Page 103 - Revista da Armada
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As maiores riquezas
slOu convencido que grande parle dos marinhei-
E terra , nacionais e estrangeiros. e alguns quadros, todo,
relativos ao mar. Logo à entrada, num recanto da parede.
ros(') têm em suas casas um recanto exclusiva-
um farol de navegação de EB (vidro verde) que pertenceu
mente seu, que não partilham com ninguém, e é
respeitado por lodos quantos nela vivem. Na sala de es- a um navio de vela antigo, um faro l de estai e dois invólu-
tar, numa marquise ou no escritório, quando existe, uma cros de munições das peças de 120mm, que então equipa-
secretária ou mesa com gavetas, uma ou mais estantes vam os nossos navios dos anos 30/40, a servir de recipien-
para livros c muitas coisas penduradas nas paredes, e cis tes para guarda-chuvas.
o seu mundo, o seu museu, o seu retiro da saudade. Quan-
tas recordações ...
Fui dar com um velho almirante no seu, uma pequena
marquise, contígua à sala de estar. Paredes cheias de ga- Toda a gente sabe que os velhos, quando falam de
lhardeIes e de fotografias de navios, aviões, etc., algumas tempos idos, nunca mais se calam. E o nosso almirante
de apreciável valor artístico. Num armário-bar, um mo- confirmou-o. Confortavelmente sentados, eu e ele, co-
delo de submarino, em ferro, miniaturas de guiões de uni- meçou a desnaro rosário ...
dades que estiveram na guerra da Guiné - da Marinha, «Aquele submarino que ali vê, foi feito por um mari-
do Exército e da Força Aérea-, um globo terrestre, mui- nheiro-fogueira, de rara habilidade e sensibilidade artísti-
tas medalhas comemorativas, uma garrafa vazia com um ca, para me oferecer, depois de ter feito dois anos embar-
navio à vela dentro, alguns cachimbos, uma bandeira na- cado num navio-patrulha que comandei.
cional em miniatura, de seda e artisticamente bordada a «Aquela jarra de loiça chinesa, esta cigarreira de pra-
ouro, etc., etc. ta, com a minha assinatura, e aquele retrato a cores, meu,
Numa moldura de madeira, com fundo de veludo ver- quando era guarda-marinha, foram-me oferecidos, res-
de, pendurada numa das paredes, as condecorações com pectivamente pelos sargentos da guarnição de um navio
que foi agraciado ao longo da sua carreira. A um canto, que estava em comissão no Extremo Oriente, do qual eu
um delicado e fino conjunto de pequenas prateleiras com fora imediato anteriormente, pela guarnição de outro na-
bibelõs de origem chinesa. Sobre uma mesa redonda com vio, numa comissão aos Açores, e pela guarnição de uma
dois tampos: no de baixo, um busto de mulher malaia, canhoneira da fiscalização da pesca, da qual fui imediato
vinda das Filipinas; no de cima, uma maravilhosa estatue- e o primeiro navio em que embarquei, como oficial.
ta, representando uma bailarina da ilha de Bali, na Indo- ",A fita do boné de marinheiro, do couraçado «Grar
nésia, esta trazida de Timor. No parapeito inte rior das ja- Spee», que envolve o abajur daquele candeeiro, foi-!1le
'nelas, duas cabeças de negros: uma de Angola e outra da oferecida por um guarda-marinha daquele navio, no Fun-
Guiné. Sobre uma cómoda , estilo Napoleão, um candeei- chal, fazendo eu parte da guarnição de um .aviso nosso,
ro oriental tendo no abajur uma fi ta de boné de marinhei- quando. casualmente, ali nos encontrámos. Curiosamen-
ro do couraçado alemão «Graf Spee», um jacaré de mar- te , esse guarda-marinha orgulhava-se de ser tetrancto do
fim , feito na Guiné. e uma fotografia do almirante quan- imortal compositor austríaco Franz Schubert. tendo o
do era primeiro-tenente, tirada a bordo, com uniforme de mesmo apelido. Por um seu camarada. que conheci na
trabalho (que diferença de então para agora!). mesma ocasião, vim a saber mais tarde, por carta que me
Numa pequena estante de livros - quase todos de as- escreveu, que tinha morrido em combate, a bordo de um
suntos navais- uma jarra de porcelana chinesa, vários submarino, durante a II Guerra Mundial.
cachimbos e alguns bibelôs vindos de terras distantes por «O farol de navegação de estibordo (luz verde) que
ondeo almirante andou. viu à entrada do corredor, comprei-o num sucateiro e ti-
Noutra mesa oval, ao centro do compartimento, uma nha pertencido a uma das últimas fragatas à vela da nossa
planta natural decorativa e álbuns de fotografias, muitos, Armada. Eos creJls de navios e unidades de lerra, ali pen-
conservados com amor desde os tempos de aspirante até durados. foram dados pelos respectivos comandantes,
ao presente. unsem Portugal e outros no estrangeiro.
Marquise pequena, não podendo meter ali ludo o que Quanto às armas, essas foram-me oferecidas pelos fu-
queria, algumas coisas transvazaram para o corredor e zileiros. com a devida autorização, na Guiné, durante a
para o salão. Neste, o modelo de uma fragata do século guerra da independência, apreendidas aos guerrilheiros.
XVIII . linda, com todo o pano em cima, e alguns bibelôs São todas de fabrico de países do Leste e uma delas foi
mais. No corredor, armas de guerra apreendidas aos tirada a um oficial morto em combate.
guerrilheiros da Guiné, creJlS de navios e de unidades em «Depois, foram as fotografias -das paredes e dos ál-
buns-, umas tiradas a bordo, outras feitas em terra , al-
gumas de gnlnde beleza ... O lhe para aquela, de uma lan-
cha de fi scalização a navegar num rio da Guiné. Parece
(0) CO/lh~r;o casos COlrcrf'IOS ~m lodos os graus da 1ti~rarqrlia da Ar-
mada - desde gfllmcle a Illmirllrrle - . algul1s v~rdlldeiram el1l~ elllem~ce que vai sobre um espelho! Vê-se tão bem o navio propria-
dous. Nesta R~ visra ,'ár;os ! orllm já s(lIi~l1l1ldos e Oll/ros. qu~ ~'el1lram (lO mente dito como a sua imagem na água. E com as árvores
/lasso collhedmelllO. sI-Ia-do /ambim. da margem sucede o mesmo. Nos hidroaviôes que vê ali,
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