Page 429 - Revista da Armada
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o Instituto de Socorros a Náufragos





             Existe no Cais do  Sodré, em Lis-
          boa, um edifício j á antigo, como anti-
          ga também éa sua missão.
             Numa  das suas portas  lobriga-se
          sem  dificuldade uma pequena chapa
          metálica  onde  está  gravado  o  seu
          nome ...  nome esse que nos fala bem
          fundo ao coração e que, só por si, de-
          fine  sem  mais adjectivos  toda  a  sua
          grandeza:  Instituto  de  Socorros  a
          Náufragos.
             Conta-nos o passado que esta ins-
          tituição foi fundada pela saudosa rai-
          nha O. Amélia (e bem haja), motiva-
          da pela infinidade de vidas que se per-
          diam  no  mar,  transe  doloroso  que
          não passou despercebido ao seu bon-
          doso coração de senhora e rainha de
          Portugal.
             As  suas  portas,  quase  sempre
          semi-cerradas.  abrem-se  com  fre-
                                             Pa/rdo Lopt!s-Joaquim Lopts.      Cego do Maio-Josi Rodriguts Maio.
          quência para dar passagem a pessoas
          que ali  vão receber consolação:  viú-  Mais tarde, surge  com  o  mesmo   N.  R. - Cego do Maio,  nome por que tra
          va:.. t1rfflos. part.!lllt.!s.lorl urado:. pda   fim altruísta (a missão de salvar) um   conhecido o po~eiro / osl Rodriguu Maio, nas·
                                                                               cido a 8·10·1817 e falecido a 13·/1·1884.  Devi.
          dor amarga de terem perdido os seus   navio  de  silhueta  esquisita,  mas  de
                                                                               do d sua acçdo no mar, este pucador que /amos
          entes mais queridos que o indomável   alma  forte, pertença  da nossa Mari-  fIIfufragos  arrallcou tis ondas foi condecorado
          mar não poupou e que vão em busca   nha de G uerra e pela sua gente tripu-  por D. Luú I com a To"e t  Espoda,  do Valor,
          de conforto moral que os ajude a sua-  lada.                         Út2ldlldeeMlri/o.
                                                                                  - Pa/rdo  Lopt!s,  lIome por que Joaquim
          vizar  a  mágoa  existente  no  lar  des-  O nome do velho lobo-do-mar, de   Lopuficou na his/6ria. Na/ural de Olhdo, onde
          feito.                            Paço d' Arcos, fora dado a essa navio,   lIasCtu a Ij-IO-I798; faleceu a 22·12·1890.  Dú·
             Do piIS:'<ldo.  t:llnhl.'m no:. l:hl:garn   que havia de consumar a obra por ele   /illguiu·se  tm rocorrtr náufragos lia  barra  do
          os nomes de dois homens que, dedi-  iniciada. Foram  muitas centenas (ou   Ttjo como pa/rdo de uma fallUl dt slllvamtnlos,
          cando-se de corpo e alma a esta obra   talvez milhares) as vezes que deman-  de qUt se dutacarum os dtu /ripulaç6ts das ts·
                                                                               cuntu  inglesas  «Howard  Primrost»  (1856)  t
          cheia de nobreza, várias vezes enfre-  dou a barra de Lisboa em prol do se-  _Bri/ish  Quttn" (1859).  Era possuidor dt nu·
          taram a  morte para  salvar a vida do   melhante. A sua acção constante foi-  merosas condecQroç6ts lIaciollais  e  tstrangti.
          seu semelhante: Patrão Lopes e Cego   -lhe  um  dia  fata l,  pois chegou  tam-  ras, tnlre as quais a da Torrt t  Espada, do Va·
          do Maio.                          bém a sua hora. Acabou perto de Ca-  lor, Ltaldark e Mlri/o, Foi·lhe tamblm COIICt.
             As acções do primeiro, desenvol-  xias. A sua tripulação chorou-o. Mui-  didu  a  po/tn/t  de  2.··/tntnlt  da  Armada,
                                                                               AqlUlndo do stU funeral,  o rti D. Carlos IZ.UO·
          vidas em Paço d'Arcos, e do segundo,   tos deles tinham-lhe dado grande par-
                                                                               dou·se d manlftstaç(io fÚlltbrt ordenalldo que
          na Póvoa de Varzim, são verdadeiros   Ieda sua vida.                 o lafe _AmIUa_ uguisst a aquadrilha de vapo-
          monumentos ao heroísmo e abnega-     Foram baldados lodos os esforços   us que acompIJflhou o cadáver tU)  Arsenal da
                                                                               Marillha.
          ção e traduzem-se no elevado núme-  para salvar o  navio, que tanta gente   O  nome deste  bravo por/ugub foi dado  a
          ro de pessoas que a estes bravos fica-  salvou ...                   um navio que fez parte do quadro dos navios da
          ram devendo a vida.                  (Escrito na cidade da Beira, Mo-  nossa Marinha de Guerra, t ao qual I'sfava a/ri.
             A  morte  surpreendeu-os  já  ve-  çambique, em 1950).            bufda a tartfa de salvardo dI' náufragos, ftndo
          lhos, mas ainda dedicando a sua va-                                  dtstmfHnhado acrdo cotlS/anlt e meritó,ia a/I
                                                             Alberto Mourão,   acabar,  elt próprio,  vflima de rlQufrágio patO
          lentia à causa que tanto sublimaram.                    u·I.~·mIlr.A   deCtUias (ver ~RA_ II.· fOI/Fel'. delJ()).
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