Page 130 - Revista da Armada
P. 130
Setting Sail
Setting Sail
5. Virar de Bordo
este número propomo-nos comentar a respondentes entremastros, uma vez que todas vento, enquanto na manobra de virar em roda é
manobra de virar de bordo de um típi- se situam muito próximas do centro de giração, a popa que passa por essa mesma linha.
Nco navio redondo, mais concretamente pouco ou nada concorrem para desequilibrar o Vamos de seguida analisar a forma como po-
numa barca de três mastros. Relembramos que navio, ficando a sua influência consignada ao dem ser efectuadas as manobras sucintamente
é neste tipo de aparelho, por absoluto contraste efeito meramente propulsor. descritas, a bordo de um veleiro de característi-
com o navio latino, que a sua execução se re- Regra geral um navio a navegar à vela re- cas idênticas às do navio-escola Sagres, partindo
vela de longe mais complexa. cebe o vento por um dos bordos, bombordo do princípio que se navega, em ambas as situa-
Como vimos anteriormente, o navio deve ou estibordo. Excepto no caso pontual, na gí- ções, com todo o pano caçado.
estar bem compassado em termos vélicos, ou ria conhecido por «popa arrasada», quando
seja, sem qualquer natural tendência para arri- se navega com o vento entrando exactamente VIRAR EM RODA
3
bar ou orçar. Aliás, se possível, navegando com pela popa . Nas ocasiões em que o navio tem pouco se-
1
o leme a meio, deverá aguçar-se ligeiramente , Pelo que antecede, por vezes, quando se altera guimento, com pouco vento portanto, ou ainda
de forma a favorecer uma navegação mais che- o rumo do navio, surge também a necessidade quando este é demasiado forte, deve optar-se
gada ao vento, situação que assume particular de virar de bordo. Como vimos no número an- pela manobra de virar em roda. A grande van-
interesse quando este diz claramente para vante terior, esta manobra consiste em fazer passar o tagem reside no facto de esta poder ser feita com
do través (bolina). vento de um para o outro bordo, de bombordo menos gente, recorrendo normalmente apenas
Sempre que o almejado equilíbrio não se ve- para estibordo, ou vice-versa. ao pessoal que se encontra de quarto ao convés.
rifica, torna-se necessário corrigir com o leme o Basicamente existem duas formas de actuar Além disso, como é sabido, nunca se correrá o
pendor do navio, o que se traduz, de imediato, com vista a alcançar este propósito. Uma delas risco de ficar com o pano sobre, situação par-
4
numa perda de velocidade. Na medida em que consiste em meter o leme de ló , obrigando o na- ticularmente complicada num navio de pano
a respectiva porta actua como um freio, verificar- vio a orçar, ou seja, aproximar a proa do vento. predominantemente redondo.
se-á um efeito tão mais notório quanto maior o Assim, quando desta maneira se consegue fazer Ainda antes de dar início à manobra propria-
ângulo de leme introduzido. passar o vento para o outro bordo, pela proa do mente dita, devem ser carregadas todas as velas
Cumpre recordar que, de per se, as velas que navio, diz-se que o navio vira por davante. Por de entremastros, as velas da mezena e a vela
5
se encontram para vante do centro de giração outro lado, ao colocar o leme de encontro o na- grande (1 e 2). As primeiras carregam-se devi-
2
do navio – velas de proa e velas do traquete –, vio irá arribar, afastando progressivamente a proa do ao seu fraco contributo em prol da veloci-
tendem a fazer o navio arribar. Pelo contrário, as do vento. Neste caso, mudando o vento para o dade do navio, e, simultaneamente, para que
velas localizadas a ré desse mesmo ponto – velas bordo contrário ao inicial, desta feita pela popa, o cambar das respectivas escotas não constitua
da mezena, e com efeito mais reduzido os res- diz-se que o navio virou em roda. uma preocupação acrescida, e desnecessária,
pectivos entremastros –, compelem o navio para Sintetizando, a manobra de virar por davan- quando estiverem em curso aspectos bem mais
a orça. Quanto às velas do mastro grande, e cor- te consiste em fazer passar a proa pela linha do importantes da manobra, nomeadamente o bra-
Des. José Cabrita
Diferentes fases da manobra de virar em roda. Atente-se na evolução do posicionamento das vergas do mastro grande.
20 ABRIL 2006 U REVISTA DA ARMADA