Page 73 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
             Património Cultural da Marinha


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                                  46. O PRATO DE DELFT DO ARSENAL


                  Com a passagem do Arsenal da Marinha, para o Alfeite, inaugurado oficialmente a
                 3 de Maio de 1939, foram introduzidas alterações profundas na sua organização,
                 dando-se ao mesmo tempo uma renovação do seu pessoal desde a administração,
                 quadros e pessoal operário.
                  A actividade do Arsenal do Alfeite caracterizou-se, no seu início, por um núme-
                 ro muito significativo de construções, tanto militares, como mercantes. A primeira
                 foi um navio hidrográfico, o D. João de Castro a que se seguiram as lanchas de
                 fiscalização Azevia e Bicuda e o reabastecedor da esquadra, Sam Brás, navio de
                 7500 ton.
                  Em 1945 o Arsenal, depois de outras construções menores, inicia a construção de
                 uma série de navios para a Marinha Mercante Nacional e para o estrangeiro. Foram
                 construídos sucessivamente os navios Sameiro, S. Mamede, Erati, Hector Heron e
                 Gerês. Estas foram as maiores unidades construídas em estaleiros portugueses, sendo
                 o Gerês, um navio de 35000 ton entregue à Soponata em 1962.
                  Em 1961 a Companhia Nacional de Navegação decidiu mandar construir um
                 navio de carga de 14000 ton para a linha da África Oriental, ao qual foi atribuído o
                 nome de “Beira”, sendo a encomenda feita aos estaleiros holandeses
                 Nederlandsche Dok en Scheepsbouw Maatschappij-NDSM de Amerterdão. De
                 acordo com a orientação governamental o contrato previa a subcontratação da
                 construção do casco do navio ao Arsenal do Alfeite, o que efectivamente veio a
                 acontecer.
                  Em 10 de Novembro de 1962, o casco do Beira foi lançado à água tendo na ceri-
                 mónia oficial, presidida pelo Ministro da Marinha, e após os discursos de circunstân-
                 cia, o Sr. Peter Goedkoop, Director dos NDSM oferecido ao Arsenal do Alfeite na pes-
                 soa do seu Administrador, Sr. Engº Sousa Coutinho, um magnífico prato de Delft com
                 a silhueta do navio.
                  O prato com o desenho do “Beira”, que se julga ser peça única, foi executado pela
                 fábrica de faianças de Delft, cuja origem remonta ao princípio de século XVII.
                  O prato com um diâmetro de 41 cm, em tons de azul, característicos da fábrica,
                 apresenta no centro uma composição com o navio no mar, e na aba, uma banda
                 decorada com motivos florais, ostentando na parte superior o logotipo do Arsenal
                 do Alfeite e o nome do navio e na parte inferior o logotipo dos NDSM e a
                 inscrição – Arsenal do Alfeite – 10 de Novembro de 1962.
                  Passados mais de quarenta anos após o período em que terminaram, por assim
                 dizer, as grandes construções e encontrando-se presentemente o Arsenal a funcionar
                 quase exclusivamente para a manutenção da Esquadra, o magnífico prato de Delft
                 recorda um período de grande actividade industrial do Arsenal quando este estaleiro
                 era o maior do país.


                                                                 Arsenal do Alfeite
                                                                 (Texto de Luís Roque Martins, CALM EMQ –
                                                                 – Director da Revista da Armada)
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