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REVISTA DA ARMADA | 525 REVISTA DA ARMADA | 531
SUMÁRIO
DOS FUZILEIROS 04 Stratεgia
02 700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento OS VALORES E MÉRITOS 40
07 NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa
09 Lusitano 17
18 Cerimónia Militar DIPLOMACIA DE CANHONEIRA
22 Direito do Mar e Direito Marítimo (13)
24 Academia de Marinha “A frota passaria então ao longo da costa, perante os olhos das outras cidades, exibindo a força de Atenas”, Tucídides
25 Notícias “A suprema arte da guerra é subjugar o inimigo sem lutar”, Sun Tzu
28 Novas Histórias da Botica (66) 11 BALANÇO DAS INTRODUÇÃO montar a ideia prevalecente nalguns círcu- então, contra estrangeiros no seu territó-
los de que a diplomacia de canhoneira era
rio ou na jurisdição do seu estado”.
29 Estórias (37) ATIVIDADES 2017 – MARINHA palavra canhoneira (ou gunboat, em uma técnica obsoleta, que deixara de fazer nais sobre esta definição.
Justificam-se algumas explicações adicio-
A língua inglesa) generalizou-se a partir
sentido com o fim da era Vitoriana, devido
30 Vigia da História (97) de meados do séc. XIX, usando-se para à alteração dos comportamentos políticos ou ameaça do uso limitado da força”. No
Primeiro, Cable coloca a ênfase no “uso
classificar navios de pequeno e médio
e à evolução da tecnologia naval. Nesse
31 Desporto porte, armados com um ou mais canhões sentido, Cable mostrou à evidência e com limiar inferior, tem que haver uma ameaça
e normalmente usados para tarefas de
(por mais delicada e discreta que seja) de
grande profusão de exemplos, como as
32 Saúde para Todos (51) defesa costeira e de imposição da lei. Du- marinhas foram extensivamente usadas empregar a força naval em apoio de obje-
rante a época Vitoriana (1837-1876), a
tivos diplomáticos concretos, sendo que
pelos respetivos governos, para garantir
33 Quarto de Folga canhoneira ficou muito associada a uma vantagens ou evitar perdas nas relações Cable considera que, se a mera ameaça
forma de diplomacia naval, caracterizada
internacionais, durante o período com-
atingir o objetivo pretendido, então essa é
34 Notícias Pessoais / Convívios pela coerção deliberada do forte relativa- preendido entre 1919 (i.e., após o fim da a situação em que “a força naval limitada
mente ao fraco, conhecida como a diplo-
I Grande Guerra) e 1969.
é empregue da forma mais económica”.
CC Símbolos Heráldicos macia de canhoneira. a que fossem publicadas novas edições, No limiar superior, o uso da força deve – a
O extraordinário sucesso do livro levou
Em Portugal, as canhoneiras constituí-
ATIVIDADES 2017 – AMN 20 revistas e atualizadas, em 1981 (estenden- ficando aquém do que possa ser conside-
acontecer – ser limitado na sua violência,
BALANÇO DAS
ram a espinha dorsal da Marinha Portu-
guesa entre cerca de 1880 e o pós-I Gran-
de Guerra, representando cerca de 2/3 do do o período analisado até 1979, o que rado um ato de guerra.
motivou o novo título Gunboat Diplomacy
Isso leva à segunda explicação, que visa
total de navios combatentes. 1919-1979) e em 1994 (alargando o perío- esclarecer o que é que pode (ou não)
Por alturas da I Grande Guerra, as ca- do até 1991 e reformulando outra vez o tí- ser considerado um ato de guerra. Cable
nhoneiras passaram a ser designadas, tulo para Gunboat Diplomacy 1919-1991). alerta para a grande dificuldade em fazer
mais comummente, como avisos e, mais essa distinção, pois nenhuma definição
tarde, como patrulhas, corvetas e até, DIPLOMACIA DE CANHONEIRA conseguirá aplicar-se a todos os casos.
nalguns casos, fragatas. Contudo, o facto Não obstante, para efeitos do seu estudo,
do termo canhoneira ter caído em desu- James Cable define diplomacia de ca- Cable definiu ato de guerra como sendo
so, não implicava que a diplomacia de ca- nhoneira como sendo “o uso ou ameaça o uso da força armada contra um estado
nhoneira também estivesse ultrapassada. do uso limitado da força, por meios navais, estrangeiro, com o objetivo primário de o
Até porque, para exercer diplomacia de sem constituir um ato de guerra, de forma prejudicar, (i) como parte de uma política
canhoneira, não é necessário que se em- a obter vantagens ou a evitar perdas, no pré-existente de agressão relativamen-
preguem obrigatoriamente canhoneiras, quadro de uma disputa internacional ou, te a esse estado, (ii) como início de hos-
podem usar-se outros meios navais ou
Capa mesmo a aviação naval ou os fuzileiros. Canhoneiras Portuguesas Bengo e Mandovi (1890).
Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme Ou seja, a diplomacia de canhoneira deve
da Brigada Real da Marinha.
Foto SMOR L Almeida de Carvalho ser entendida não no seu sentido literal,
mas sim num sentido conceptual, que-
rendo significar uma forma de diplomacia
Revista da
ARMADA coerciva exercida com recurso a capacida-
des de âmbito naval.
Entretanto, em 1971, James Cable (1920-
Publicação Oficial da Marinha Diretor Desenho Gráfico E-mail da Revista da Armada 2001), um oficial do exército e embaixador
Periodicidade mensal CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria revista.armada@marinha.pt
Nº 525 / Ano XLVII Chefe de Redação ra.sec@marinha.pt britânico, escreveu uma obra seminal inti-
Janeiro 2017 Administração, Redação e Publicidade tulada Gunboat Diplomacy: Political Appli-
CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Revista da Armada – Edifício das Instalações Paginação eletrónica e produção
Redatora Centrais da Marinha – Rua do Arsenal Página Ímpar, Lda. cations of Limited Naval Force (1971), em
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ISSN 0870-9343 SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho Tiragem média mensal: 4000 exemplares políticos. No seu livro, Cable procurou des-
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