Page 268 - Revista da Armada
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Após cerca de 47 anos de inestética presença,
        o opaco muro de protecção que separava a
        Avenida Ribeira das Naus das instalações do
        antigo Arsenal da Marinha, que a píria naval
        consagrou como a "nau de pedra' , foi substituí-
        do por um gradeamento.
        Era uma velha aspiração da Marinha, que ao
        longo de quase meio século tantas vezes a rei-
        vindicou e que, finalmente, viu concretizada,
        na sequência de um acordo estabelecido com a
        Câmara Municipal de Lisboa.
        O resultado final do trabalho efectuado foi
        absolutamente surpreendente e a "nau de
        pedra" parece estar, de novo, junto ao Tejo.

              lrabalhO  inspirou·se  nos   valorização da  zona  do antigo   servação da  arquitectura, da  pai-  gradeamento ou  a simples que-
              planos de  revitalizaçao   Arsenal da Marinha, a que prova-  sagem  e da  riqufssima  tradição   da de um muro, refez a centená-
        Odas  frentes  ribeirinhas   velmente se seguirá a criação de   daquela  área,  onde  a Marinha   ria  ligação da "nau de pedra" ao
        envolventes 00 estuário do Tejo e   espaços  culturais e de  recreio  li-  tem as suas mais fortes raízes.   rio Tejo.
        é mais  um  passo  no  sentido da   gados ao rio, que garantam a pre-  A colocação de  um  elegante   Para quem passa  na  marginal
                                                                                          avenida,  envolvido na  correria
                                                                                          que é o trânsito  lisboeta e com o
                                                                                          sugestivo Tejo ao  lado, não lhe é
                                                                                          indiferente a breve e discreta
                                                                                          visão  que se tem  para  o interior
                                                                                          do gradeamento, justamente sufi.
                                                                                          ciente para  reparar  na  dignidade
                                                                                          das fachadas pombalinas, com as
                                                                                          suas  portas e janelas orladas de
                                                                                          cantarias devidamente preserva·
                                                                                          das, para  sentir a harmonia  dos
                                                                                          espaços  recuperados,  para  respi·
                                                                                          rar a qualidade do ajardinamento
                                                                                          e da  arborização, e para  relem·
                                                                                          brar, através das fardas dos que se
                                                                                          movimentam  naqueles espaços,
                                                                                          algumas  imagens dos  idos  tem-
                                                                                          pos, em que os marinheiros eram
                                                                                          um ex-libris da cidade de Lisboa.
                                                                                            Agora, dos seus espaços interi·
                                                                                          ores,  ajardinados  e valorizados
                                                                                          através  da  recuperaçilo  de
                                                                                          alguns dos seus símbolos históri·
                                                                                          COS,  é  possível  assumir  uma
                                                                                          intensa cumplicidade com o rio
                                                                                          e com  ii  sua  margem  fronteira,
                                                                                          estabelecendo  uma  relaçilo  de
                                                                                          proximidade com o movimento
                                                                                          dos navios que entram e saiem o
                                                                                          porto, com  os  cacilheiros que
                                                                                          constantemente  ligam  ambas as
                                                                                          margens, com o movimento dos
                                                                                          transeuntes  no  seu  vaivém entre
                                                                                          o Terreiro do  Paço e o Cais do
                                                                                          Sodré e,  até,  com  aqueles  que,
                                                                                          novos e velhos, deitados na rellla
                                                                                          ou  sentados nos  bancos coloca·
                                                                                          dos  à beira·rio, se deliciam  na
                                                                                          contemplação da  beleza  dos
                                                                                          quadros que se lhes oferecem.
       14  AGOSTO 9-'  •  RfVISTA DA ARMAOA
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