano seguinte, os PrÃncipe – Luanda, a carta de roteamento entre Luanda e S. Tomé
efetuados da enseada do Leão, a atualização do plano da e PrÃncipe, o porto do Lobito e o plano de aproximação ao
baÃa de Cabinda e os expeditos no rio Zaire e dos esteiros cais das instalações navais da ilha do Cabo. De salientar a
de Porto Rico, Sumba e N’Zadi-Ianga. importância do levantamento do porto do Lobito em virtu-
Entretanto, em 22 de setembro de 1960, foi criado o Insti- de de tratar-se do mais importante porto angolano, bastante
tuto Hidrográfico que passou a centralizar toda a atividade utilizado pela navegação nacional e estrangeira e por onde
hidrográfica, incluindo nos territórios ultramarinos, o que circulava um elevado volume de mercadorias, sendo que Ã
veio a constituir um novo paradigma de atuação em relação época o plano hidrográfico então existente datava de 1950.
ao qual algumas autoridades sentiram uma certa dificul- Em 1967, deu apoio ao levantamento do plano de San-
dade de adaptação, uma vez que as Missões Hidrográficas to António do Zaire e da baÃa de Diogo Cão. Em 1968, efe-
não dependiam diretamente dos Comandos Territoriais da tuou os levantamentos hidrográficos da barra do Quanza,
Armada. Veja-se, a este respeito, o que refere o Diretor do Corimba, porto de Luanda, rio Zaire e na baÃa dos Tigres e,
Instituto Hidrográfico, CMG José Parreira, nas suas “Notas em 1969, das instalações navais da ilha do Cabo, restinga do
sobre o Instituto Hidrográfico. 1961-1962â€, redigidas em Lobito, Benguela, baÃa Farta e Porto AmboÃm. Seguiram-se
15 de fevereiro de 1963: “A Missão Hidrográfica de Angola e os levantamentos para a atualização de diversas cartas náu-
S. Tomé realizou em 1961 e 1962 campanhas com menor duração ticas já publicadas e ainda do Mussulo, BaÃa das Salinas, en-
do que o normal, por motivo do N.H. “Carvalho Araújo†ter que, seada do Cúio, plataforma continental do Massábi à Cabe-
por vezes, ser utilizado pelo Comando Naval de Angola, inciden- ça da Cobra, Ambriz à foz do Quanza, baÃa do Suto, Novo
te com o Comandante Rosa Coutinho quando trabalhava no Rio Redondo e da plataforma continental da baÃa do Lobito ao
Zaire e, ainda, pela maior demora nos fabricos do navio efectua- cabo de Santa Maria.
dos em Cape-Townâ€. Um dos seus últimos trabalhos hidrográficos foi, em no-
O “incidente com o Comandante Rosa Coutinhoâ€, a que o vembro e dezembro de 1974, o levantamento hidrográfico da
CMG José Parreira se refere nas suas notas, teve a ver com a baÃa de Santa Maria para a Carta nº. 375.
detenção daquele oficial, em 1961, pelas autoridades congo- O N.H. Carvalho Araújo II, que teve a rara particularidade
lesas, sob a acusação de espionagem. de, ao longo dos 16 anos da sua vida operacional, jamais ter
Nas “Notas sobre o Instituto Hidrográfico. 1963â€, o CMG visitado qualquer porto da Metrópole, foi em novembro de
José Parreira acrescentava: 1975 abatido ao Efetivo dos Navios da Armada e transferido
para a República Popular de Angola.
Colaboração do Instituto Hidrográfico
Revista da Armada • Janeiro 2003 11