Page 285 - Revista da Armada
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Temos. fina lmente. o nosso mais antigo rochedo his-  Em presenç'l deste obst<Ículo. o desventurado navega-
         tórico  com  inscrições  fci tas  por  homens da  Mmada  de   dor  deixou  ali  escritos gnlvados  na  rocha. que  além  do
         DioJ;o Cão. talvez em 1485.                         mais. bem podem representar a sua desilus'-lo. no ch'lm;l-
            E passivei que a ameaçadora desolação do terrível Na-  do grande sonho d;1 índia. de D. Joiio I I.
         mibe. onde n<1o eTa ({Ieil  o ab,lslecimento de lÍgua e muito
         menos  de  viveres.  tenha  desencorajado  o  navegador
         tr;lllsrnontano  de  prosseguir.  na  segunda  viagem.  para
         além do cabo do P<tdrào (<tctual Cape CI'O.u dos ingleses).
         Desiludido.  retrocedeu em direcçflo  ao  reino.  Nesse  re-
         gresso deve ler fundeado nov,lmentc  no estu:írio do Zai-
         re. onde. certamente. a imcnsidflo do rio o levou a pensar
         numa possível passagem para a Índia!  Daí ter-se lançado.
         corajosamente. na l:spantosa i.lvCnlura de o subir nos seus
         navios. qUl: levou (só Deus sabe como!) até  170 quilóme-
         tros da  fOl.  onde encontrou  as  primeiras cachoeiras.  no                           Ceeí!io Moreim.
         Iclala. que o impediram de continu'lr.                                                      ,·\·/.· ·/I/<lr.1I




          o raio verde






             A dura vida do mar, cheia de imprevisíveis perigos   com o binóculo, e tive a sorte de observar a fugaz apa-
          e  ameaças.  concede,  em contrapartida,  alguns  mo·   rição de  um  raio verde que surgiu numa fracção de
          mentos decalma e de encantamento.                  segundo. quando a extremidade do limbo superior do
             Assim acontece a bordo quando o mar é tranquilo,   astro-rei desapareceu no horizonte. Foi tudo tão rápi-
          o  vento  bonançoso,  a  atmosfera  límpida..  Nessas   do e surpreendente que fiquei com a ideia de ter tido
          ocasiões  os  marinheiros  podem  disfrutar,  efectiva·   uma visão!
          mente, de encantos da natureza que não estão ao aI·   Segundo me pareceu,  quandO o  astro se estava
          cance dos que vivem em terra. É a estranha beleza da   aproximando do seu ocaso, foram desaparecendo su-
          água com cambiantes tão diferentes, é o movimento   cessivamente -  mas muito rapidamente -  os raios
          alegre de peixes e  gaivotas à  volta do navio, são os   vermelhos,  alaranjados  e  amarelos,  seguindo'se os
          esfumados contornos da costa e a  policromia das po-  verdes, azuis e violetas.
          voações espalhadas por ela,  são as manobras, esta-   A  impressão final dominante foi  a  verde e  não a
          belecidas em regras rígidas.  dos navios que cruzam   azulou violeta, talvez por causa da menor sensibilida-
          as nossas aguas. são os pores-do,Sol maravilhosos, é   de dos olhos a estas cores e ainda pela sua menor in-
          a Lua majestosa a rasgar as trevas e a iluminar o hori-  tensidade.
          zonte ...                                             Afirmam os cientistas que este fenómeno é  atri·
             São estes alguns dos mais reconfortantes momen-  buído a  uma forte  refracção astronómica e  à  disper·
          tos para aqueles que, longe da terra e da familia, ga·   são prismática, verificando-se quando 1(0 poder de re·
          nham no mar o  pão de cada dia.  Embora não muito   frangência da atmosfera é  anormalmente elevado à
          frequentes-o mar, normalmente. é bravo e desagra-  superfície do globo» (*).
          dável -  todos tivemos ocasião de os desfrutar.  Há,   Aos camaradas que ainda navegam (como eu os
          porém, outros que, pela sua raridade, só alguns privi-  invejo ... )  aconsellio,  sempre  que  se  verifiquem  as
          legiados podem ver.                                condições  mencionadas,  a  assestarem os binóculos
                                                             para o Sol, ao nascer e ao pôr. Pode muito bem suce·
                                                             der que tenham também a  sorte de ver o raio verde;
                                                             um  fenómeno  que  alguns  pensam  ser  uma  ficção,
             Nodia 6 de Março de 1961, a bordo do aviso ((Gon·   mas que é uma realidade ..
         çalves Zarco»,  navegando no mar da China, em via·
         gem  de  Macau  para  Timor,  com  bom  tempo,  mar
         chão, céu limpo e excelente visibilidade, tive oportu-
         nidade de observar, pela primeira e  única vez na mi-
         nha vida, o  fenómeno conhecido pelo nome de raio
          verde.                                                                             Fragoso de Matos,
             Em  zonas  tropicais,  ao nascer ou  pôr·do-Sol,  em                                        v/alm
         condições especiais de tempo e  determinados valo-
         res de temperatura e  humidade relativa,  há  muitas
                                                                (') T  R.  Espírito Santo (uEnciclopedia Luso·Brasileira de Cul'
         probabilidades de ele se dar.  E  foi  o que aconteceu
                                                             tu ra~, Verbo).
         nesse dia.
             Observava  atentamente  o  majestoso  pôr·do·Sol   ••••••••••••••••••••••••••••••
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