Page 235 - Revista da Armada
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             os últimos cem  anos, foram  raros os  navios e os   ficas, e, em outros três casos, swgiram por circunstâncias
             homens da  Marinha Portuguesa  que consumaram     imprevistas.
       N um  dos  mais  apetecidos sonhos  .ii.  que aspira  um   No grupo de  viagens  de  circum-navegação programa-
       marinheiro: dar a volta ao mundo.                       das,  incluem-se a  viagem  do cruzador "S.  Gabriel" , em
         Até 1975, apesar da administrasão p0r!uguesa se  esten-  1909/11,  e  as  viagens do navio-escola "Sagres" ,  em
       der a territórios dispersos  pela  Amea, Asia e Oceânia, e   1978/79 e em 1983/84.
       ter na Marinha e nos seus navios um dos seus mais fortes   No grupo dessas viagens resultantes de factores aciden-
       sustentáculos, tanto as viagens de ida, para as longitudes   tais,  englobam-se  as  do aviso "João  de  Lisboa ",  em
       extremas dos nossos  interesses, como  as  viagens de   1941142, e as das corvetas "Afol1s0 de  Cerql/eira"  e "João
       regresso a Portugal,  eram  traçadas pela rota  mais curla e   Roby", em 1975/76.
       mais económica.                                          Finalmente, é referida a viagem de instrução feita em 1960
         Recorde-se que, por exemplo, a distância náutica  entre   pelos cadetes do cwso D.  Lourenço de  Almeida, da Escola
        Lisboa  e  Macau é,  respectivamente,  de menos de 9.000   Naval, que embora tivessem  embarcado no aviso "Afonso
       milhas, via canal  do Suez,  de cerca de 12.000  milhas, via   de Albuquerque" entre Lisboa e Goa, via canal do Panamá e
       rota  do  Cabo, e de cerca  de 14.000  milhas, via  canal  do   Paófico, regressaram a Lisboa no aviso "Bartolomeu Dias",
       Panamá.                                                 pelo canal de Suez.
         Nessas condições,  as  circum-navegações dos  nossos   A  apresentação conjunta destas viagens é feita pela pri-
       navios resultaram, em três casos, de programações especí-  meira vez, embora de fonna necessariame.nte sucinta.

        Circum-navegação I                                                                roo.  Durallte a faina  de eart>ào,
                                                                                          ;.>eio  a bordo  (l QjudO/lfl.' do gelle·
       A mais antiga das viagens de                                                       ral, encarregado dr mt COlllllllllli-
       circum-navegação, feitas  por                                                      cor graves  1I0licias  rl.'cebidas  de
       navios de guerra portugueses                                                       Portugal com  respeito á revolu-
       no  último século.  foi  planea-                                                   ção.  DisSt;-mt! que,  no caso de ter
       da por forma a constituir uma                                                      recrio de qualquer suble1lfl{do da
       operação de  prestígio para                                                        guarnição,  poderia  ficar  no  meio
       Portugal.  A Marinha  dispu-                                                       dos  navios da  esquadra america-
       nha então de modernos navi-  Cruzador "5.  G<1brie/~; vj.:t8em de circum-          110.  Respondi-lhe  que  tinha  a
                                   -navegil,Jo em  1909/1 I, 5Obo comando do
       os,  designadamente 5 cruza-  cilpi/jo de frdgdlJ António A. j. Pin/o Basto        maior confia liça  IIOS  meus offi-
       dores ("Adamastor", "Rainha                                                        ciaes  e marinhagem.  Malldei
       D.  Amélia",  "O.  Carlos",  "S.   ciais, 14 aspirantes, 24 pessoas   Kahu e Hilo, nas ilhas Hawai.   iII/mediatamente um  telegramma
       Gabriel" e "S.  Rafael"). que   do tStado menor e 202 praças.   O "S. Gabriel"  fez  então a   pedindo  notícias, ao  qual  lido
       incorporavam as  mais  recen-  O navio seguiu para a costa   maior tirada da  sua  viagem:   recebi resposta.
