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os últimos cem anos, foram raros os navios e os ficas, e, em outros três casos, swgiram por circunstâncias
homens da Marinha Portuguesa que consumaram imprevistas.
N um dos mais apetecidos sonhos .ii. que aspira um No grupo de viagens de circum-navegação programa-
marinheiro: dar a volta ao mundo. das, incluem-se a viagem do cruzador "S. Gabriel" , em
Até 1975, apesar da administrasão p0r!uguesa se esten- 1909/11, e as viagens do navio-escola "Sagres" , em
der a territórios dispersos pela Amea, Asia e Oceânia, e 1978/79 e em 1983/84.
ter na Marinha e nos seus navios um dos seus mais fortes No grupo dessas viagens resultantes de factores aciden-
sustentáculos, tanto as viagens de ida, para as longitudes tais, englobam-se as do aviso "João de Lisboa ", em
extremas dos nossos interesses, como as viagens de 1941142, e as das corvetas "Afol1s0 de Cerql/eira" e "João
regresso a Portugal, eram traçadas pela rota mais curla e Roby", em 1975/76.
mais económica. Finalmente, é referida a viagem de instrução feita em 1960
Recorde-se que, por exemplo, a distância náutica entre pelos cadetes do cwso D. Lourenço de Almeida, da Escola
Lisboa e Macau é, respectivamente, de menos de 9.000 Naval, que embora tivessem embarcado no aviso "Afonso
milhas, via canal do Suez, de cerca de 12.000 milhas, via de Albuquerque" entre Lisboa e Goa, via canal do Panamá e
rota do Cabo, e de cerca de 14.000 milhas, via canal do Paófico, regressaram a Lisboa no aviso "Bartolomeu Dias",
Panamá. pelo canal de Suez.
Nessas condições, as circum-navegações dos nossos A apresentação conjunta destas viagens é feita pela pri-
navios resultaram, em três casos, de programações especí- meira vez, embora de fonna necessariame.nte sucinta.
Circum-navegação I roo. Durallte a faina de eart>ào,
;.>eio a bordo (l QjudO/lfl.' do gelle·
A mais antiga das viagens de ral, encarregado dr mt COlllllllllli-
circum-navegação, feitas por cor graves 1I0licias rl.'cebidas de
navios de guerra portugueses Portugal com respeito á revolu-
no último século. foi planea- ção. DisSt;-mt! que, no caso de ter
da por forma a constituir uma recrio de qualquer suble1lfl{do da
operação de prestígio para guarnição, poderia ficar no meio
Portugal. A Marinha dispu- dos navios da esquadra america-
nha então de modernos navi- Cruzador "5. G<1brie/~; vj.:t8em de circum- 110. Respondi-lhe que tinha a
-navegil,Jo em 1909/1 I, 5Obo comando do
os, designadamente 5 cruza- cilpi/jo de frdgdlJ António A. j. Pin/o Basto maior confia liça IIOS meus offi-
dores ("Adamastor", "Rainha ciaes e marinhagem. Malldei
D. Amélia", "O. Carlos", "S. ciais, 14 aspirantes, 24 pessoas Kahu e Hilo, nas ilhas Hawai. iII/mediatamente um telegramma
Gabriel" e "S. Rafael"). que do tStado menor e 202 praças. O "S. Gabriel" fez então a pedindo notícias, ao qual lido
incorporavam as mais recen- O navio seguiu para a costa maior tirada da sua viagem: recebi resposta.
tes tecnologias, como a pro. brasileira, com escalas em 3.400 milhas até Yokoama. O navio largou então para
pulsão a vapor, a T.S.F. e a Porto Santo, Funchal, S. Vi- Durante um mês, o na\~o \~si Dili, onde chegou no dia 1.t de
artilharia de 150 mm. cente, Santiago, Bahia, Rio de tau portos japoneses, como Outubro de 1910. Veio a bordo o
O cruzador "S. Gabriel" era janeiro e Santos. Depois esca- Kobe, onde veio a bordo o COII- comlllandQllte do vapor 'Dilly',
11m cm:ndor dI.' aço, protegido por lou Monte\~deu, Buenos Aires sul dI.' PortugQI, CIlpitão dI.' fraga- primeiro /mm/e Montalvão,
lIyma coberta couraçada de 35 e Punta Arenas. No dia 25 de ta Wellceslal/ de Moraes, !to- tendo sido solicitado pelo
mm, com 1850 toue/adlls de dtsltr Fevereiro iniciou a passagem zaki, Kure, Etajima, Miyajima, governador IJ ida do cruzndor Q
CQmento e fôra construído em do estreito de Magalhães e no Moii e Nagasaki. Depois foi o Porl Dar.t'in, o panto mois proxi-
França, em 1990. Foi o primei- dia 6 de Março chegou ao mar da China e os portos de mo onde hQvia tefegraphQ, a fim
ro navio de guerra português porto chileno de Valparalso. Shanghae e Fuchau. No dia 7 dI.' serem recebidas ordl.'lls de
a ser equipado com T.S.E Visitou depois Callao, Pa- de Agosto de 1910 o navio Lisboa, droido às circumsfallcMs
Comandado pelo capitão- namá, Salina C~, Acapulco fundeou em Macau, seguindo anonimes em que Si' enCOl/traM o
-de-fraga ta António Aloísio e S. Francisco. A largada, depois par.l Hong-Kong, para II0SS0 pai:. No dia 29 de
Jervis de Atouguia Ferreira fomos, drltantt lili/a liora, acom- fabricos, encontrando nesse Outubro, o navio saiu para
Pinto Basto, o navio saíu de panhados por seis vapores cheios porto os CTUz.ldores "Vasco da Su rabaya, Singapu ra, Co-
Lisboa no d ia 11 d e De- de portl/gl/ezes, com os qrtaes se Gama" e "Rainha D. Amélia". lombo, Pangim/Nova Goa e
zembro de 1909, na vigência trOCQram mtlwsiasticas despedi- De seguida, voltou a Macau. Mormugão. Depois de 9 dias
da Monarquia, e regressou a das. FQltaram à saída 17 praças, Depois o navio seguiu para em Goa, o "S. Gabriel" nave-
Lisboa no dia 20 de Abril de o qlle lião admirou, pois a Manila. Úlrgámos de Mmlila às gou para o Cabo, por Bom-
1911, mais de 6 meses após ii California i, segundo ali ~e diz, 6 l/oras da mallhã do dia 5 de baim e Zanzibar. No dia 31 de
implantação da República. A o pai! Nu.'here tlle poorest live iu outubro I.' pol/CO depois [rmdfllI1tl- Dezembro chegou à ilha de
bordo seguia uma guarnição abundO/Ice". Navegando para /IIOS em CDI,Ue perto do tSljl/ndra Moçambique, seguindo de-
de 255 homens, sendo 15 ofi- W, o navio escalou Honolulu, amaieO/IQ, allde mellemos car- pois para Quelimane, Beira, ,
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