Page 61 - Revista da Armada
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Terminadaesta e já com toda a ar-  duas naus e OS  paraus que tinham to-  tegrou  na  armada  de  Lopo  Soares.
         mada  reunida de  novo em  Cochim,   mado. bem como outras três naus que   carregou como ela e fez em sua com-
         foi  Lopo Soares avisado  pelo  rei  de   estavam no porto.  Feito isto, regres-  panhia a torna-viagem.
         que  em  Cranganor se  encontravam   saram  a  Cochim.  A  respeito  deste   Para defesa de Cochim  e das ou-
         cinco mlUS e oitenta paraus de Calicu-  combate, o cronista não faz qualquer   tras fei torias ficaram na índia somen-
         te  preparando-se  para  recomeçar  a   referência fi  caravela, o que nos leva   te a mesma nau, as mesmas duas cara-
         guerra logo que regressasse a  Portu-  a supor que ela tenha ficado retida no   velas e os mesmos dois batéis que tão
         gal.  Reunido o conselho de capitães,   local onde a pouca altura de água não   boa contu de si haviam dado na guer-
         foram  todos de opinião de que para   dava passagem aos batéis carregados.   ra anterior.
         segurança do reino de Cochim se im-   Em  Cochim.  recebeu  Lopo Soa-   Foi  pois  com  uma  armada  de
         punha destruir aqueles navios.     res  um  embaixador do rei  de Tanor   quinze  naus  que  Lopo  Soares,  con-
            Com essa fin alidade foi organiza-  com o pedido deste rei para se tornar   d uida a carga da  pimentu, largou de
         da  um;1  expedição fluvi .. 1 constituída   vassalo  do  rei  de  Portugal.  Andava   Cochim  com destino  li Côlnanor.  Em
         por uma caravela. quinze batéis e vin-  cm guerra com o Samorim, tinha-lhe   sua companhia iam ainda, navegando
         te e cinco paraus. todos bem artilha-  innigido uma grande derrota quando   mais perto da costa como explorado-
         dose empavesados. em que iam cerca   ia  com o seu exército em  socorro de   res,  as  duas  caravelas  destinadas  a
         de  mil  portugueses  e  outros  tantos   Cranganore, agora. solicitava a Lopo   permanecer na índia.
         malab  .. res.                     Soares que o ajudasse,               Entretanto.  em  Calicute,  o  am-
            Largando  ainda de  noile  de  Co-  Anuiu  este,  enviando  a  Tanor   biente era  de  desolação.  Em conse-
         chim. seguiu a armada pelos esteiros   uma c:.ravela com cem soldados que,   quência das sucessivas derrotas sofri-
         e rios que ligam esta cidade a Cranga-  incorporados no exército do rei o aju-  das  pelo  exército  e  pela  armada  do
         nor  mas,  próximo  de  Paliporto,  foi   daram a desbaratar O exército de Ca-  Samorim,  os  reis  seus  vassalos  ti-
         detida pela pouca altura de água que   licute.  E  constou  que  esta  derrota   nham-lhe perdido o medo e começa-
         não  dava  passagem  aos batéis e  pa-  ainda fora mais sentida pelo Sam.orim   vam·se a rebelar; os navios evitavam
         raus  quando  carregados.  Tiveram,   do  que  as  que  sofrera  às  mãos  de   freq uentar os seus portos; os comer-
         por isso,  os soldados que desembar-  DU:lrte Pacheco. por lhe ler sido inni-  ciantes «mouros» transferiam-se para
         car c seguir por terra , 'Só  IOrnando a   gidôl por um vassalo seu!   outras cidades; a população em geral.
         embarcar à chegada ao rio deCranga-                                  cada  vez  mais  empobrecida  pela
         nc;n. Mas, com as delongas que daí re-  PANOARANE                    guerra,  começava  também  a  deban-
         sultaram,  perdeu-se o  efeito de sur-  (Outono de  15(4)            dar.
