Page 42 - Revista da Armada
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u. conceito a.,Io tle estraté,ia




               e início o conceito de  propomo-nos reflectir sobre o                   de acção  militar $.10 os  únicos
               estratégia esteve inseri-  possível conteúdo de um  con-                susceptíveis não só  de  fazer
         D do  no  contexto  da  ceito que contemple, numa                              face a um golpe militar exterior
         guerra, não sofreu grandes  perspectiva ampla e actual, os                    ou  a uma acção insurrecional
         evoluções durante seculos e  requisitos inerentes a uma  dis-                  interna,  mas  também de obri-
         centrou-se, fundament,11mente,  ciplina essencial à concepção e                gar cm contrário a utiliz.,r for-
         nas operações militares desti-  â execução da  acç.'lo estr"tégi-              mas de co.,cção não militar e a
         nadas a  alcançar a  vitória.  ca. Centmremos a análise no                     redigir o nível de agressividade
         Clausewitz estabeleceu  um  Estado,  perspectivando  o                         na  disputa de interesses, a
         objectivo mais ambicioso e  campo de aplicação, o papel                        estratêgia  utilizará de forma
         realista - a  finalidade política.  das forças armadas, os aclores             crescente um espectTO alargado
         A partir da  II  Cuerra Mundial  e o conceito de aplicação tem-                de disposições de l'I<ltureza mi-
         ocorreram três fenómenos dis-  poral da estr'ltégica,                          litar, destil'l<ldas a gerir as insta-
         tintos que forç.uam a evolução                                                 bilidades que  perturbam  o
         do conceito de estratégia: em  CAMPO DE APUCAÇÃO                               Estado.  Por isso, as solidtaÇÕt'S
         primeiro lugar os estrategas                                                   para  o emprego  das  forças
         militares clássicos aplicaram  Depois  da  implosão  do                        arn,adas, dentro e fom  do  ter-
         técnicas de análise,  rigorosas e  império  soviético e do fim  do             ritório n.,donal, serão cada vez
         racionais, ao campo estratégico  sistema bipolar, desenvolveu-                 maiores, e o seu empenh.amen-
         clássico - a guerra; em seguida  se um  novo conceito de ordem                 to situar-se-á na  justa  medida
         os estrategistas fomentaram  os  mundial,  onde  as  relações                  em que as crises afectarem a
         estudos estratégicos que intro-  intern<lcionais são reguladas                 segurança nacional.
         duziram  factores e elementos  com  fL"CUTSO  à conjugação das
         totalmente novos na estratégia;  leorias do equilíbrio do poder e              ACTORES
         finalmente,  o aparecimento do  do poder político.  Por outras   CUS5Ões ou  incidências estratê-
         conceito de segurança nacional,  palavras pode dizer-se que o  gicas.  Neste contexto, a droga,  Ao  nível  dos actores a mu-
         que embora tenha originado  sislema  político internacional  a  ecologia,  as  religiões,  as  dança  também  será grande. Se
         alguma  confusão na deli mi-  caminha,  tendencialmente,  migrações, os refugiados e o  nas  definições  clássicas  de
         t,lção do campo de aplicação da  para desenvolver uma super-  terrorismo serão factores de  estratégia o Estado é o único
         estratégia, contribuiu para  COIl--  estrutura composta  por 5 ou 6  instabilidade que, no futuro,  actor, na actualidade verifica-se
         ferir  um conteúdo mais amplo  grandes   potencias,   que  terão grande impacte na  acção  que surgem diversas unidades
         a este conceito.  Em  resultado  definirão  as  normas  das  estratégica, interna e externa,  colectivas de dimens.'io \'ariá-
         destes fenómenos a estratégia é  relações  internacionais, e em  do Estado.    vel, intemilS e externas, com ou
         hojP percebida como a arte e a  torno  das  quais  se  desen-                  sem base territorial, que se con-
         ciência de empregar o poder  volverão várias organizações   PAPEl DAS          stituem como entidades políti-
         nacional em todas as circuns-  multinacionais nos campos   FORÇAS ARMADAS      cas,  afirmando a sua identi-
         tâncias para exercer os  tipos e  político, económico, social e                dade, a sua autoridade e a sua
         os graus desejados de controlo  militar. A estratégica conti-  Perante o novo quadro litigioso  autonomia de decisão no  seio
         sobre o oponente, a fim  de  nuará assim a ampliar o seu  e o tipo de factores de instabili-  da  sociedade  internacional.
         alcançar ou  preservar os ob-  campo de aplicação, por forma   dade antes referido, é lícito  Estas  entidades  realizam
         jectivos de segurança nacional.   " lidar não só com a guerra,  inquirir sobre o papel  futuro  acções de natureza estratégica
           Em  nossa opinião este con-  mas também com o caos  ine-  das forças armadas.  Durante a  em virtude de os seus projectos
         ceito  de  estratégia  não  se  renle a ambientes, internos e  guerra m.l este papel encontra-  políticos interagirem com os de
         encontra ajustado â realidade  extemos, muito instáveis, onde  va-se bem definido e era asso-  outras entidades, gerando si-
         das relações e dos  interesses  qualquer facto,  acção ou ope-  ciado à dimensão militar da  tuações  litigiosas.  Estilo  neste
         dos diversos actores  interna-  ração que se realize para alcan-  estabilidade. Com o fim  desse  âmbito as igrejas, os partidos
         cionais.  Por isso,  neste artigo  çar um  fim  pode ter reper-  conflito  há  o perigo de a opi-  políticos. as organizações sindi-
                                                              nião pública, por um  lado, n50  cais, os grupos de pressão, os
                                                             aceitar os custos de uma ade-  grupos étnicos, as grandes
                                                             quada defesa  militar e,  por  multinacionais económicas e
                                                             outro lado, não  perceber os  financeiras, as organizaçóes
                                                             efeitos, no  Estado, dos factores  não govcrnament.lis e as alian-
                                                             de instabilidade antes referi-  ças.  Por isso, o ambiente po-
                                                             dos.  Tirando  partido da  ine-  Iítico-estratégico possui enor-
                                                             xistência de um  desafio glob.,l  me complexidade e instabili-
                                                             decisivo, os governantes desen-  dade, e as dL'SOrdens  multipli-
                                                              volverão disposições (meios e  cam-se em  resultado da  proli-
                                                              processos  de  acção)  nos  feração de centros de decis.'o
                                                             dominios político, económico e  heterogéneos, materializados
                                                              psicológico e admitirão res-  numa  rede multipolar de  Es-
                                                              ponsabilidades muito mais  tados proeminentes, a que se
                                                              reduzidas e menos definidas  sobrepõe  uma  outra  rede,
                                                              no domínio militar. Contudo,  igualmente multipol<lr, de ac-
                                                              como os meios e os  processos  tores intra e cxtrn-estatais.
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