       tes  tecnologias, como a  pro.   brasileira,  com escalas  em   3.400  milhas até Yokoama.   O navio largou então para
       pulsão a  vapor, a T.S.F.  e a   Porto Santo, Funchal, S.  Vi-  Durante um mês, o na\~o \~si­  Dili, onde chegou no dia 1.t de
       artilharia de 150 mm.       cente, Santiago,  Bahia,  Rio de   tau  portos japoneses, como   Outubro de 1910. Veio a bordo o
         O cruzador "S. Gabriel" era   janeiro e Santos.  Depois esca-  Kobe, onde veio a bordo o COII-  comlllandQllte do vapor  'Dilly',
       11m cm:ndor dI.' aço, protegido por   lou  Monte\~deu, Buenos Aires   sul dI.'  PortugQI, CIlpitão dI.' fraga-  primeiro  /mm/e Montalvão,
       lIyma  coberta couraçada de  35   e Punta  Arenas.  No dia 25  de   ta  Wellceslal/  de  Moraes,  !to-  tendo  sido  solicitado  pelo
       mm, com  1850 toue/adlls de dtsltr   Fevereiro iniciou  a passagem   zaki, Kure,  Etajima, Miyajima,   governador IJ  ida do cruzndor Q
       CQmento e fôra construído em   do estreito de Magalhães e no   Moii  e Nagasaki.  Depois foi  o   Porl Dar.t'in, o panto mois proxi-
       França, em 1990.  Foi o primei-  dia  6 de Março  chegou  ao   mar da  China e os portos de   mo onde hQvia  tefegraphQ, a fim
       ro navio de guerra português   porto chileno de Valparalso.   Shanghae e Fuchau. No dia  7   dI.'  serem  recebidas  ordl.'lls  de
       a ser equipado com T.S.E      Visitou  depois Callao, Pa-  de Agosto de 1910 o navio   Lisboa, droido às  circumsfallcMs
         Comandado pelo  capitão-  namá, Salina C~, Acapulco   fundeou  em  Macau, seguindo   anonimes em  que Si' enCOl/traM o
       -de-fraga ta  António Aloísio   e S.  Francisco.  A largada,   depois par.l  Hong-Kong, para   II0SS0  pai:.  No  dia  29  de
       Jervis  de Atouguia  Ferreira   fomos,  drltantt lili/a  liora, acom-  fabricos, encontrando nesse   Outubro, o  navio saiu  para
       Pinto Basto,  o navio saíu de   panhados por seis vapores cheios   porto os CTUz.ldores "Vasco da   Su rabaya,  Singapu ra,  Co-
       Lisboa  no  d ia  11  d e  De-  de  portl/gl/ezes, com  os  qrtaes se   Gama" e "Rainha D. Amélia".   lombo,  Pangim/Nova Goa  e
       zembro de  1909,  na  vigência   trOCQram  mtlwsiasticas despedi-  De seguida,  voltou  a Macau.   Mormugão.  Depois de 9 dias
       da  Monarquia,  e regressou  a   das.  FQltaram  à saída  17 praças,   Depois o navio seguiu  para   em Goa, o "S.  Gabriel"  nave-
       Lisboa  no  dia 20 de  Abril  de   o  qlle  lião  admirou,  pois  a   Manila.  Úlrgámos  de  Mmlila às   gou  para o Cabo, por Bom-
       1911,  mais de 6 meses após ii   California  i, segundo ali  ~e diz,   6 l/oras  da  mallhã do  dia  5 de   baim e Zanzibar. No dia  31  de
       implantação da  República.  A   o pai! Nu.'here tlle poorest  live iu   outubro I.' pol/CO depois [rmdfllI1tl-  Dezembro chegou à  ilha de
       bordo seguia  uma  guarnição   abundO/Ice".  Navegando  para   /IIOS em  CDI,Ue perto do  tSljl/ndra   Moçambique, seguindo de-
       de 255  homens, sendo 15 ofi-  W, o navio escalou Honolulu,   amaieO/IQ, allde mellemos car-  pois para Quelimane,  Beira, ,
                                                                                        REVISTA DA ARMADA •  JUlHO 93  17
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