Page 312 - Revista da Armada
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indo de longe, por esse Vinte anos mais tarde, em
mar fora. aguardando 1960, passou para a escultura
Vansiosamente a chegada definitiva e quase outros vinte
às temas águas do Tejo, onde a depois foi aproveitado todo o
maresia nos cheira a casa, todo interior, em magnfficos pata-
o ponto e vasculhado pejo mares. No seu auditório, em
binóculo indiscreto. Ioda ti 1985, foi fundada a UCCLA,
sombra e definida cientifica- União das Cidades Capitais de
mente no radar, toda a luz que Ungua Portuguesa, hoje reco-
brilha é uma sofreguidao de nhecida internacionalmente
delfcia. como importante vector de
Loucamente se espera entrar cooperação descentralizada
no tradicional e quente enfia- do poder local.
mento, com ti "Mama" ben- O monumento apresenta-se
quista lá no alto e uma Cibalta com os seus SO metros acima
piscanle reilectida na água, do solo (onde existe um mag-
com passagem fazante pelo nifico terraço-miradoiro, com
velho Bugio, que aguenta bem uma soberba cave para exposi-
sobranceiro o sudoeste rijo e ções e actividades culturais),
que nos observa, ora num sorri- largura máxima de 20 metros e
so irónico e trocista de mari- comprimento máximo de 46.
nheiro que não enjoa, ora em pequena ilha com nome igual, ca, sucedendo à Exposição A seus pés uma enorme Ro-
raiva surda de solitário perpê- uma espécie de irmã, esqueci- Colonial Portuguesa do Porto sa dos ventos, oferta do povo
tuo que inveja quem tem com da no mar, desconhecida das de 1934), com 50 metros de da Republica da Áirica do Sul
quem se aquecer. gentes. altura, numa leve eslrutura de e um monumental mastro com
Este Bugio, outrora de madei- Passado tudo isto. já dentro ierro e cimento, e composição a Bandeira Nacional de 5
ra forte e hoje de alvernaria do bem amado Tejo, e aquela escuJtórica de 33 figuras, repre- panos (legado pela nossa
rica, aliás chamado de S. inesquecfvel guinada para esti- sentando no seu conjunto uma Armada) representam o abraço
Lourenço da Cabeça Seca, já bordo, já em águas lisas, com a nau que transport<1 as princi- de boas-vindas para quem
íoi importante forte militar de guarnição no convés, de olhos pais personalidades históricas entra neste maravilhoso, e
guarnição de monta, antes de naturais e saudosos a identificar do século XVI. quase único, estuário que
ser farol, auxmo de mareantes, cada casa, cada rua, quase O Infante D. Henrique domi- '"abriu mundos ao mundo'".
na sua mudança contínua, cada mulher, antevendo o pre- nando tudo e todos, seguindo- Mas os homens são sempre
lenta e longínqua de c6r. Tem sente que traz e o beijo e cari- -lhe, de joelhos, o Infante D. curiosos, com a sua vaidade e
no arquipélago das Desertas, cia que recebe. Fernando e depois em posição o seu orgulho. Neste simbolo,
próximo da Madeira, uma Desde logo, para além da conforme o mister, Gonçalves já não são s6 de Lisboa, gra-
jóia de Belém, se Zarco, Gil Eanes, Pedro Nunes, vados estão os nomes do
vislumbra o magis- Pedro Escobar, Jácome de arquitecto Cottinelli Telmo e
tral monumento dos Maiorca, Pero da Covilhã, de escultor Leopoldo de
descobrimentos, tão Diogo Gomes, Eanes de Zu- Almeida (ainda está vivo,
ligado a nós, portu- rara, Nuno Gonçalves (o pintor felizmente, o escultor e mes-
gueses e marinhei- do polémico políptico), D. tre Soares Branco que tam-
ros, sempre o ulti- Afonso V (também ajoelhado), bém, e muito, contribuiu),
mo a nos dizer Nicolau Coelho, Afonso Bal- enquanto foi esquecido o
adeus e o primeiro daia, Pedro Álvares Cabral, grande ideólogo, aquele que
a saudar o regresso. Fernão de Magalhães, Vasco da imaginou que um monumento
Parece, assim, Gama, Gaspar Corte-Real, João era indispensável naquele
que deveremos ser de Barros, Estevão da Gama, sítio, aquele que numa longa
permanentes cicercr Bartolomeu Dias, Diogo Cão madrugada convenceu COlli-
nes a quem acom- (agarrado a um padrão símbolo nelli a contar com isso e o
panhamos para o da presença lusitana em terras obrigou, cheiO de sono mas
visitar e dele tire· do além), Afonso de Albu- de olhos abertos a três dimen-
mos o conto da his- querque, Infante D. Pedro, D. sões, esboçar. com paus de
tória, para a relatar- Filipa de Lencastre, Fernão fósforo, o que hoje resta da
mos com o orgulho Mendes Pinto (encostado no epopeia dos descobrimentos.
do passado e a sim- bordão de caminhante), Freis Chamava-se Leitão de Bar-
plicidade do futuro. Gonçalo e Henrique de Carva- ros (José Julio Marques Leitão
Foi construído a lho, Luis de Camões, Martim de Barros), cineasta, jornalista
título precário para Afonso de Sousa, António de e grande artista, que, íel izmen-
a Exposição do Abreu, Cristovão da Gama e te, não morreu incógnito. J,
Mundo Português São Francisco Xavier. De frente
em 1940 (que seria vê-se uma enorme espada e
um importante mar- nos lados superiores os escudos Manuel Pinto Machado
co para aquela épo-- nacionais. m,
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