Page 18 - Revista da Armada
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VICE·ALMIUNfE MAGALHAES CORREIA

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              uís António Magalhães Correia  nasceu em Lisboa, a 30 de  Atlântico. Parecia que o SOMO de looa uma geração de oficiais, a
              Junho de 1873.  Fez os estudos secundários no ColégiO  que pertencia Magalhães Correia, gaMava alento e a aprovação
         L Militar e alistou-$e depois como voluntário no Regimento  dos mais altos órgãos do poder político, finalmente dispostos a
         de Caçadores  n~ 9,  preparando-se para cumprir um contrato de  empenhar as  \'erbas necessárias ii sua realização. O que o novo
         doze anos de serviço. Contudo, em  1887, requeria a sua transfe-  Ministro da Marinha tinha entre mãos constituía um  verdadeiro
          rência  para a Armada, onde foi  incorporado, como Aspirante de  ressurgimento naval. Previa a formação de duas forças: uma para
          2i classe, a 11  de Agosto do mesmo ano, para iniciar O curso da  a defesa do espaço Atlântico, definido pelo Continente e Ilhas,
          Escola Naval.                                       constituída por contra-torpedeiros, cruzadores ligeiros e 5ubmari·
           Foi  promovido a Guarda-Marinha em  Maio de 1891, a  nos; e outra para defesa do território ultramarino, assente em
          Segundo-Tenente em Novembro de 1892 e a Primeiro-Tenente  flotilhas de avisos e cruzadores apoiadas por um transporte de
          em 1897, dando ÍlÚdo a uma  carreira brilhante onde o pendor  hidroaviões.  Numa  primeira fase,  seriam construídos um
          ope:radonal se \'ai cruzando com missões internacionais, que lhe  cruzador, seis contra-torpedeiros, seis avisos, quatro submarinos e
          vão apurando a sensibilidade para as  relações externas e para   um transporte de hidroaviões. Mas nem este programa viria a.ser
          aspectos diplomáticos que viriam a marcar a sua vida como mili-  cumprido face às inflexões da  Política de Defesa Nacional, por
          tar e como homem de estado.                         alturas de  1935, devido à crescente influênda do Secretariado
           Tendo participado na primeira comissão destinada a efectuar as  Santos Costa, que entendia ser mais importante o reforço das
          consultas e estudos necess.ários à aquisição dos   ....... ~      unidades  territoriais. A Magalhães Correia -
          primeiros submarinos da  Marinha, a SU,1  dOOi-                   que, entretanto, em 1932 abandonou as funções
          cação e empenho na análise dos tipos de torpe-                    de Ministro para assumir as  de Chefe do
          dos e seu funcionamento, bem como o acom-                         Estado Maior Na\'al - coube o mérito da apre-
          panhamento que depois fez dessa  arma sub-                        sentação do projecto e o seu Jançamento inicial.
          marina, lemu a que viesse a prestar serviço                       Apesar de tudo, em  1936, quando os  pressu-
          como instrutor da  Escola  de Torpedos e                          postos do plano de 1930 jâ  estavam completa-
          Electricidade e a ser considerado oficial  tor-                   mente postos de parte e jâ não era pos5h'el con-
          pedeiroem 1904. Em 1910 integrava a comissão                      tinuar  o  programa  de  reequipamento, a
          portuguesa que se deslocou a Livomo (Itália)                      Marinha tinha saído do "zero naval" de 1930 e
          para fiscalizar a construção dos primeiros sub-                   podia contar com cinco contra-torpedeiros. três
          mersíveis portugueses.                                            submarinos, dois avisos de primeira classe e
           Comandou a canhoneira "Pátria", os contra-                       quatro avisos de segunda classe. A obra não se
          torpedeiros  ''Tejo'' e ''Tâmega'' e o cruzador                   c.ompletara como ele gosta ria,  mas,  mais
          couraçado "Vasco da Gama", entre outros.                          importante do que estes parcos meios, a refor-
          Desempenhou funções de Capitão do Porto de                        ma  marcava uma  non atitude profissional e
          Moçambique, Comandante da  Esquadrilha de                         uma  re\'oluçào técnica dentro da  Annada. A
          Gaza.  Capitão  dos  Portos  de  Macau,  2~                       \"emadeira entrada no século XX, quer em ter-
          Comandante e Comandante interino da  Escola                       mos de unidades navais, quer em  termos de
          Prática de Torpedos e 8ectriódade e Ajudante                      novas tecnologi,'s e correspondentes aptidões e
          de Campo do Ministro da Marinha e Ultramar,                       qualificações do pessoal, só ocorreu  com a
          de entre muitos outros cargos e funções.  Em                      "Reforma de Magalhães Correia".
          1929. três anos depois da  revoluçào de  28  de                     Em  1933, já  no  posto de Contra-Almirante,
          Maio, com o posto de  Capitào-de-Mar-e-Guerra,  Magalhães  Magalhães Correia viria a ser nomeado Gm'emador de Manica e
          Correia aceita o cargo de Ministro da  Marinha, num  momento  Sofala. cargo que exerceria até 1938, data em que entra na situação
          particulannente difícil  para a nossa  Annada, depauperada  por  de licença  ilimitada.  Foi  promovido a Vice-Almirante em 1937 e
          décadas de crise económica e instabilidade política.  Presidia ao  reformou-se como oficial da Armada em 1940. Toda,ia, em 1m,
         Conselho de Ministros o General Artur l\"ens Ferraz e tudo índi-  quando se restabeleceu o regime de tutela intemacional sobre a
          cava que, finalmente, seria dado andamento aos  planos que, de  região de Tânger, Portugal como um dos países que participava
          há  longa data, "inham a ser elaborados sem consequência.  A  na  respecth'a Comissão Internacional de Fiscalização, propôs o
         Comissão de  Propaganda da  Marinha, cujo presidente de honra   nome de Magalhães Correia  para seu presidente. O Almirante
         era o Almirante Gago Coutinho, e que era dirigida por Pereira da   português foi  eleito e desempenhou funções atê Junho de  1m,
         Silva, tinha  vindo a sensibilizar, progressivamente, a opinião  data em que resignou ao cargo e regressou a Lisboa.
          pública e os órgãos dirigentes para a absoluta necessidade de dar   Ao longo da sua vida  militar, foi  distinguido com  numerosas
         execução ao "ressurgimento" de uma  Marinha que,  nas própri"s  condecorações e louvores, sendo de salientar: o Grau de Cavaleiro
          palavr.1s de Magalhães Correia, atingira o "zero naval".   da Ordem de Torre e Espada, Grâ-Cruz da Ordem Militar de
           O arranque do Plano Na"al dá-se com o Decreto 18633, de 17  Cristo, Grâ-Cruz da Ordem Militar de  Avis,  Medalha Militar de
         de Julho de 19.30, e marca  uma  atitude absolutamente no\"a  na   Ouro de Comportamento Exemplar. Cruz de 3~ Classe da Ordem
         política de Defesa  Nadonal.  De uma atitude de gestão militar,  de Mérito Na\'al de Espanha, Grã-Cruz da Ordem da Coroa de
         que \'isa\'a a arrumação e resolução de problemas internos.  Itália e Grã-Cruz da Polónia.
          Portugal passava a assumir uma  posiçâo que  tinha como ponto   Magalhães Correia  faleceu  em  Lisboa, a 29 de Setembro de
         de partida a dsão estratégica de um  Portugal virado para  o  1960.                                  g
          1 6  JANflRO 98  •  U\~STA DAARMAOA
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