Page 366 - Revista da Armada
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DEFESA M""AR
Os desafios do futuro
fim da guerra fria, ao juntura internacional se tem coloca à defesa militar portu- em diferentes contextos, mas
desfazer o equilfbrio vindo a sobrepor gradualmen- guesa, porque, face à instabi- também que a nível polftico
O estratégico consubstan- te à reorganização levada ii lidade e imprevisibilidade da sejam discutidas com profun-
ciado pejo sistema bipolar, cabo pelo XII Governo conjuntura internacional, não didade e detalhe as justifica-
requer de cada aliado uma pro- Constitucional, a qual visou a parece possível continuar a defi- ções que sustentam as pro-
funda reanálise da sua defesa transição de uma estrutura nir a postura estratégica mili- postas de forças.
militar, o que obriga à identi. desenvolvida para as campa- tar do Estado, tendo como base Se para O último aspecto ape-
ficação dos grandes desafios do nhas de África, para outra adap- um ou dois cenários I>cm defi- nas são requeridos alguns ajus-
futuro, que condicionam o tipo tada a um quadro euro-atlân- nidos e duradouros. tamentos na metodologia em
e a dimensão básica dos apa- tico. O futuro parece exigir o vigor, até para que esta seja
relhos militares necessários à O instrumento mais adequa- desenvolvimento de aproxima- plenamente comp.ltfvel com a
nova conjuntura. do para intervir com eficácia ções multicenário da conjun- da NATO, para o caso das
em tào complexa problemáti- tura, que abordem não só as capacidades militares parece
Esta problemática assume para ca, parece ser o planeamento principais tendências, os poten- indispen~\lel definir o nível de
Portugal uma importância rele- de forças, porque este, se con- ciais desenvolvimentos e as dissuasão que as Forças Armadas
vante, n30 só porque as deci- duzido com rigor, espírito ino- capacidades necessárias, mas devem proporcionar em cada
sões agora tomadas determi- vativo e perspectivas de futu- também estudem as projecções contexto identificado.
narão as capacidades militares ro, permite desenvolver o supor- dos objectivos e da realidade Durante a guerra fria, como
nacionais durante a primeira o nível da .1meaça ideológica
década do século XXI, mas e militar era muito elevado, a
também porque há muito pou- dissuasão linha o seu signifi-
co tempo foi concluída uma cado ligado preferencialmente
profunda reorganização que à defesa dos interesses vitais
visOu adaptar as Forças Armadas que se relacionavam com a
a uma nova realidade nacio- soberania e independência
nal. nacional. No entanto, as pro-
Esta resultou da redução da fundas alterações da conjun-
fronteira estratégica e da reor- tura intemacional parecem reco-
ganização poHlica associada à mendar que se efectue um
inserção em grandes organiza- esforço no sentido de identi-
ções económicas e de segu- ficar interesses que nem sem-
rança e defesa, empreendida pre são claramente percebidos
para suprir as insuficiências de corno importantes ou vitais, até
soberania decorrentes das exf- que sobre eles incida uma
guas capacidades nacionais. ameaça. A título de exemplo,
Tais organizações requerem te conceptual para as deci- económica nacional face às citamos os ligados ao acesso
dos seus membros contributos sões estruturantes da defesa pressões externas e internas que a recursos estratégicos (em espe-
qualificados, credíveis e sus- militar. innuenciam o Estado. cial o petróleo, O gás natural,
tentados, para que as grandes A metodologia adoptada em Estas aproximações re<luere- os metais e a água), à pre-
decisões colectivas possam ser Portugal para desenvolvimento rão forçosamente a alter.lção servação do meio ambiente e
postas em prática. Estas, embo- daquele planeamento, prevê a da metodologia de planeamento à contenção dos efeitos dos
ra normalmente resultem de realização de um conjunto de militar, por forma a permitir fundamentalismos, do terroris-
iniciativas das principais potên- estudos destinados a caracteri- não só o desenvolvimento de mo, do narcotráfico e das ques-
cias que, por possuirem um zar não só o ambiente exter- capacidades militares utilizáveis tões étnicas.
estatuto de força superior, lide- no do Estado, onde se desla-
ram os processos pollticos e cam as ameaças e as oportu-
estratégicos, exigem a solidarie- nidades, mas também O am-
dade de todos, o que não sig- biente interno onde se incluem
nifica obviamente subserviên- as potencialidades e as vulne-
cia, mas antes reciprocidade rabilidades próprias.
de apoios e responsabilidade
colectiva nas decisões, no res- Os resultados destes estudos
I>cito pelos princípios funda- constituem o enquadramento
mentais que regem o sistema para definição dos cenários e
polftico internacional. da postura estratégica, sendo
esta materializada no Conceito
As Forças Armadas encon- Estratégico Militar.
tram-se, assim, envolvidas num A definição deste conceito
duplo processo, onde a neces- surge, assim, como o primei-
sidade de adaptação à con- ro desafio do futuro que se
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