Page 342 - Revista da Armada
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EFEMÉRIDE




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            r iniciati\'a de dois dos                                                    pelas cinco horas da  manhã do
           seus  sócios,  o  VALM    Alltóuio Ladis/all  Parreira, José Carlos da Maia,   dia 4,  quando os navios surtos
       PfMoura  da  Fonseca  e  o    Tito Augusto de Moraes, AlUlibal de  SOl/sa Dias,   no Tejo já estavam dOminados e
       CALM  Almeida  Brandão,  O     Jofio Melldes Cabeçadas Junior, A/exaudre José     com a bandeira republicana has-
       Clube Militar  Naval promoveu,   Botelho de VascollceIlos e Sá, Hellrique da Costa   teada.
       nas suas instaJações, na noite de   Gomes, Maria/mo Martills e João Fiel Stock/er,   Seguiram-se horas de luta, que,
       5 de Outubro, a  realização de   são liames ql/e jamais poderão ser esquecidos    segundo o VALM  Moura  da
       uma conferência intitulada" A   elllqllallto 110 I1"mdo existam portugllezes, amigos   Fonseca, se de;elwoh'eu nwn tri-
       Marinha e o 5 de Outubro", a   siuceros da SI/a Patria. Vendo que t aUlavam nove   ângulo estratégio cujos vértices
       que interessadamente assistiram                                                   loram a Rotunda, o Quartel de
       algumas dezenas de sócios e   décimas partes dos e1emelltos d'acção  COl1l que se   ~e os Navios no Tejo.
       seus convidados, entre os quais   coutava, não desallimaram, lião retiraram, e, tei-  As nove horas e quarenta e
       o  comandante  Boaventura    maI/do lia II/cta, dirigiram-lia superiormellte COIII O   cinco  minutos  do  dia  5  de
       Pereira Gonçalves, o mais antigo   verdadeiros almirantes de I1l1Ia verdadeira l1I(lrilll,a.   Outubro, depois de uma enérgi-
       sócio do clube.                                                                   ca e inteligente manobra pessoal
         Coube ao VALM  Moura da              Reltltório de Maclmrlo Sal/tos, 1911       de Machado Santos, o general
       Fon5e<'a  a exposição do tema,                                                    Raphael  Co~ão, no seu quartel-
       tendo começado por referir que                                                    -general de S.  Domingos, apre-
       as primeiras aragens republicanas   um  oficial de Marinha. o capi-  agitação pré-revolucionária, e   sentou-lhe pessoalmente a sua
       teriam surgido em Portugal com   tão-tenente Henrique Lopes de   em 28 de Janeiro de 1908, quatro   rendição.
       os conspiradores de 1640, se terão   Mendonça, dava voz ao coro de   dias antes do regiádio, também   A República  triunfara  e  a
       desenvolvido com os ventos da   protestos  dos  republicanos,   abortara uma revolta cujos cabe-  Marinha  tinha sido determinan-
       Revolução Francesa de 1789, e   vindo mais tarde a ser adoptada   cilhas eram o almirante Cândido   te nesse triwúo.
       ganharam  00\"a5 forças com a   como Hino Nacional.    dos Reis, o comissário naval   A recordação do papel da
       l'e\'ohlÇào portuguesa de 1820.   Consequência natural deste   Machado Santos, o  capitão-  Marinha e dos marinheiros na
         A Marinha, que acti\"amente   ambiente, foram então adquiri-  -tenente 1.oão Sere;<> e o capitã~  implantação da  República,  fOi
       participara nas lutas liberais,   dos  alguns  navios  para  a   -tenente Ah'arO Soares Andrea.   e\'ocada durante 20 anos. Um
       absorvera uma boa parte do ide-  Marinha, inclusive por subscri-  A Carbonária e a Maçonaria   pelotão de marinheiros desem·
       ária liberal e republicano, facto   ção nacional, nomeadamente os   entraram então, abertamente, no   barca\'a dos navios no dia 3 de
       que, em 1866, levou mwtosofici-  cruzadores "Adamastor", "5.   processo conspirativo.   Outubro à tarde. e, subindo a
       ais a agregarem-se em  tomo de   Rafael", "D. Carlos", "5. Gabriel"   No dia 3 de Outubro de 1910,   rua  Augusta e a avenida da
       uma associação denominada   e "Dona Amélia", vindo os três   a revolução arrancou, ainda   Liberdade, ficava  de "igia na
       Clube Militar Naval, que na   primeiros a tomar parte activa e
       época representava um prinó·   determinante no movimento
       pio de associativismo, liberaljs.   revoludonário triunfante de 5 de   Depois da proclamação da Republica,
       mo e republicanismo.       Outubro de 1910.                  os heroes e os orgallisadores da  revolução
         Porém, sã a partir de 1876,   Por essa  altura. a propósito   caltiram sobre o Paíz como III/vem de gafanhotos.
       com  a  obra  doutrinária  do   dos oficiais da Marinha, o rei D.   O Governo Provisorio tomou-os a seria e os
       Partido Republicano, se começa-  Carlos anotava num seu cader-  verdadeiros foram postos de bar/da. Seria caso
       ram  verdadeiramente a desen-  no de apontamentos, hoje depo-  virgem lia historia lião SI/ceder assim.
       volver e a generalizar as  ideias   sitado no  Museu  de Marinha,
       republicanas.               que "não silo  monárquicos mns         Reltlfório de Maclltldo StlIlfOS, 1911
         As comemorações dos cente-  cumprem  me/llor 110 smriço do que
       nários de Camões e do Marquês   mllitos que ofirnU/l/I sê-Io".
       de Pombal, em 1880 e 1882, e a   O ideal republicano crescia e a   comandada  pelo  almirante   Rotunda  em  memória  de
       revolta de 31 de Janeiro de 1891.   Monarquia desprestigiava-se   Cândido dos Reis, que .nesse   Machado Santos e dos seus com-
       como  patriótica  reacção  ao   cada  \'ez mais. Em 1906, a bordo   mesma noite se suicidou. As pri-  panheiros.  Essa evocação, que
       Ultimato Inglês, aceleraram o   do auz.ador "O. Carlos", que foi   meiras horas da manhã do dia 4,   ligava tão forte e afectivamente a
       desprestigio  da  Monarquia.   o maior navio que até hoje a   foi  ocupado  o  Quartel  de   Marinha à cidade de Lisboa, foi
       Uma  marcha então criada por   Marinha  possuiu, hou\'era uma   Marinheiros, em Alcântara, e   suspensa em  1931  e nunca  mais
                                                              foram  assaltados os quartéis de   foi retomada. o que o paJestrante
                                                              Infantaria  16, em Campo de   lamentou.
              Na Rotunda, ouvindo o ecllo dos caI/lIões       Ourique.  e  Artilharia  I,  em   O VALM  Moura da Fonseca
           de bordo, creava-se uma /lova alma e estava-se     Campolide, seguindo o grupo   conduíu a sua exposição com
                     finlle e crente na victoria.             revoltoso para a Rotunda, pelo   um expressjvo "Viva  a Mari-
                                                              Largo do Rato e rua  Alexandre   nha", tendo, ambos OS sócios que
                    Relatório de Machado Smltos, 1911         Herculano, sob as ordens de   prepararam o tema, sido muito
                                                              Machado Santos. Chegaram    aplaudidos pela assistência.   J,
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