Page 69 - Revista da Armada
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triunfo  excitava  tudo  e  todos,  acendia  a  imaginação   De resto como viria a acontecer ao próprio Gil, que não
         quanto aos segredos e mistérios que para lá da vencida   ao feito realizado, pois esse perdurará na memória dos
         ponta  desértica  desafiavam  o  homem.  De  qualquer   tempos e dos homens como o ovo, o importante ovo,
         forma a modesta barca acabara de dar a toda a gente   da saga heróica que se seguiria, conducente ao aniqui-
         a  chave  de  novos  caminhos,  caminhos  pelos  quais   lamento do próprio .Adamastor", gigante maior de quan-
         haveriam de seguir muitos homens e muitas mudanças,   tos horrores fechavam aos humanos o conhecimento do
         umas boas e outras más, mas todas elas apontando para   seu próprio mundo. Ainda assim, ao fim e ao cabo, todos
         a grandeza real de um mundo que não se confinava aos   e quaisquer empreendimentos posteriores só se viriam
         horizontes restritos do maF extenso. Pelos novos cami-  a  tornar  possfveis  pela  acção  de  .. A  Barca  do  Gil",
         nhos iria seguir a Fé e a conquista, o conhecimento e   modesta mas determinada, naturalmente substituída por
         a ambição, no fundo a mensagem humana a afirmar a   parentes suas mais fortes e mais ágeis,  as  caravelas,
         multiplicidade dos desfgnios de  Deus.              as quais, com o seu velame latino, se permitiam o luxo
             No  seu  regresso  e  chegada  à  Costa  de  Oiro  e à   de brincar até com os ventos contrários, doando a todos
         operosa Lagos, o Git foi muito felicitado pelo empreen-  os marinheiros, adestrados ou não nos quentes mares
         dimento triunfante, de resto confirmado pelas  plantas   algarvios,  a honra de proporcionarem .. novos mundos
         colhidas, algumas logo ditas de .. rosas de Santa Maria",   ao mundo".  escrevendo também  uma das  mais belas
         enquanto  a  sua  barca  lá  ficava  amarrada  na  ria  de   epopeias da História do Homem:  as Descobertas.
         Lagos, simbiose antiga das águas da ribeira e do ocea-
         no, muda, queda, posta de lado. Como todos os humil-
         des,  afinal  suporte  e  garantia  dos  grandes  eventos   H.R. - 1. · prSmlo dos..Jogos fIot'aIs Lagos eg.., 6V9nlo /lt6f8rio s/uslvo
         humanos,  embora as  batalhas sejam sempre  ganhas   80S Descobrim6nlos.
         pelos generais, .. A Barca do Gil" para ali ficou a aguar-
         dar incertas solicitações, bem depressa esquecida de                                A.  Santos Coentro,
         todos.                                                                                      capAM. SE

               itos em marinharia




               xecutadas em Arte de Marinheiro pela sarg.-mor   via, um acabamento mais perfeito. Prometemos trazer
               M Joaquim Serrano, instrutor de Marinharia do   à  Revista outros dos muitos trabalhos do sarg.-mor.
          E G1EA, credenciado, pais,  para se movimentar     Joaquim Senano, que está apostado em dar à Arte de
         no  ramo,  que é,  como quem diz,  nos  i<cordelinhosn,   Marinheiro,  através de novas  criações,  um  fÔlego  e
         como peixe na água, reproduzimos hoje, como cwio-   uma dimensão que parece ter perdido, cristalizada no
         sidade, uma série de coxins em que é elemento reco-  tempo, confinada às voltas, nós, gachetas e coxins tra-
         nhecível o  algarismo oito.                         dicionais, belos sem dúvida, úteis,  com certeza, mas
             Estes oitos são obtidos por combinação de um nó   susceptíveis, como tudo, de evolução. Cá aguardamos
          de branda! com um n6 de trempe, também chamado     mais Arte de Marinheiro.
          de oito, ou volta de fiador.
             Começando pelo mais simples, o  de cima, temos                                    Sousa  Machado,
                                                                                                       cap.·m . .g.
          um oito nascido da volta de pata, isto é, da volta que
          o sarg.-mor Serrano dá com um fio, quando executa,
          em arte de marinheiro, a pata de uma âncora. Depois,
          os  fios  dobram·se em dois ou em três,  e  aí nasce o
          coxim.
             Duplicando este trabalho como se fora projecção
          simétrica - exclusão feita do fio upassar por cima)) ou
          «P8Bsar por baixaI! - obtém o artista um 88, como cerne
                                                                                  Co~ojtooqJ
          ou miolo do coxim.
             Mas com a mesma volta de pata aumentada, isto
          é, acrescida de mais um gomo, aparece já o coxim do
          888. bem evidenciada, como a  figura  mostra.
             Enfim. aumentando dois gomos. obtemos, isto é,
          obtém quem sabe desta arte, um 8888, em coxim já
          maior e  mais  elaborado.
             O que se toma digno de observação neste conjunto
          são os diferentes efeitos de desenho entre os coxins,
          onde só os oitos nos parecem agrupá·los como primos
                                                                  Coxim palOJ.t 888
          de uma mesma família.  No demais, a  estética é  per-
          feitamente diferenciada.
             Estes trabalhos, que podiam ser feitos  com dois
          fios. são aqui realizados apenas com um, circunstAncia
          que, tomando a execução mais difícil. permite. toda-
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