Page 366 - Revista da Armada
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Marinheiros em Terra                                                           Pelo CMG CortJ1 Califa





           Os «Granadeiros» do Cuanhama (II)



               Ocupava o general Pereira de Eça a sua enérgica    Vejamos, porém, embora sucintamente, como os
           actividade na resolução do grave problema dos trans-  factos  se  passaram,  visto  que  a  sua  narração  não
           portes que, através da serra ela Chela. haviam de levar   consta do  relatÓrio  que  veio  a  público.  do  general
           ao planalto de Moçâmedes o pessoal, o material e os   Pereira de Eça.
           abastecimentos indispensáveis ao desenvolvimento       No dia 5  de Maio  de  1915,  a  1.'  Companhia do
           das operações que projectara, para dominar a rebeliAo   Batalhão  de  Marinha,  comandada  pelo  primeiro-
           dos  indígenas  de  além-Cunene,  quando,  em  29  de   ·tenente Cerqueira, deixava o seu estacionamento do
           Maio de 1915, se deu o primeiro contacto de forças do   Fomo da Cal, e marchava com a 15.' companhia indí·
           seu comando com  o  gentio  revoltado.              gena de Moçambique (tenente Humberto de Ataíde),
              Esse primeiro contacto estabeleceram-no 88 nossas   para a região da Cahama   sugestivamente conhecida
           tropas avançadas que S9 encontravam no Tchicusse,   por IlcemitériO dos brancos».
           sob o comando do primeiro-tenente de Marinha Afon-     Era o arranco das forças do general Pereira de Eça
           so de Cerqueira, e que, 1!8 pedido instante do superior   para o Sul. na direcçAo do Cuanhama.
           da Missão de Tchipelongo, foram  em Bocorro desta,     Chegou  esse  destacamento,  misto  de  ousados
           infligindo uma severa liçllo  80 gentio e  portando-S9   marinheiros brancos e de bravos soldados landins, ao
           com uma valentia que bem mostrou quanto tinha a     Tchicusse, e  logo se começaram os trabalhos para a
           esperar dessas belas tropas que, mais tarde, nos com·   defesa desse posto avançado daquela perigosa regiAo.
           bates da MOngua, tio brilhantemente se houveram».      Dias depois. em 28 de Maio. o superior da Missão
              Assim se refere  sumariamente  no seu relatÓrio,   de Tcrupelongo -Missão francesa do Esplrito Santo-
           sóbrio de palavras, o general-comandante das opera·   vinha a  Tchicusse comunicar ao comandante que ia
           çOes no Sul de Angola. ao combate de Tchipelongo,   retirar a Missão por não poder mantê·la sob as amea·
           em que se bateram dois pelotOes apenas do Batalhão   ças constantes do gentio revoltado. Simultaneamente.
           de Marinha,  outro  da  15.'  companhia indJgena  de   indígenas  submissos.  chegavam  também,  fugidos
           Moçambique, sob o comando do bravo tenente Cer-     daquela região ameaçada, a acolher-se à  protecçAo das
           queira,  que nele foi  ferido, assim como o malogrado   forças  portuguesas.
           tenente de Infantaria Humberto de Ataíde, que coman-   Não hesitou o  comandante Cerqueira em actuar
           dava os landins. Conseguiu essa pequena força por·   conforme a  situação aconselhava, e  o  seu pundonor
           tuguesa  repelir  o  gentio  numeroso  que  cercava  e   de  bravo  marinheiro  imperativamente  lhe  exigia.
           ameaçava a Missão, e proteger a retirada dos missio-   Em. telegrama para o  Quartel-General de Pereira
           nários e dos seus haveres, merecendo bem as referên·   de Eça. comunicou o facto nos seguintes termos: !tEstá
           cias elogiosas que lhe consagrou o  general.        aqui  padre  Missão  Tclúpelongo  que  pede  auxílio.

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