Page 41 - Revista da Armada
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•  Nota de Abertura












           Os Militares e os Outros








               De hã uns tempos a esta parte criou-se em Por-  mes da Costa assumiu o  poder, em 1926; quando
           tugal. e  nalguns países mais. uma certa má vonta-  partiam, e chegavam ao destino, nas guerras colo-
           de contra as instituições militares e, consequente-  niais,1961/74,  e, finalmente, quando derrubaram
           mente, contra os próprios militares.              o regime de Salazar, neste último ano.
               Claro que o ideal, e  talvez um dia cheguemos    Então sim,  bateram-lhes palmas,  deram-lhes
            a  isso, seria poder-se passar sem uma coisa nem   vivas, as senhoras atiravam-lhes beijos e flores ...
           outra, por vivermos em paz permanente, sem ódio   Depois, euforia passada, esqueceram tudo e volta-
            nem invejas, sem as diferenças abismais existen-  ram a dizer que não servem nem são precisos para
            tes actualmente entre nações ricas e pobres, num   nada!
            mundo em que as invasões de fronteiras fossem
            apenas de turistas, de grupos folclóricos e  cultu-
            rais, de embaixadas desportivas ...                 Os militares existem porque são necessârios,
               Mas. infelizmente, estamos longe disso e vive-  tal como os médicos, os j\.ÚZes, os agricultores, os
            mos em constante conflito, tanto a  IÚvel interno   comerciantes ... A  sua vida é  toda devotada à  Pá-
            como entre nações, essencialInente porque todos   tria, tal como a dos sacerdotes a Deus, as dos mé-
            querem o poder e o mando e, para o conquistar uti-  dicos à saúde, a dos juizes à justiça ...
            lizam quaisquer meios, incluindo os mais violen-    Cada vez é  mais difícil ser militar, tão poucas
            tos e injustos.                                  são os aliciantes materiais e  tão pesadas as res-
               Daí que as guerras e  as convulsões sociais se-  ponsabilidades  inerentes  à  profissão.  Por  isso
            jam, por enquanto, uma fatalidade com que temos   mesmo  d~ixem que  eles  desempenhem  digna-
            que nos conformar. Isto significa que, enquanto o   mente as suas obrigações, compr~endam-nos nas
            mundo for O que é, e  não o que devia ser, a existên-  suas  virtudes  e  seus  defeitos,  respeitem-nos  e
            cia dos militares e da sua máquina de guerra, é ab-  olhem-nos com a  amizade e  simpatia que mere-
            solutamente necessária. Tudo  isto é  tão claro  e   cem. Sóisso!
            evidente que até o  senhor de La Palisse,  debru-
            çando-se  sobre o  assunto,  chegaria às mesmas
            conclusões!                                         Estas  e  outras  considerações  vieram-me  à
                                                             mente durante o II  Colóquio da imprensa Militar,
                                                             no contacto que tive com elementos de todos os
               Curioso é  que os militares, que em tempo de   outros ramos das Forças Armadas e Militarizadas.
            paz entre as nações e dentro destas, são conside-  Amizade, compreensão, respeito mútuo e  educa·
            rados um peso morto, prejudicial ao país pelos en-  ção, foram as notas dominantes em todas as ses-
            cargos que lhe acarreta, logo que surge um confli-  sões de trabalho, independentemente de uns se-
            to emergem da sombra e  passam a ser uns ídolos   rem generais e almirantes e outros majores e capi-
            e a esperança de salvação.                       tães-de-fragata. Foi uma autêntica lição de civis-
               É só ver como foram aclamados em momentos     mo dada por ... militares.
            cruciais da nossa história, quando com o seu esfor-  Pena que a  Televisão, que tantos e  tão varia-
            ço e  o  seu sacrificio resolveram situações delica-  dos  colóquios  transmite,  não  tivesse  mostrado
            das em que o  pais se viu envolvido.  Para não iI   este nosso, para que todos vissem como foi  dife-
            mais longe no tempo, lembro as ovações de que fo-  rente ...
            ram alvo quando mplantaram a República, junta-
            mente com o  povo; quando Sidónio Pais tomou o
            poder,  em  1917;  quando regressaram vitoriosos
            da Primeira Grande Guerra, em 1918; quando Go-                                            cI ....



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