         presa.                                                                  Na  altura  em  que  a  armada  de
            Diante da cidade  de  Cranganor,   No fim do Outono de 1504, acha-  Lopo Soares de Albergaria passou ao
         encontravam-se fundeadas e amarra-  vam-se concentradas em Cochim de-  largo de Calicule encontravam-se no
         das uma à oUlra. duas grandes naus,   zasseis  nuus  portuguesas:  catorze   porto de Pandarane, situado um pou-
         bem artilhadas e com muita gente de   pertencentes fi  armada de Lopo Soa-  co  a  sul  da  cidade,  na  embocadura
         armas que o capitão-mar do mar de   res de Albergaria , três pertencentes à   dum  rio, dezassete grandes «naul> de
         Calicute comandava em pessoa.  Nos   esquadra de António de Saldanha e   Meca .. nas quais os comerciantes ára-
         flancos  e  à  retaguarda  delas  havia   uma que era a que ali tinha permane-  bes mais ricos estavam carregando os
         grande número de paraus.           cido durante a segunda guerra contra   seus haveres na intenção de regressar
            Quando  os  nossos  batéis  chega-  oSamorim.                     à pátria, depois de  terem  perdido  a
         ram ao alcance de  tiro começaram a   Seria de esperar que António de   esperança de impedir os Portugueses
         bombardear  as  naus,  travando  com   Saldanha,  logo que  recompôs  a  sua   de se fixarem na India .
         elas um vivo duelo de artilharia. Pou-  esquadra  se  tivesse  dirigido  para  as   Para  se  prevenirem  contra  um
         co  depois,  cinco  dos  batéis  aborda-  proximidades do cabo Guardafui de   eventual  ataque  destes.  estavam  as
         ram afoitamente as naus e, após um   acordo com o regimento que lhe fora   referidas naus amarradas umas às ou-
         rijo  combate  em  que os  homens de   dado em Lisboa. Mas não O fez,  pro-  tras, com as popas em lerra, e tinham
         Calicute  se  bateram  valentemente,   vavelmente  por  duas  razões:  a  pri-  .1  bordo muita gente de armas, parle
         tomaram-nas.  Enquanto isto uconte-  meira é que, em consequência da ex-  dela naires de Calicute  e outra parte
         cia,  os  outros  batéis  abordavam  os   periência  adquirida  no  cruzeiro  do   turcos, sobretudo frecheiros, que fa-
         paraus que foram  também tomados,   ano anterior,  terá chegado à conclu-  ziam parte das suas guarnições. Além
         um  após outro. sem oferecer grande   são de que não era viável manter uma   disso.  linha  sido  montada.  junto  à
         resistência.                       esquadra  naquela  região sem  dispor   barra. uma bateria de doiscanhõesde
            Concluído o  combate  no  rio, de-  duma base, sobretudo por falta de lu-  grossos calibre.
         sembarcou Lopo Soares com os seus   gllres  seguros  onde  fazer  aguada;  a   Quando deram pela proximidade
         capitães e soldados e, após uma breve   segunda  é  que  havia  abundância  de   da armada de Lopo Soares, os «mou-
         luta, pós cm fuga as tropas de Calicu-  pimenta em Cochim e, por certo, pa-  ros .. , calculando que as nossas naus,
         teque havia em terra.              receu-lhe que servia  melhor os inte-  pelo facto de estarem muito carrega-
            Começaram então os portugueses   resses do Rei  trazendo essa  pimenta   das,  não  teriam  possibilidade  de  se
         a incendiar a cidade mas deixaram de   para Portugal doque indo para a boca   chegar às suas, armaram treze paraus
         o fazer a pedido dos cristãos que nela   do  .. estreito»  dar  caça  às  .. naus  de   e. num gesto de desforço, foram ata-
         viviam . embora grande parte já tives-  Meca ...                     car  as  caravelas  que,  conforme  foi
         se ardido. Limitaram-se a saquear as   Seja como for, o certo é que a es-  dito atrás, navegavam  mais próximo
         casas  dos  .. mouros ..  e  a  queimar  as   quadra de António de SlIldanha se in-  da costa.

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