Page 79 - Revista da Armada
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cio!!! E eu, como nem sequer posso vera Senhora da Luz, Csnçso do EnjOlldo
vou-me deitar.
Chegai-vos ao pé de mim
No dia 26 de Julho de 1874, ao largar de Lisboa, a bor-
E ouvi a triste história
do da corveta .. Sá da Bandeira~, para uma longa comissão
Que deve ficar gravada
de serviço no ultramar, regista: Adeus Lisboa, sabe Deus Para sempre na memória.
até quando! Oxald te não veja ames de três anos e que de-
pois deles passados tu me vejas a mim gordo a anafado,
Eu nasci em Trás-as-Montes
como lamas oulros que vão e valiam d'África fazendo uma
Vim um dia até ao Porto,
figa tis febres e aos prelos.
Vi afarda da Marinha,
E já em viagem, continua: Ontem passámos à vista da
Para logo fiquei morto.
ilha da Palma. Grassam a bordo, desenvolvendo-se cada
vez mais, as moléstias epidémicas próprias destas navega- Gostei daquela farpela
ções - delirilU71 metereologicmn, monomania observa-
Encanlaram-me os botões,
torum ...
E vi que quem a vestia
Fundeado em Luanda: A Estação estd morta. Os seus
Conquistava os corações.
navios são condenados um após outro e o comandante
quando se levanta pode, do alio da ponte, comemplar a sua Caí também na tolice
esquadra podre! ( ... ).
Requeri, assentei praça,
Em Moçâmedes: Isto é um paraíso comparado com
Nunca eu fizesse tal,
Luanda. Passeios às hortas, legumes frescos, bom peixe
Foi essa a minha desgraça.
(. .. ). Que bademas! A respeito de mulheres, nem raça!
Apesar dos oficiais da "StJ da Bandeira ... serem as pessoas
Sofri tormentos sem fim
mais inofensivas deste mundo em matéria de conquistas,
Para passar nos exames.
se exceptuarmos X, o conquistador universal, elas conti- Nem eu quero atormentar-vos
mIam a eclipsar-se, deixando apenas que nós gozemos da
Contando-vos tais vexames.
interessante companhia dos maridos e, de vez em quando,
da dos meninos. Estou convencido que este eclipse é dev;- Embarqllei, sai a barra
do a serem excessivamente patriarcais os costumes desta
Contente da minha vida,
terra e, nas horas de repouso, louvo o Eterno pelo prazer
Mal sabendo o que me esperava
que me hd-de proporcionar quando, chegado a Portugal,
Nesse dia da partida.
estiver com uma pessoa de sexo difereme do meu! ( ... ).
Quando estdvamos para sair de Moçâmedes, veio or-
Quando o maldito navio
dem da majestadezinha para que as tropas marchassem Começou a afocinhar,
para o inferior e a guarnição da cidade fosse feita por gente
Senti logo no estõmago
da corveta.
Dores terr{veis, de matar.
Esta ordem foi motivada por se terem gerado distúr-
bios no interior, entre as populações indígenas e as autori-
Era o almoço, era a ceia,
dades locais. Sabendo disso, já O nosso desconhecido
Era o jantar e a merenda,
guarda-marinha escrevera: Salmos hoje de Luanda com
Tudo enfim aos trambolhões
destino a MoçtJmedes, onde corremos a salvar a Pátria. As
Dentro de mim, oh coisa horrenda!
toninhas espantadas vieram à bala para nos ver a navegar.
Na viagem de regresso a Lisboa, a bordo do transporte Quis-me fazer valentão
.. índia», completados os três anos de tirocínio, numa fo-
Masfoi trabalho baldado,
lha cheia de cálculos náuticos, e no meio deles um dese-
Porque dentro d'uma hora
nho da ilha de Santiago, diz: Omem morreram dois ho-
Tinha tudo vomitado.
mens a bordo - o Tedinho e um grumete. Foram lançados
ao mar hoje tis I J.OO horas com as formalidades do estilo. E depois quanto comia
O Tedinho não quis ir logo para o fundo ...
Tudo deitava ao mar
Em 10 de Julho, véspera da entrada em Lisboa:
Não pelo sítio sabido
Entusiasmo espantoso. Muitos navios à vista. Morreu Mas sim por o de falar.
mais um. É o sexto na viagem!
E a propósito. este verso dedicado ao médico de
E cá vou nesta canseira
oordo:
Ai! sem nada me valer,
Condenado a morrer de fome
Bem podes ó doutor, doutra ciência
Ou lançar o que comer.
buscar os fundamentos com estudo
pois nesta, com tal falta de cadência
Chegai-vos ao pé de mim
se continuas assim morre-te tudo.
E ouvi a Iriste história,
Que deve ficar gravada
Com a versalhada que se segue, suponho que da sua
autoria, termino o .. ressuscilar~ deste camarada do século Para sempre na memória.
passado que, em todo o caderno, nem uma única vez men- M. doVale.
ciona o seu nome! elQ/m.
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