Page 221 - Revista da Armada
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•  Nota de Abertura









                                         Tradições






           U      m  povo sem tradições é  um povo morto e
                  se  as tem  e  não as respeita está ... mori-
                  bundo.  Nós.  portugueses,  neste  aspecto
            estamos bem vivos,  pois, o nosso país, de norte
           a sul, e Lisboa em particular, pode dizer-se que é
           um mar de tradições: umas muito antigas e outras
           mais recentes, mas todas bem nossas.
               Reatando  uma das mais  recentes,  a  Câmara
           Municipal de Lisboa tomou a iniciativa de realizar
           este ano, integrado nas Festas da Cidade. o desfile
           das Marchas Populares, na Avenida da Liberdade.
           Iniciativa a todos os títulos louvável, mostra quanto
            a Câmara está atenta e sensibilizada às tradições
            desta nossa velha capital,  que  todos amamos e
                                                             o povo acorria em massa, 06 pais levavam os filhos,
            desejamos ver alegre e feliz.
                                                             os avós levavam os netos, os maridos levavam as
               Vamos  assim  ver desfilar  representações  de   mulheres e todos vibravam de patriotisino, todos
            vários  bairros.  nomeadamente os mais típicos e
                                                             se emocionavam, todos aplaudiam ( ... )>>, como se
            antigos  -  Alfama.  Mouraria,  Madragoa,  Bairro
                                                             dizia na revista atrás referida.
            Alto. etc. Nos seus trajes, nos seus arcos, nas suas   Recordamos ainda -  e  com que saudade I -
            músicas, nas suas danças ... veremos simboliza~os
                                                             alguns desfiles em que tomámos pane, com os ~­
            passos da nossa história gloriosa. feita de alegrias   seios a abarrotar de gente (ver fotografia publicada
            e tristezas. no mar, em terIa e no ar. É um espectá-
                                                             na pág. 4donosson.(I  199/Mai088), orgulhosos do
            culo deslumbrante de cor e movimento que os lis-
                                                             nosso pelotão ou companhia e  da farda que ves-
            boetas muito apreciam, tal como os estrangeiros
                                                             tfamos,  marchando  naquele passo miudinho e  à
            que nessa época nos visitam.                     vontade, típico da Marinha, olhando com amizade
               Este desfile  realizou-s9  pela primeira vez  na
                                                             aquele povo que nos aplaudia, com pena de o não
            noite de 10 de Junho de 1934 durante as grandes
                                                             podermos aplaudir também.
            festas  de  Lisboa  e  foi  um  verdadeiro  sucesso_
                                                                Considero  preciOSO  aquele  irmanar  de  senti-
            Depois disso, tem-se repetido, com algumas inter-
                                                             mentos entre portugueses, os que marchavam e os
            rupções, na véspera do dia de Santo António. tendo
                                                             que  assistiam  entusiasmados  com a  dignidade,
            sido suspenso em 1983, até ao presente.
                                                             aprumo, e disciplina dos seus militares, desses que
                                                             vindo do seu meio abraçam a mais nobre das pro-
                                  *                          fissões , aquela que tudo lhes pode exigir, incluin-
                                                             do a  própria vida.
               Este  caso  veio  lembrar-me  outro,  já  tratado
                                                                Por isso insistimos, pedindo a quem de direito,
            nesta Revista (ver n_ (I  180/Set. 86): o  dos desfiles
                                                             que as paradas e  desfiles militares  voltem a  ser
            e  paradas  militares  que,  por  tradição  também,
                                                             naquele cenário -  parada no Parque. destile na
            decorriam na mesma Avenida da Liberdade. E, se
                                                             Avenida e  destroçar no Terreiro do Paço, ou vice-
            no caso das marchas a tradição tem apenas cerca
                                                             -versa, conforme julgado mais conveniente.
            de 50 anos, a dos desfiles militares é secular, pois,   A  provar a  nossa razão,  apenas um aponta-
            segundo  cremos,  o  primeiro  desfile  de  tropas
                                                             mento  recolhido  das  reportagens  referentes  às
            naquela  avenida  realizou-se  em  22  de  Maio  de
                                                             oomemorações do 25 de Abril, em Belém. Nenhuma
            1886, dia do casamento do infante D. Carlos com
                                                             atribufa mais que algumas centenas de pessoas na
            a  princesa D.  Amélia de Orleães.
                                                             assistência_ ..  Que tristeza!
               E desde então quantos e quantos ali se fizeram,
            11( ••• ) no coração da cidade, na sua sala de visitas
            entre o  Parque Eduardo VII e  o Terreiro do Paço,
            com a tribuna montada na Avenida da Liberdade.
                                                                                                             3
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