Page 231 - Revista da Armada
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A situação agora vigente foi saudada pelo dr.
Manfred Woines, democrata cristão, ministro da
Defesa, como sendo «o primeiro passo para a res-
tauração da disciplina militar na Alemanha Oci-
dental» .
De facto, vinha-se verificando por parte dos mili-
tares cabeludos um total esquecimento dos mais
elementares preceitos de h ig iene e elegância, o que
teve como efeito, em virtude de não ser possível
a livre circu lação do ar dentro dos capacetes, o
aparecimento de diversas moléstias e infecções,
de maior ou menor gravidade, até então desconhe-
cidas.
Entre nós, durante muitos anos, tanto os militares
de terra como os do mar, usavam os cabelos bas-
tante compridos. Esta prática veio a terminar, para
os últimos', no tempo de O, Maria II, que a proibiu
para corresponder a um apelo do director do hos-
pital da Marinha que se queixava que «devido aos
óleos e pomadas que as praças punham nos cabelos,
lhe estragavam os travesse iras das camas».
Quanto às barbas, não vai longe o tempo ém que só
eram autorizadas, e passageiramente, àqueles que
regressavam de longa comissão de serviço no
Ultramar, costume que, ju Igamos, tinha sido esta-
belecido há muito tempo já.
~~~t~~~~ e, assim, desde as «barbasà Gu ise » até às chamadas
Hoje, o seu uso conquistou o beneplácito superior,
«barbas à porta-machado» e às «peras à Bernar-
dino Machado», passando pelas «patilhas à zé-pqvi-
~ ~~~~\o~ nho » e «à pegador de touros» , tudo os nossos maru-
jos e oficiais adoptaram com mais ou menos pro-
priedade, sendo a Armada o ún ico dos três ramos
das Forças Armadas que, deste modo, se mantém
De acordo com as notícias recentemente publicadas à la page.
na imprensa diária, por determ inação do rn in istro E, agora, o verdadeiro motivo destas mal alinhavadas
da Defesa emanada de Bona, aos 450 000 elementos letras à guisa de intróito: uma história autêntica de
das Forças Armadas da Alemanha Ocidental foi que fomos testemunha involuntária.
cancelada a autorização, anteriormente concedida Há pouco mais de dois anos, alojado na Messe de
por Herr Schmidt, ministro da mesma pasta, para po- Ofierais do Alfeite, habitávamos um quarto do rés-
derem usar os cabeloê compridos. do-chão no ângulo esquerdo do edifício. Agosto
Em face das instruções agora publicadas, motivadas, quente, depois de almoço, tarde de sábado pro-
segundo se afirma, por motivos de higiene e efi- pício ao descanso, dormitávamos ~om a janela
ciência, não deve o cabelo tocar a gola dos unifor- aberta e a persiana desc ida, ouvindo 'o eh ilrear dos
mes ou das camisas dos mesmos, devendo apresen- passarinhos nas árvores do palácio, abrigando-se
tar-se de modo a não impedir o uso do capacete do sol intenso que nos abrasava .
ou dE:) outro,s resguardos para a cabeça. Do lado de, fora , dois pedreiros picavam a parede
, A anterior determinação de Herr Schmidt, permi- do edifício, que estava a ser beneficiado. A certa
tindo aos recrutados das Forças Armadas o uso altura, um deles pára o trabalho e chama a atenção
de cabelos compridos, desencadeou na Alemanha do outro para um jovem cabeludo que saía pela
uma verdadeira campanha crítica, mais ou menos porta principal da messe: «É pá, olha para aquela
mordaz, a tal ponto que deu origem a nova deter- gadelha, não há direito, parece um beatle.»
minação, esta obrigando os cabeludos ao uso de O outro continuou a martelar, e mostrando ser do-
rede no cabelo, para deste modo os acamar e tado de uma compreensão mais «elástica» respon-
tornar menos revoltos. deu-lhe paternalmente:« De ixa-te d isso, homem ... olha
Nessa altura, com muita graça e propriepade, os que o Marquês de Pombal usava caracóis e foi
militares alemães passaram a ser 'alcunhados de "um gajo porreiro";»
«German Hair Force». M. Sousa
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