Page 17 - Revista da Armada
P. 17
REVISTA DA ARMADA | 526
FARÓIS
UMA LUZ QUE NOS GUIA DO PASSADO AO FUTURO
INTRODUÇÃO navegáveis e em perigos submersos, bem a sua idenƟ fi cação. Porém, a segurança da
como à instalação de fogueiras com toros navegação só ganhou um importante e deci-
faróis são locais de fascínio para as de madeira ou carvão de pedra para sina- sivo incremento, quando as marcas ganha-
Os populações, quer pela ideia mísƟ ca lizar pontas de terra proeminentes ou indi- ram idenƟ dade através de caracterísƟ cas
do seu isolamento, quer pelo riquíssimo car a localização de portos. Com o decorrer disƟ ntas, o ritmo da luz, com relâmpagos e
património arquitetónico e cienơ fi co que dos anos, naturalmente estas marcas foram períodos de escuridão.
lhes está associado, sendo a permanente evoluindo; primeiro passaram a apresen-
redescoberta deste património uma cons- PORTUGAL – O INÍCIO
tante afi rmação da nossa história e das Farol de Braseira no chão
nossas raízes. DOS FARÓIS
A origem do assinalamento maríƟ mo Portugal, país de arrojados marinhei-
remonta à época em que os primeiros habi- ros que, a parƟ r do início do século XV,
tantes das povoações litorais se aventura- não hesitaram em afastar-se da proteção
ram no mar e, desde logo, senƟ ram a neces- da costa e enfrentar o desconhecido. Na
sidade de estabelecer sinais luminosos altura, o monopólio do comércio de espe-
em terra que pudessem uƟ lizar, durante a ciarias pertencia aos italianos, que uƟ liza-
noite, como pontos de referência. Contudo, vam o Mar Mediterrâneo como canal de
só a orientação noturna não era sufi ciente, comunicação e transporte das mercadorias
embora permiƟ sse um razoável conheci- vindas do oriente, cobrando preços exorbi-
mento da sua posição. Também o conforto tantes. O desejo de ter acesso direto a este
e o assinalamento de perigos se consƟ tuí- interessante comércio, levou a que os portu-
ram como fatores dinamizadores do desen- tar uma luz fi xa, de grande uƟ lidade essen- gueses se virassem para o mar, na tentaƟ va
volvimento; o conforto gerado pela noção cialmente para os conhecedores da área da de descobrir um novo caminho maríƟ mo
de proximidade a terra, em situações de navegação, porque com o crescimento das para a Índia, que viria a acontecer em 1498,
mau tempo, e o assinalamento de perigos, povoações litorais estas eram facilmente quando Vasco da Gama chegou a Calecute,
em especial de noite ou com má visibili- confundidas com as restantes luzes situadas podendo disfrutar de todos os beneİ cios do
dade, permiƟ ndo a defi nição do contorno em terra. Mais tarde, as luzes foram apre- comércio direto com o oriente.
de costa e dos obstáculos adjacentes. sentando cores diferentes e a sua colocação Para tal, estudaram o comportamento dos
Esta necessidade deu origem à colocação deixou de ser aleatória passando a obedecer ventos e das correntes e passaram a uƟ li-
de sinais improvisados nas margens das vias a critérios, melhorando signifi caƟ vamente zá-los a seu favor. Construíram caravelas
FEVEREIRO 2018 17