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REVISTA DA ARMADA | 489

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Nuno Fragoso                              João Matos e Fábio Gonçalves                        Rodrigo Tavares
Escola Superior de Tecnologia de Setúbal  Centro de Emprego e Formação Profissional do Seixal  Escola Secundária do Monte da Caparica

  Outro programa direcionado para este tipo de população é o            trabalhar, mas é divertido, são todos simpáticos. Quero acabar o
dos Percursos Curriculares Alternativos (PCA), implementado no          9º ano para concorrer à Marinha”.
Agrupamento de Escolas Daniel Sampaio.
                                                                          Já o Manuel, a primeira escolha foi Desporto, mas depois veio
  Contactados pela Professora Maria Soledade, ex-desenhadora do         para a Hotelaria, vai este ano como jogador para o Vitória de Se-
Quadro do Pessoal Civil da Marinha, a quem foi conferida a tarefa de    túbal, “mas quero acabar o 9º ano”.
orientar uma turma de 16 alunos PCA, ao nível do 7º ano de escola-
ridade, dos quais 11 são nossos estagiários, esta traça-nos o seu per-    Na Messe de Oficiais, o Leandro Valadão é o homem dos sete
fil: “São alunos com idade igual ou inferior a 15 anos, forte desmo-     ofícios, “Faço talheres, encho os copos com sumo, escamo peixe.
tivação, elevado índice de absentismo, baixa autoestima e falta de      Ao princípio não gostava, mas agora já gosto. Foi a primeira vez
expetativas relativamente à aprendizagem e ao futuro, bem como          que peguei num peixe grande”. A Marinha? “É um lugar diferen-
o desencontro entre a cultura escolar e a sua cultura de origem”.       te, aprendi o jeito de falar com um Comandante ou um Sargento.
                                                                        É importante saber dirigir-se a uma pessoa”.
  Conhecedora da organização e da mais-valia para este perfil de
alunos, a Professora Maria Soledade optou pela Marinha “pelo              Neste ambiente da messe, é o SAJ Galinhas que coordena o
seu caráter disciplinador, respeito pela hierarquia e pela oportu-      vaivém. Todas as manhãs, diz-nos, “reúno as tropas, falo com
nidade da constatação pelos alunos do que é o verdadeiro con-           eles sobre os assuntos da escola, motivo-os para terem outro
texto de trabalho. A BNL mostrou-se pronta a receber as tropas e        comportamento na escola. No final do dia, têm de fazer o relató-
todos queriam vir para a Marinha, pois as suas idealizações iam         rio para levar para a escola, ajudo-os e explico-lhes como devem
ao encontro das aspirações que têm na vida”.                            redigir um relatório. Não é só «Depois… Depois», têm de arran-
                                                                        jar uma outra palavra…”. Também da parte do 1SAR Fialho, há a
  Uma vez por semana estão na BNL e foi lá que conversámos              preocupação da integração, as refeições são tomadas em conjun-
com eles.                                                               to, falam com eles dos problemas que têm na escola, “o pessoal
                                                                        da Marinha tem filhos da idade deles”.
  No Serviço de Apoio Oficinal, o Francisco Torrado, filho de ma-
rinheiro e com ar de menino, gosta de trabalhar com madeira,              Por fim, a Margarida Peneda, a trabalhar na Central Telefónica,
arranjar cadeiras, mas o que gosta mais é de “fazer molduras,           encontrou na telefonista Dulce Ramos a orientação necessária
até aqui é preciso saber matemática… mas o SCH Mota tem pa-             para ter as noções de atendimento telefónico e atendimento ao
ciência para ensinar”. Apesar de estar sozinho, “há bom relacio-        público, “muito útil porque a minha mãe tem um supermerca-
namento, falo com os mais velhos sobre os problemas e ajudam-           do”. Encara a sua passagem pela Marinha como “um crescimento
me”. Quando há aniversários, almoços de confraternização, ele           em termos de maturidade e de aprendizagem no relacionamento
faz parte do grupo, é mais um do grupo.                                 com os outros”.

  No Serviço de Eletricidade, estão o Diogo Rouxinol e o Rúben Sil-       Acabamos como começámos, com o título deste artigo “E se
va, que completam respetivamente 15 e 18 anos ainda este ano. O         um estágio puder modificar a vida de um jovem?”. Não se trata
Diogo é a primeira vez que trabalha em eletricidade e o Rúben re-       de uma pergunta retórica, mas a forma de dar a conhecer a im-
vela-nos o seu sonho: tocar piano eletrónico, mas por agora “con-       portância da capacidade de resposta que a Marinha, neste caso
tamos a luz, medimos a voltagem, limpamos os disjuntores”. O            particular a BNL e respetivos serviços, tem dado à sociedade civil,
1TEN Leite, chefe do Serviço de Eletricidade, afirma que a presen-       demonstrando uma forte vontade de dar o melhor e contribuir
ça de estagiários é “vantajosa para o serviço e fomenta a partilha      para a formação profissional e pessoal de muitos jovens e adul-
de experiências, a participação nas atividades normais do serviço”.     tos enquanto cidadãos inteiros.

  Na Messe de Sargentos e Praças, esperavam-nos a íris Rosa,                                                                          Ana Paula Duarte e Silva
o Manuel Augusto e a Romana Lopes. Embora a Íris tivesse co-
meçado pela lavandaria, não gostava “porque estava sempre de                                                                  Direção do Serviço de Formação
pé, não havia movimento”. Veio para a messe, “Gosto de servir
sopas na linha, as pessoas falam comigo. Não estava habituada a

                                                                                              OUTUBRO 2014 19
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