Page 296 - Revista da Armada
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Antologia do Mar
e dos Marinheiros
Eduardo
de Noronha
Pelo cap .. lrag. Cristóvio Monil7l
Chamava-se José Eduardo Alves de Noronha, e nasceu
em 26 de Outubro de 1859, f'rn Lisboa, na cidade onde veio a
morrer, oitenta e nove anos depois, a 26 de Setembro de 1948:
longa vida, que consumiu na escrita de uma obra vaSlíSSima,~
qual se publicaram mais de uma centena de livros. ISlo para ai
da actividade que desenvolveu quer como jornalista, trabal~ n-
do cm várias publicações (<<A Actualidade,., do Porto,.,A A j.
ca Oriental», «0 Quelimancnsc .. , ,,0 Futuro», de Lourenço
Marques, c em Lisboa a .. Tarde .. , .. A Tribuna", o «Diário de
Noticias» c o .. Novidades,., onde foi sccretârio de redacção), (FOlOdoStn'iço
quer ainda como Ifadutor de várias peças de teatro para a famo- dI' DoclltJ1t'lIIlIçdo
sa companhia Rosas e Brasão (desde .. O Ladrão .. , de Bernstein, do " Diário dt' Nmrâ/U.).
até ,,0 Avô ... de Benito Pérez Galdós) e de dezenas de livros gráfica do distrito de Lourenço Marques, para a direcção dos
célebres. eomo "Quo Vadis? .. e "Bcn·Huno. onze volumes do «Dicionário Popula,..., e para o magistério no
Eduardo de Noronha começou por abraçar, logo aosquinze ensino técnico.
anos. a carreira das armas, aliSlando·se como voluntário no Re- A extraordinária fecundidade de Eduardo dc Noronha como
gimento de Infantaria do Porto. cidade em que frequento~ O ins· escritor, se não lhe conquistou um lugar destacado nas histórias
tituto Politécnico; sendo já alferes. partiu em 1879 para Africa, de literatura portugucsa, permitiu que a sua capacidade narrati-
onde à margem da sua acção mititar, nas campanhas de Matiba· va, e o seu pendor para romancear figuras e factos históricos,
ne, ela Zambézia, de Chirinda. e da defesa de Lourenço Mar· numa linguagem dcsprctcnciosa e popular, se estendesse aos
ques contra os assaltos do régulo Zixaxa, foi secretário do gover· m.,is diversos aspectos. e neles encontrasse no seu tempo inú:
no da capital moçambicana, condutor de obras pUblicas e chefe meros leitorcs. Muitos dos seus livros, esgotados e não reedita-
de repartição de agrimensura. Regressando à metrópole em dos. constituem hoje raridades bibliográficas. restando apenas
1894, e atingido o posto de major, viria a abandonar a vida mili· dois deles no mercado, em edições qU se vão sucedendo: «José
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tar com cinquenta e um anos, oque lhe permitiu entregar·se pie. do Telhado .. e «José do Tclhado cm Africa ... ",romances basea-
namente à sua verdadeira vocação de escritor e jornalista. multi· dos em factos históricos c documentos e informações absoluta-
plicando a colaboração em jornais e revistas, e intensificado a mente verídicos .. sobre a vida aventurosa de José Teixeira da Sil-
produção de uma obra extraordinariamente extensa e diversifi· va. que assim se chamava o mais famoso dos bandoleiros portu·
cada. onde figuram, entre tantos outros, tltulos como "No Bra· gueses. o José do Telhado herói da tradição popular. que das
sil .. (narrativa marítima). ,,0 Herói de Chaimite .. (que tem honras da Torre e Espada foi acabar na miséria do degredo afri·
Mouzinho como protagonista). ",À Rédea Solta .. (contos) ... À cano e perpétuo.
Esquina do Chiado» (memórias de um galego), "A Dança no Duas passagens de ",José do Telhado em África .. , extrafdas
Estrangeiro e em Portugal»,"O Agonizar de Uma Dinastia». da viagem do degredado a caminho de Angola, a bordo de um
«A Questão do Oriente» ... A Marqucsa de Chaves», .. As Mu· brigue da Armada, o ",Pedro Nunes .. , constituem a nossa antolo-
Iheres de Pernambuco .. , .. Na Rússia» ... A Sociedade do Deli· gia de Eduardo de Noronha: são páginas em que o autor junta
rio .. , uma .. História das Touradas .. (aparecida em 1900, e pre- ã história a fantasia, e onde a lenda de generoso cavalheirismo
ciosamente ilustrada sob a direcção de Roque Gamciro), «Diá· do bandoleiro se estende aos marinheiros, no navio que a ferros
rio de Um Policia... «Milionário Artista ... «O Extcrmíniode Um começou por prendê.lo. e já tão cedo o soltava, quando a terra
Povo .. e «A Apostasia de Um Dispo ... E apesar de tamanha bi- ainda mal se perdia de vista -a terra ondc José do Telhado não
bliografia. sobrou-Ihc tcmpo para a autoria de uma carta topo- iria voltar.
De «JOSÉ DO TELHADO Degredado Ião perigoso não podia em-
barcar em navio ordinário. Revollaria a
EM ÁFRICA» (1923) Iripulação ou fugiria no primeiro momen-
10 propicio. Concordaram Iodas as opi-
niões nesta evemualidade. José do Telha-
do recolheu a um dos ponlões fundeados
no Tejo até que as autoridades de marinha
deliberassem qual a embarcação em que
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