Page 125 - Revista da Armada
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Henrique Maufroy de Seixas






           -Grande amigo da Marinha






                assa no próximo ano o centenário do nascimento
                de Henrique Maufroy de Seixas, que nasceu em
           PLisboa no dia 15 de Abril de 1887.
              Desde muito novo foi  desportista náutico e possuiu
           vários iates, tendo tomado parte em muitas regatas. Pre-
           tendeu seguir a carreira de oficial de Marinha mas a famí-
           lia dissuadiu-Q desse desejo. Contudo, o amor pelas coi-
           sas do mar foi uma constante da sua vida.
              No seu iate a vapor .. Ida» e na chalupa .. Vivandiere»
           percorreu  muitas  vazes  a costa de  Portugal  e acostu-
           mou-se a seguir a faina dos pescadores.
              Proprietário de um palacete em Cascais, mesmo jun-
           to à bafa, podia observar das janelas as evoluções dos
          barcos de recreio e a entrada e saída dos navios do porto
           deUsboa.
             Possuidor de grande fortuna e sem filhos, cedo lhe
          nasceu a ideia de perpetuar em modelos os diferentes ti-
           pos de navios, quer de vela, quer a motor, mercantes e
          de guerra.
             Para os construir apetrechou uma oficina com as fer-
          ramentas apropriadas na sua garagem da Rua do Faial,
          em  Lisboa.  Nela  trabalharam  durante  muitos  anos  os
          seus dedicados modeladores que produziram centenas
          de modelos. Para o esludo das formas dos barcos ser-
          viam-se de lodos os elementos disponlveis e procura-
          vam traçar com rigor os seus planos geométricos(*).
             Henrique Maufroy de Seixas arquivava todas as falo-  Httnriqu6 M8ufroydfJ SeIx8S.
          grafias sobre assuntos de marinha que conseguia obter
          dos seus amigos, muitos dos quais oficiais de Marinha,   Portugal. Entre os navios reproduzidos figuram também
          e mandava os seus colaboradores a diferentes pontos do   a fragata .. O. Fernando II e Glória- e antigas canhoneiras
          pais para recolherem elementos para a reprodução dos   e corvetas. Todavia, nunca se abalançou a mandar m(l-
          modelos.                                            delar navios do tempo dos descobrimentos, porque sen-
             Nenhum era feilo sem que fossem obtidos lodos os   do um coleccionador probo, sabia que só por suposição
          dados para a sua reprodução exacta, recorrendo-se para   se podiam reproduzir, por faltarem elementos para o seu
          isso a todos os informes que se conseguia obter.    traçado rigoroso.
             Henrique Maufroy de Seixas foi assim juntando pou-  No seu  museu,.que ocupava os andares superiores
          co a pouco, desde 1915 e ao longo de mais de 30 anos,   da sua residência na Rua D. Estefânia, em Lisboa, figu-
          uma preciosa colecção.  Acompanhava com grande en-  ravam também modelos de navios mercantes, de embar-
          tusiasmo a construção dos modelos e passava horas na   cações de pesca e de recreio, de torpedos, minas, arti-
          oficina a observar o trabalho dos modeladores.      lharia naval e arte de marinheiro, vapores da carreira de
             Outros foram adquiridos a modeladores particulares   Usboa para Cacilhas, etc. Possula também muitos qua-
          que, sabedores da paixão de Henrique Maufroy de Sei-  dros a .óleo, aguarelas e desenhos de assuntos navais.
          xas, se lhe dirigiam de vários pontos do pais.      Além disso, deve citar-se a colecção de fotografias que
             Conseguiu  assim  reunir uma  colecção  de  mais  de   englobava mais de 2000, cujas legendas foram escritas
          200 modelos, alguns deles notáveis pelas suas dimen-  após porfiadas pesquisas e constituem um valioso arqui-
          sões, como, por exemplo, o da fragata .. Ulisses .. que fez   vo para o estudo dos nossos navios e do antigo Arsenal
          parte da esquadra que transportou a famlJia real para o   da Marinha (agora em poder do Museu de Marinha).
          Brasil,  em  1807, quando as  Iropas de Junot invadiram   A mais preciosa sala da sua colecção era a das ga-
                                                              laotas reais. Nela estava  o modelo do  bergantim  real,
                                                              construído com o maior rigor e riqueza de execução das
             (') Sobre B construçAo dos modelos veja-58 a .. Hist6ria da CoIec-
          çIo Sebtas~, por LuIs António Marqutts, nos .. Anais do CIubtt Mifitar   suas miniaturas em talha. As lanternas minúsculas deste
          Naval. númerodttJan.lMar. 1970.                     modelo foram cinzeladas a ouro. A galeota grande, a ga-

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