Page 374 - Revista da Armada
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MIM  RIAS NAVAIS



            I! Destaca •• nIo ti. 'uzll.lro • •                                                      ,."









         Continuando as suas recordações sobre o 01 FE,      que acantonassem em segurança quaisquer grupos  de guerrilheiros.
                                                              Foi  uma  fase desgastante e em  que todos se  sentiam conscientes de
         o autor dá a conhecer como a "sua"  unidade         que seestlvam "a melerna boca do 1oOO~.
         dominou a geografia do rio Zaire, cumpriu             Logo que a unidade dominou  a geografia  da  regi30  invertemos a
         a sua missão nas muílas, culminando a sua           tâctica e entâo, sim, as equipas constituídas por pessoal  de n'lefltali-
                                                             dade ofensiva, muito incutida no curso, assim como um profundo sen-
         actuação em plena força na activação                tido de ataque, \evou-nos a utilizar OS  50 HP dos motores em toda  a
         e execução do Dispositivo Detentor                  sua potência. Era um misto de ataque e "defesa" a qualquer embosca-
         do Zaire (DDZ).                                     da  facilmente eficaz, sem  nunca  podermos  ter a cer1eza de que  na
                                                             JXÓXima  cUlva se não nos  deparava o inimigo: ora  um  hiJXll)Ótamo,
                                                             ora  uma  árvore atravessada,  p.lra  não  (alar  dos jacarés que foram
         DO 8A/XO ZAiRE: SAlAlRE E AS MuílAS                  ~atropelados". Tudo aconteceu.  POI' outro  lado, as inúmeras  ilhas fOI'-
                                                              madas pelas Muílas obrigavam o pessoal a passá-Ias ii pente fino,  num
              o início de  1962 o 01 FE é baseado em durissimas e precárias  esgotante trabalho de  h sapa": de dia  deparava-se-nos  a surpresa
              cor.diçi5es em  Santo António do  Zaire· vulgo  SAZAIRE  • na   desconhecida, à noite através de emboscadas e patrulhas procurava-se
         N margem esquerda e face à foz do rio ZAIRE (que na Ifnsua nati-  o inimigo. A lei foi:  Persistência.
         va  • o quissolongo - significa  uNão sei.  não entendo",  resposla dada
         aos  marinheiros de  Diogo Cão, quando estes  pretendiam  saber o
         flQrne do majestoso rio).
           O nosso  primeiro  Nquarter~ (ai,  assim,  a chamada casa da  CUF,
         única na terra com primeiro andar, onde morava o gerente com a mu-
         lher e dois filhos. No rés-do-chão fICava o armazém com três divisões e
         uma casa de banho, com a mesma área que o primeiro andar e onde
         fICavam tOOas as praças do 01 FE: 23 por divisão em beliChes triplos!
           Uma vez instalados 00 Zaire, coube ao  01 FE  actuar na  zona das
         Munas, canais com uma largura média de três a quatro metros, cober-
         tos de vegetação com uma altura de qualto ti cinco metros e com um
         comprimento tolal superior ii extensão da costa mar~jma de Angola e
         que constituía toda a margem esquerda do Zaire para juzante da Pedra
         do Feitiço, local onde o rio deixa de correr entre altíssimas mootanhas
         para se espraiar numa planície de milhares de ilhas e canais de pouca
         profundidade, exigindo que o principal canal de navegação estivesse
         em permanente dragagem.
           Esta area constituía zona  ideal  para a entrada e acantonamento em   fvtais  tarde veio a confirmar-se por prisioneiros capturados na área
         Angola  dos  guerrilheiros, que dos  seus santuários  na  margem  do   da Pedra do FeitiçQ.l$umba, que o inimigo havia decidido abandonar
         Congo abasteciam toda a zona de guerra do NVV de Angola, aprovei-  tQtllmente  a região  (zona  atribuida  à nossa  fvtarinha),  alterando as
         tando este mesmo labirinto, só deles conheciOO.     suas linhas de infiltração cerca de 100 Km mais para Leste.
           Assim foi dada ao DI FE a missão de "limpar" a zona. Aqui os boles   Passados cerca de 5 a 6 meses, a zona das Munas tornou-se ponto
         de borracha Zodiac foram  fundamentais,  percorrendo e desvendando   de atracção turística  obrigatória  de  tooas as  individualidades ou de
         cautelosamente a remos infindáveis itinerários,  um labirinto de canais   uinspedores do cacimbo" que visitavilm o Zaire.  Conduzidos nestas
         que criavam  inúmeros espaços secos, com  todas aS  condições  p.lra   viagens  pelos "fuzos"  todos  salientavam  a perícia, algumas  vezes
                                                             espectacular, com que dominavam  e evolufam  nos Zodíaco  Coisa
                                                             bonita de  ver,  mas  para  isso  foi  preciso que chegassem a comer,
                                                             dormir e quase viver neles,  na companhia de jacarés e mosquitos.  e
                                                             tantas vezes encharcados, mas alegres.
                                                               Revelaram as estatísticas que durante a comissão do DI FE os botes
                                                             de borracha  navegaram  na  totalidade  um  mínimo de 12000 horas e
                                                             estiveram outras tantas à deriva ou emlxlSCados nas margens. Se cal-
                                                             cularmos a sua  velocidade média de  14  nós devem  ter  percorrido
                                                             cerca de 168CXXl milhas, quase 7 voltas ao Mundo!
                                                               Foi  durante a acção nas Munas que apareceu em Sazaire,  um  i\;]-
                                                             liano de  nome  Dante Vachi,  -jornalista",  veterano da  Indochina
                                                             (depois Vietname) e da  guerra  da  Argélia  Francesa. Vinha  com  as
                                                             mais  altas credenciais "metropolitanas·  possíveis e -debutou" em
                                                             Angola,  no  rio  Zaire,  numa  operação nas Munas com  o D1 FE.
                                                             Ficámos amigos e encontrámo-nos mais tarde em Luanda. Teria aju-
                                                             dado a criar no Exército em Angola, grupos de nornadização (a moda
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