José Maria Dantas Pereira
(1772 - 1836)
Um dos mais ilustres oficiais de Marinha da sua época, José Maria Dantas Pereira teve um papel fulcral na formação do oficialato português durante o início do século XIX.
Nascido a 1 de outubro de 1772, Dantas Pereira era oriundo de uma família modesta que, de acordo com o próprio, se esforçou para conceder ao seu filho uma educação superior. Este esforço foi recompensado com o ingresso na Academia Real de Marinha em 1786, onde o jovem discípulo viria a obter excelentes resultados nas suas provas.
O seu brilhante desempenho académico concedeu-lhe o ingresso na Academia Real dos Guardas-Marinhas a 10 de setembro de 1788. Na instituição dedicada exclusivamente à formação dos oficiais da Armada, Dantas Pereira voltaria a destacar-se, completando o curso matemático da academia em tempo recorde, merecendo a atenção dos seus superiores, bem como da Família Real. Foi promovido a Guarda-marinha a 18 de janeiro de 1789, e a Tenente-do-mar no mesmo ano, a 17 de dezembro, exercendo já as funções de lente de aritmética da Academia.
Com a crescente redução da autoridade dentro da Academia Real dos Guardas-Marinhas, no ano de 1800 Dantas Pereira toma a iniciativa de se propor como Comandante da Academia, em virtude da sua experiência no seio da mesma. D. Rodrigo de Sousa Coutinho atendeu ao pedido, nomeando Dantas Pereira a 21 de junho de 1800. Durante o seu comando, a Academia conheceu diferentes reformas, com o intuito de melhorar e atualizar o ensino neste, tendo Dantas Pereira pautado o seu desempenho pela constante iniciativa e entusiasmo na gestão da mesma.
Face às invasões napoleónicas de 1807, a Família Real tomou a decisão de se transferir para a colónia ultramarina do Brasil, pelo que a Companhia dos Guardas-marinhas a acompanhou comandada pelo então Capitão-de-mar-e-guerra Dantas Pereira. Aqui novamente, deu provas da sua dedicação pela instituição, embarcando com sucesso a Companhia, os seus lentes, e respetivo material didático, e instalando-a no Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro. Embarcou ainda para o Brasil a valiosa documentação da Sociedade Real Marítima, instituição que cofundara em 1796, e que desde então viria a contribuir ativamente com os seus trabalhos.
Durante a permanência no Rio de Janeiro, Dantas Pereira reagiu proactivamente à alteração de ambiente, focando-se em propor diversas sugestões para a melhoria do ensino da Academia no Brasil, como por exemplo a inclusão a unificação do ensino das diferentes academias, e a criação de uma sociedade naval, para a partilha do conhecimento entre os oficiais da armada.
Foi promovido a Chefe-de-esquadra efetivo a 13 de maio de 1819, e nomeado Conselheiro do Almirantado. A nomeação motivou o seu regresso para Portugal, tendo desembarcado em Lisboa em 1820, nas vésperas da Revolução Liberal. Absolutista convicto, confrontou-se por várias vezes com as novas ideias liberais que começaram a surgir em Portugal, tendo, no entanto, servido como Conselheiro do Estado durante o período Constitucional de 1821 a 1823. Sempre fiel às suas convicções, continuou a expressar, e a expor as suas opiniões políticas, assinando diversos textos com pseudónimos, e distribuindo-os gratuitamente pela Assembleia e pelos seus contemporâneos.
No âmbito académico foi nomeado Secretário da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1823, instituição à qual já contribuíra com trabalhos e apresentações desde o seu tempo de discípulo; e em 1827 foi nomeado membro da Sociedade Filosófica de Filadélfia.
Após esta fase, Dantas Pereira viria a ser marcado por um dos eventos mais trágicos da História de Portugal, a Guerra Civil. Esta guerra foi travada entre liberais constitucionalistas, liderados por D. Pedro IV, e os monárquicos absolutistas, apoiantes de D. Miguel, no período de 1832 a 1834, tendo terminado com a vitória dos liberais, com a assinatura da Convenção de Évora Monte. Ora, Dantas Pereira, um miguelista assumido, viu-se afetado com este desfecho, e à semelhança dos outros seguidores de D. Miguel, foi afastado de Portugal. Foi demitido por decreto de julho de 1834, e emigrou para França.
Faleceu a 23 de outubro de 1836, exilado em Montpellier, acompanhado pelo seu primogénito, Vitorino João Carlos Dantas Pereira.
Produziu uma extensa bibliografia, tendo escrito sobre um vasto conjunto de assuntos, desde aqueles relacionados com a Marinha, até a assuntos mais fora do seu contexto profissional, como a religião, e agricultura. Dos seus trabalhos destacam-se os relativos à Matemática, Navegação, Legislação Naval, e Políticas Navais.
Dantas Pereira é recordado como umas das figuras proeminentes da História Marítima Portuguesa, tanto pela sua influência no ensino da náutica, bem como pelo conhecimento que introduziu em solo nacional, consagrando-o assim como um dos mais distintos oficiais que serviu a Armada.
Autor da biografia:
Tiago Manuel de Almeida