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REVISTA DA ARMADA | 526


                                               FARÓIS






              UMA LUZ QUE NOS GUIA DO PASSADO AO FUTURO






































          INTRODUÇÃO                        navegáveis e em perigos submersos, bem   a sua idenƟ fi cação. Porém, a segurança da
                                            como à instalação de fogueiras com toros   navegação só ganhou um importante e deci-
               faróis são locais de fascínio para as   de madeira ou carvão de pedra para sina-  sivo incremento, quando as marcas ganha-
         Os  populações, quer pela ideia mísƟ ca   lizar pontas de terra proeminentes ou indi-  ram idenƟ dade através de caracterísƟ cas
          do seu isolamento, quer pelo riquíssimo   car a localização de portos. Com o decorrer   disƟ ntas, o ritmo da luz, com relâmpagos e
          património arquitetónico e cienơ fi co  que   dos anos, naturalmente estas marcas foram   períodos de escuridão.
          lhes está associado, sendo a permanente   evoluindo; primeiro passaram a apresen-
          redescoberta deste património uma cons-                              PORTUGAL – O INÍCIO
          tante afi rmação da nossa história e das   Farol de Braseira no chão
          nossas raízes.                                                       DOS FARÓIS
           A origem do assinalamento maríƟ mo                                    Portugal, país de arrojados marinhei-
          remonta à época em que os primeiros habi-                            ros que, a parƟ r do início do século XV,
          tantes das povoações litorais se aventura-                           não hesitaram em afastar-se da proteção
          ram no mar e, desde logo, senƟ ram a neces-                          da costa e enfrentar o desconhecido. Na
          sidade de estabelecer sinais luminosos                               altura, o monopólio do comércio de espe-
          em terra que pudessem uƟ lizar, durante a                            ciarias pertencia aos italianos, que uƟ liza-
          noite, como pontos de referência. Contudo,                           vam o Mar Mediterrâneo como canal de
          só a orientação noturna não era sufi ciente,                          comunicação e transporte das mercadorias
          embora permiƟ sse um razoável conheci-                               vindas do oriente, cobrando preços exorbi-
          mento da sua posição. Também o conforto                              tantes. O desejo de ter acesso direto a este
          e o assinalamento de perigos se consƟ tuí-                           interessante comércio, levou a que os portu-
          ram como fatores dinamizadores do desen-  tar uma luz fi xa, de grande uƟ lidade essen-  gueses se virassem para o mar, na tentaƟ va
          volvimento; o conforto gerado pela noção   cialmente para os conhecedores da área da   de descobrir um novo caminho maríƟ mo
          de proximidade a terra, em situações de   navegação, porque com o crescimento das   para a Índia, que viria a acontecer em 1498,
          mau tempo, e o assinalamento de perigos,   povoações litorais estas eram facilmente   quando Vasco da Gama chegou a Calecute,
          em especial de noite ou com má visibili-  confundidas com as restantes luzes situadas   podendo disfrutar de todos os beneİ cios do
          dade, permiƟ ndo a defi nição do contorno   em terra. Mais tarde, as luzes foram apre-  comércio direto com o oriente.
          de costa e dos obstáculos adjacentes.  sentando cores diferentes e a sua colocação   Para tal, estudaram o comportamento dos
           Esta necessidade deu origem à colocação   deixou de ser aleatória passando a obedecer   ventos e das correntes e passaram a uƟ li-
          de sinais improvisados nas margens das vias   a critérios, melhorando signifi caƟ vamente   zá-los a seu favor. Construíram caravelas


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