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Pequena história caboverdiana
padre Santos é um e saudoso vigário que na sua homens e mulheres de cores dias bem dificeis conheceu.
Santo vivo. Vai agora bondade extrema deixou no variadas. até aos poucos ani- Incapaz de um aclo de peca-
O para mais de quarenta mundo 86 filhos reconheci- mais que vagueiam por ludo do, por mais insignificante, de
anos que arribou a Ribeira dos, de côr trigueira e sangue quanto é sitio, lembrando os um gesto abrupto, de uma
Grande, hoje (idade Velha, rebelde. milhares de pombos que se palavra ou de voz mais eleva-
na Ilha de Santiago em Cabo Venerador de São Tiago, apanharam, â mão, nos dias da, aquele velho, mas fresco
Verde e por ali foi ficando na patrono da ilha, descoberta da descoberta e que muitos e Homem é símbolo da paz, da
sua missão de evangelizador e no seu dia de calendário, 1 de belos churrascos proporciona· harmonia, do bem querer e da
pastor de almas daquela terra Maio de 1460, quem sabe se ram aos nossos marinheiros felicidade, pelo menos espiri.
árida e carente. É. por mérito por Diogo Gomes ou António esfomeados de então. tual, em que toda a gente se
e longevidade, um sucessor da Noli <ambos executaram Dedicado a Deus e ao seu quer rever.
de Frei Gregório e Frei Jaime, um verdadeiro ·sprint· caravé· semelhante, em exclusivo, o O guarda da recentemente
os primeiros homens de hábi· lico, para ver quem chegava Padre Santos, na sua tão velha reorganizada Polícia de Se·
to que em 1466 por ali apare· primeiro à baía da praia motorizada, já quase tão cano gurança Pública, Francisco
ceram, para acompanhar espio Gamboal. o Padre Santos, sada como ele, vai circulando Spencer dos Anjos, de · nomi·
ritualmente o povoamento e com a sua imensa bondade e de sol a sol preparando a sua nho~ Frana é, sem quaisquer
cativar as inteligências autóc· fé em Deus, é adorado por santidade e colhendo os fruo margem para dúvidas, um dos
tones e vindouras para a fé tudo que se mova, desde os tos da sua árdua missào que mais populares agentes
em Cristo. , ____________________________ , daquela corporação.
e, pelos vistos, o Vive feliz e contente,
Padre Santos sente·se sempre com um sorri·
bem naquela terra, so de bochecha a
outrora de importàn· bochecha, falando
cia capital, com um com este e com aque·
rio verdejante e pro· le todo o Santo Dia e
fundo , um porto de bailando e bebendo,
mar de grande movi· com esta e aquela ,
menta, uma Sé impo· toda a Santa Noite,
nente cujo repicar de pois, nos cantos e
sinos se ouvia na cida· recantos que ele
de da Praia (um dos conhece há sempre
sinos nunca foi colo· um grogue, uma Cleps
cada, pois caiu ao mar gelada ou qualquer
durante o transbordo e outra coisa que em·
lá se encontra, novo purre uma linguiça ou
em folha, no seu se· uma cachupa requen·
pulcm de conchas e tada com dois ovos
de peixes), um vale estrelados. Conversa·
maravilhoso de fruta dor inigualável , com
fresca e hortas relu· um coração mais do
zentes e uma popula· que de ouro, com um
çào flutuante de mero humor natural e ex·
cadores e escravos. pontâneo, o Frana é
Hoje tudo é diferente. um bemqui sto na·
O rio se<:ou, o porto é quela terra e, na sua
diffcil, a populaçào é imaculada farda azul
pouca, a Sé está des· '/I de dois tons com o
trufda , a fortaleza , ~'Õ'J soberbo boné ou biva·
imensa mole de pedra que na cabeça grano
no deserto lunar, só de, e uma distinta bra·
recorda o passado, çadeira vermelha com
mas o Padre Santos Já um T brilhante e pra·
continua, numa azáía· teado, percorre de lés
ma enorme, dando a lés aquele seu chão
consolo aqui e ajuda _-.:L... amado, desde o Pia·
acolá, tropeçando dia· M'ACUA_..J,., teau à Prainha, à Que·
riamente ao sair da 11t bra Canela, às lonju·
igreja no túmulo do ras do Porto, às Acha·
Padre Pimenta, velho L ____________________________ -' das todas, à Areia ·..:.
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