Page 387 - Revista da Armada
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Aves de Portugal
Aves de Portugal
Volume III
o passado dia 12 de Outubro, a Vasco da Gama, destacando-se a presença O livro é uma síntese da informação que
bordo do NRP “D. Carlos I” atra- do Dr. Ricardo Salgado do Banco Espírito foi recolhida por D. Carlos I durante mais
Ncado no cais de Stª. Apolónia, teve Santo que patrocinou a edição deste volume de vinte anos dedicados ao estudo da orni-
lugar o lançamento do Volume III da obra numa tiragem de 2000 exemplares editados tologia e foi composto a partir de aguarelas
Aves de Portugal, da autoria de Dom Car- pela Tribuna da História. pintadas por Henrique Casanova sob orien-
los de Bragança. No evento tomaram a palavra o Director do tação de D. Carlos e por anotações inéditas
A cerimónia foi presidida pelo VALM Me- Aquário Vasco da Gama, CMG Felícia Morei- do autor representadas em cadernos manus-
deiros Alves em representação do Almirante ra, o editor Dr. Pedro Avilez e o Dr. António critos que fazem parte, juntamente com as
Chefe de Estado-Maior da Armada estando Teixeira, biólogo do Instituto de Conservação gravuras, do acervo documental do Aquário
presentes várias entidades que têm uma es- da Natureza, coordenador científico da obra, Vasco da Gama.
treita ligação com o tema ou com o Aquário que fez a apresentação deste volume. Z
UM ACTO HISTÓRICO
UM ACTO HISTÓRICO
este fim de tarde, a bordo de um navio Novas técnicas de construção permitem cio mais alto do Mundo, construído para gló-
da Marinha Portuguesa, presenciamos criar estruturas mais funcionais. Surgem pon- ria da França, da Engenharia e do génio de
Num acto histórico. Assistimos ao lança- tes metálicas, fortes e elegantes, a par dos no- Gustave Eiffel.
mento público do último volume da obra or- vos edifícios, amplos e luminosos, feitos de fer- No campo das ciências naturais também há
nitológica de D. Carlos de Bragança, intitulada ro e cristal. Colocadas ao serviço do novo meio descobertas importantes. As observações rea-
“Catálogo Ilustrado das Aves de Portugal”. de transporte, as estações de caminho de ferro lizadas por dois naturalistas britânicos, Char-
Trata-se de uma obra notável les Darwin embarcado a bordo do
no seu tempo, que continua a ser “Beagle” e Alfred Russel Wallace,
importante nos dias de hoje. Para explorador do Arquipélago Malaio,
nos apercebermos do verdadeiro tinham desvendado os mecanismos
si gnificado deste trabalho monu- da origem das espécies e da sua evo-
mental temos de fazer uma viagem lução, através da selecção natural. O
no tempo, recuando mais de cento Homem toma por fim consciência
e vinte anos na história do mundo e da sua verdadeira posição no mun-
do nosso país. do vivo, uma espécie entre as outras
Fruto da primeira Revolução In- espécies, já não era um ser à parte,
dustrial, a segunda metade do sé- criado por Deus à Sua imagem e se-
culo XIX trouxera uma vaga profun- melhança. Na Inglaterra Vitoriana,
da de inovação e de mudança, sem alguns ficaram chocados, mas havia
precedentes na história recente da provas irrefutáveis. Os dogmas de fé
Humanidade. Sucediam-se os no- caíam e a Ciência avançava.
vos inventos, que transformavam Os estudos geológicos também
radicalmente hábitos ancestrais. Nas revelam factos interessantes, que
fábricas dos países industrializados, confirmam as teorias evolucionis-
as máquinas a vapor trabalhavam tas. Desde logo, mostravam que a
incessantemente, produziam com Terra era um planeta antigo, com
abundância bens de consumo, en- uma idade de muitos milhões de
riqueciam uma elite, mas condena- anos, muito mais que nos relatos
vam a nova escravatura populações da Bíblia. Por análise dos fósseis, a
operárias que ali acorriam a traba- Pa leontologia demonstrava que ti-
lhar, em grande parte abandonando nham existido em épocas recuadas
as comunidades rurais. plantas e animais de muitas espé-
Os novos meios de transporte fa- cies, diferentes das actuais, que já
cilitavam a deslocação de pessoas e se tinham extinguido.
bens, permitiam aceder a paragens Neste mundo em mudança,
remotas. O caminho de ferro, nos D. Carlos nasceu, Príncipe Herdeiro
continentes, e os navios a vapor nos oceanos têm dimensões generosas e possuem formas da coroa, filho estimado dos Reis de Portugal.
encurtavam distâncias, tornavam acessíveis arejadas, são as novas catedrais. Por nascimento, teve acesso a uma educa-
destinos longínquos. A descoberta da luz eléc- A Engenharia triunfa. O Canal do Suez rom- ção esmerada, pôde estudar, aprender com os
trica facilitava hábitos de leitura, multiplicava pe as areias do deserto do Egipto, facilita as via- melhores mestres. Por mérito próprio, estudou
horários de trabalho. O telégrafo e o telefone gens dos Europeus, aproxima parcelas longín- e aprendeu o que lhe ensinavam, cultivou-se,
possibilitavam o envio rápido de notícias a quas dos seus impérios coloniais. tornou-se um português ilustrado. Desta forma,
grandes distâncias, alimentavam a publica- Em Paris, a Exposição Universal de 1889 D. Carlos de Bragança depressa se apercebeu
ção de jornais. Surgia uma nova elite, instruída, tem como símbolo uma torre metálica ergui- que havia mais mundo para além do Paço das
com posses, que lia e viajava. da ao céu, com 300 metros de altura. O edifí- Necessidades.
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2006 25