Page 145 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
             Património Cultural da Marinha


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                                                  15. O “SÍRIUS”


                O Sírius é, sem dúvida, a mais antiga embarcação de recreio existente em Portugal. Foi o rei
             D. Luís que, em 1876, ordenou a sua construção que teve lugar no telheiro das Galeotas Reais, à
             Junqueira, sob a direcção do seu oficial às ordens, o capitão-tenente Carlos de Sousa Folque Possolo,
             tendo como mestres Tomás António Gonçalves, mestre dos carpinteiros de machado do Arsenal de
             Marinha e Diogo Jorge Batalha, demonstrador de construção da Escola Naval.
                Foi lançado à água em 14 de Abril de 1877, na presença de Suas Majestades. Após as expe-
             riências, e armando em caíque, foi oferecido à rainha D. Maria Pia. O iate dispunha de uma câmara
             a meia-nau, com sofá à volta, aparadores nos cantos e espelhos nas amuradas. A estibordo, a ré, si-
             tuava-se a camarinha da rainha e o camarote da sua camareira. A ré da câmara a estibordo, situava-
             -se o camarim do rei e a bombordo o camarote do seu ajudante de campo. No alojamento da proa
             acomodavam-se o mestre e sete tripulantes.
                Em 4 de Setembro daquele mesmo ano, fez a sua primeira regata, que foi anulada por falta de
             vento. Repetida em 11, o Sírius foi desclassificado por transgressão do regulamento. Apesar deste
             mau começo, o Sírius, em 1879, era considerado o iate de maior andamento que havia no país e,
             por esta razão, D. Luís decidiu inscrevê-lo para participar nas regatas internacionais de Nice.
             Infelizmente, devido a mau tempo, a embarcação atrasou-se na viagem, não podendo tomar parte
             nas competições. Todavia, de regresso a Portugal, arribou a Marselha e aí correu com o iate francês
             Eugenie, que venceu por uma larga margem. O eco desta proeza chegou a Inglaterra e dois dos me-
             lhores iates deste país, a escuna Cetonia e o iole Gestrude, vieram a Lisboa, em Outubro de 1880,
             para competir com o Sírius, que desta vez não foi feliz.
                Depois desta data, rareiam as informações, mas sabemos que, em 1887, este iate já armava em
             palhabote. Em 1912 era entregue à Escola Naval, para instrução de vela dos aspirantes. Em 1931,
             passou ao Clube Náutico dos Oficiais e Aspirantes da Armada e, no ano de 1953, foi cedido à
             Brigada Naval para apoio do curso de “patrão de costa” e “patrão de alto mar”. Por determinação,
             datada de Junho de 1974, do Chefe do Estado-Maior da Armada, voltou à posse da Marinha, sendo
             entregue à Escola Naval.
                Em 1983 foi depositado no Museu da Marinha, onde é uma das embarcações mais apreciadas
             pelos visitantes. Todavia, não está exposto como gostaríamos de o ver: metido numa doca seca, para
             ser possível mastreá-lo. Só assim ganharia a sua verdadeira beleza.
                O Sírius, durante a sua estadia em França, teve o privilégio de ser pintado por François Roux
             (1811-1882), um dos mais famosos pintores de Marinha. A pintura original perdeu-se mas, o Museu
             de Marinha, possui nos seus arquivos uma fotografia do quadro original, que reproduzimos, onde se
             lê a data, o local onde foi feito e o nome do autor.
                No Museu existe ainda uma bela cópia, feita por autor desconhecido no ano de 1930.

                           CARACTERÍSTICAS ACTUAIS DO “SÍRIUS”:

                         Comprimento fora a fora                                22.50 m
                         Comprimento entre perpendiculares             16.00 m
                         Boca                                                                  3.75 m
                         Calado máximo                                                 2.85 m
                         Altura do mastro de traquete                            15.85 m
                         Altura do mastro grande                                   17.00 m
                         Arqueação                                                           49 ton.  Museu de Marinha
                                                                                 (Texto – A. Estácio dos Reis, CMG)
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