Page 316 - Revista da Armada
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ACADEMIA DE MARINHA
EXPOSiÇÃO DE PI~IURA
A sessão de encerramento da exposição Referindo-se ao nosso pafs recordou remonta a tempos imemoriais. Povo de ma-
sobre .O Mar e Motivos Marftimos_ que teve como Portugal. Mediterrânico e também reantes e mercadores marítimos, de.'óCllIpe-
lugar na Academia no dia 9 de Julho, foi Atlântico, teve uma acçlio de primeira gran- nhou um papel importante no desenrolar tia
presidida pelo Chefe do Estado-Maior da deza na exportaçlio da arte europeia para História de Ponugal. A sua panicipaçllo no
Amluda, ALM Fuzela da Ponte. outros continentes. além da revelação de empreendimento dos descobrimentos mllrlti·
Na alocução do presidente da Academia outras artes e sensibilidades que se tomaram mos e de expansão de Portugal no Mundo foi
CALM Rogério d'Oliveira foi focado que o moda na Europa, relevante, designadamente 00 campo da cons-
mar. com ludo o que nele se desenvolve é o • truÇio naval. Alguns dos seus filhos (OIlU1l
factor detenninante da identidade nacional e navegadores ilustres como Gonçalo Velho
que a cultura é um dos elementos informa- SESSÃO CULTURAL Cabnli, o povoador dos Açores, Fernão MIlT-
dores da consciência nacional. força anrmica EM VIANA DO C~"ELO Uns, explorndor da costa africana, Joio Velho
que está na base da vontade colectiva e deter- participante no descobrimento do Congo,
mina a capacidade de realizaçãode um povo. Como se vai tomando tradicional, a Aca- Campos Tourinho explorador do Brasil, João
Segundo um pensador alemão. _a cultura de demia de Marinha tem·se deslocado anual- Álvares Fagundes descobridor, ou melhor.
um povo é o sangue do seu ser-. mente a uma cidade do País para nela realizar explorador dos mares da Tem Nova.
A culrurn do mar assume assim uma dupla uma sessão cultural. Mesmo antes da época áurea dos Desco-
relevância porque o mar. por um lado é fonte Este ano, a convite da respectiva Câmara brimentos já Viana ela Foz do Lima era um
incomensurável de riquezas. quando os da Municipal, foi a Viana do Castelo, cidade importante elo da ligaçâo comercial com os
terra se vão exaurindo. e nele reside a melhor cuja história está profundamente ligada ao portos do norte da Europa. nomeadamente
esperança de independência económica do mar e às actividades marftimas, com um farol das ilhas Britânicas e da Flandres, Comércio
Pa(s, tanto pela posição wrau!gica, como que remonta ao século xm. que mais larde se havia de realçar com as
pelos seus recursos energéticos, biológicos e Em Julho passado, em sessão solene nos Ilhas Atlânticas e o Brasil.
minerais. Por outro lado o mar criou no antigos Paços do Concelho. presidida pelo A vocação marítima da cidade estJi his-
passado uma força centrifuga que se opôs à almirante Chefe do Estado-Maior da Armada toricamente bem demonstrada pelas obras
aglutinação com os outros povos jtM!ricos e foi apresentada a edição fac-simile, com portuárias realizadas nos primórdios da sua
originou a expansão marftima. que consoli- comentários e traduções em inglês, do Livro existencia como vila do Reino. O cais, O
dou a independência. da Fábrica das Naus. do padre Fernando de marachão. o paredão, as balizas de barra são
A pintura e outras artes plásticas sobre os Oliveira. um dos mais notáveis representantes exemplos arqueologicamente comprovados.
motivos do mar foram estimuladas e a res- do espírito da Renascença em Portugal. A Entre as actividades marítimas ~ de salien-
posta dos artistas ao convite da Academia foi obra, editada pela Academia de Marinha com lar a que tem permanecido desde as primeirns
não só positiva como até entusiástica, de que o patrocínio dos estaleiros navais de Viana expedições aos mares da Terra Nova. dos
resultou uma afluência inesperada de um do Castelo, é reconhecida como um dos mais meados do século XV[ at~ aos nossos dias:
considerável número de obras. muitas de antigos tratados de construção naval em todo a pesca do bacalhau, que tantos heróis apaga-
excelente qualidade. o mundo e bem merecedora da homenagem dos, desconhecidos, arrebatou.
