Page 157 - Revista da Armada
P. 157
angustiante e patética que não está uso. Ninguém ignora que a tradição
na árvore bem entendido, mas que nos tem emprestado às cores valores
leva a imaginá-la no nosso íntimo subjectivos, traduzidos por estados
quando a contemplamos. Têm este de alma. O azul é a cor do amor e o
carácter algumas pinturas de Van vermelho a da paixão; o amarelo tra-
Gogh onde há céus convulsivos e duz o ciúme e o branco a inocência.
montes em que se sente o dinamismo A cor, em vez de reflectir os aspectos
de uma agitação interior e árvores da realidade, como nos «impressio-
que são autênticos gritos na solidão nistas», tornou-se simbólica. Sur-
das searas revolvidas por misterioso gem então as caras esverdeadas ou
vento que lhes põe o mar de espigas violeta e os cavalos azuis, vermelhos,
num desalinho que era irmão do caos ou de outras cores. Daqui resultou
em que a sua alma se debatia. Por tomar-se o expressionismo uma
isso mesmo, muitos críticos conside- arte altamente subjectiva. Gauguin
ram Van Gogh, tal como Gauguin e introduziu nela um certo culto da
até mesmo Goya precursores do fealdade e a libertação de peias como
expressionismo. Gauguin, por exem- a perspectiva que já não é necessária
plo, foi o mentor do «simbolismo» de numa pintura que não tem a realidade
que os expressionistas fariam largo visível como objectivo. A cor aparece
Natureza-morta com arenques de SOU TINE - 1916
11