Os motivos vena<ios foram variados, em- que assim lhe foi prestada e que dignificou ~ a esta cidade cuja vetustez impõe só por
bora os propriamente náuticos. como navios igualmente os estaleiros navais que a 1Om3- si o maior respeito; ~ a esta cidade impreg-
e navegações, não abuooassem, aspecto que ram passiveI. Usaram da palavra o presidente nada de história marítima, que entende como
a Academia procura animar conferindo o da Câmara Municipal, dr. Branco Morais, o ninguém a influência do mar na vida dos
apoio científico e técnico aos artist.as que se presidente da Academia CALM Rogério povos, que a Academia de Marinha presta a
queiram dedicar a este campo e concedendo d'Oliveira e o dr. Fnmcisco Contente Domin- mais rendida homenagem. Direi mesmo que,
fllcilidades de embarque a bordo de navios. gues que falou sobre o Livro da Fábrica das com a presellÇ3 do Sr. ALM Chefe do Estado-
O afluxo do público foi razoável e maior Naus. ·Maior da Annada, é a própria Marinha que
seria se os órgãos de Comunieação Social No dia seguinte, no salão nobre da Câma- lhe rende este preito. ( ... ).
tivessem dado coberturajomalrstica ao acon- ra Municipal, a Academia levou a efeito uma
tecimento. sessão cultural, com comunicllÇÕCS do dr. An·
O espaço escolhido, embora não seja o tÓnio MaIOS dos Reis - .Viana do Castelo,
001 por não pennitir o circuito fechado, tem povoação de marinheiros do séc, XVI .. ; prof.
Ifadições, dado que se situa frente à Ribeira arq. Octávio l...ixa Filgueiras - -Novas ache-
das Naus onde funcionou a Escola Naval. a gas sobre os barcos tradicionais do rio Lima.
Biblioteca Central da Marinha e o Museu de e da prof.· dr.· Maria Augusta Lima Cruz
Marinha. t intenção da Academia organizar - _Os Descobrimentos na literatura portu-
de dois em dois anos uma exposiçilo semc- guesa dos anos quinhentos.,
lhante preferivelmente no mês de Novembro. Da brilhante alocução proferida pelo
A seguir à alocução do CALM Rogério CALM Rogério O'Oliveira na sessão solene
d'Oliveira procedeu-se à distribuição dos nos antigos Paços do Concelho, transcreve-
prémios, como a seguir se indica. mos as seguintes passagens:
Pintura - Correia Pinto, Luis Alberto. ( ... ) .. A presença da Academia de Mari·
Reys Santos e Rui Azevedo, nha na Princesa do lima não é SÓ uma atitude
Esculturo. - João Fragoso. Domingos protocolar, nem a esta se deve reportar o
Soores Branco e José Núncio. alcance desta cerimónia. Na presente época
Banda D~s~nhada - Carlos Alberto San· em que se comemoram os SOO anos do auge
lOS e Victor Mesquita, da nossa epopeia marítima. quando evocamos
A sessão tenninou com uma comunicação os nossos grandes navegadores não devemos
sobre -A Ane e o Mar- feita pelo professor esquecer as gentes que em terra através do
Nobre de Gusmão que referiu a imponância seu labor nas fainas marítimas, viabilizaram
do Mar na moldagem de civiliz.ações. culturas essa epopeia. Viana do Castelo. cidade mile-
e sensibilidades. Realidades históricas como nária fonnou-se e sedimentou-se com a con-
as do Báltico e a Liga Hansiática. das Repú' sistência do tempo, mas é 110 mar que assenta
blicas Comerciais do Mediterrâneo como essencialmente o orgulho das suas tradições
Veneza e Génova, mostram como o Mar históricas.
condicionou civilizações maritimas e fomen- Implantada num dos melhores ponos
tou espaços urbanos como Lisboa. naturais da costa ponuguesa a sua existência • •••••••••••••••••
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