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operaç;\o humanitária na Guiné-Bissau, que nestJ data ainda
A
decorre. teve um dos seus pontos mais altos na evacuação de
cerca de 2.250 refugiados, entre os quais mais de 500 por-
tugueses, recolhidos em condições muitO' adver.;as pelo navio por-
tuguês pon.l-Contenlorcs ·Ponta de Sagres" que, largando ii I' de
Junho de Bissau aportou ii Dacar, capital senegalesa, após cerca de
20 horas de Vi.lj,'eIll. A acç30 do Comandante do navio, Hekler Costa
Almeida, quer durante a aproxim.1Çào e embarque em Biss"lU, qLJef'
aind,l durante o tr.l;ecto .11é Dac"r e desembarque dos refugiados,
mereceu, pelil sua determinação, os mais rasgados elogios. O
Almirante CEMA enviou·lhe urna carta, enaltecendo a sua actuação,
tendO' o Comand"nle do "Ponla de Sagres" sido condecClfildo poste- Na cerimónia de condecoração do Comandante Helder da Costa
riomletllc pelo Presidente da República corn o colar de oficial da Almeida, o Presidente da República, elogiou mais uma vez o "IJe-
Ordell'l da Torre c Espada, do Valor, lealdade e Mérito, em cerimónia rofsmo, .1bneg.1ÇJo c espírito de sacrifício" da tripulação do "Poma
realizada em & de Julho no Palácio de Belém. de Sagres".
O Cornandante Helder da COSIa Almeida recebeu indicações do
seu armador. via rádio, ao princfpio da tarde do dia IOde Junho, Em II de Junho, la'b'OU de Lisboa para a Guiné-Bissau uma Força
quando o navio.se encontrava a navegar em direcção a Bissau, quase Naval, conslituída pela fragat.1 "Vasco da Gama-, o navio-reaooste-
roo limite das águ.1S territoriais da Guiné, para realizar a operação de cecklr "8érrilt, as corvetas ")0.10 Coutinho" e Honório Barreto", bem
erOO.1rt!IJC dos refugiados no porto de Bissau. como um destacamento reforçado de Fuzileiros, o DestacamenlO de
AI;) fim dl tarde desse dia, chegou :. íoz do rio Geba, leIlOO deddi- Operações Especiais e uma equipa de mergulhadores-sapadores,
eh navegar durante a noite e fundear a cerca de 30 milhas de Bissau, além de outros militares, englobando cerca de 560 ekmenlos.
esperando pclo amanhecer. A acção desta Força será ~unamenle ob)ecto de um artigo na
Na opcraç.'Io de evacuaç30 dos refugiados é também de realçar a Revista da Armada. A disponibilização de um navio polivalente,
acçoo levada a cabo pelo CAP. FRAC. da J\t\arinha Portuguesa Fer- como o que a f\.1..1rinlla aponta como necessário para "serviço das
nandes de Carvalho, Dirooor Técnico do Projecto de Reestruturação populaçOes e comunidades portuguesas disseminadas pelo mundo",
da Mlrinha Nacional dl República da Guiné-Bissau (R.G.B.). Este ofi- teria permitido acqll.lr uma solução diferente, quanto :. constituição
ciai foi contact.1do pelo Chefe do Estado-Maior da Marinha da R. G. B. da Força Naval, com vant.1geos evidentes. A comprovação, na práti-
para, a seu pedido, emoorcar no navio -Ponta de Sagres-, ao largo do ca, d,1 necessidade de um meio naval daquela natureza permitir;!
porIo ele Bissau, para aconselh.:lr o Comandante do navio, em cuja mclhol" viabilizar a sua aquisição num futuro próximo.
miss.."Io a Marinha da R.G,a. também colocava gratlde empenho.
O referido oficial seguiu numa embarcação serni-rígida, ac(011),.1- Nesta ahura, enconlt.1vam-se simultaneamente no mar, com mis-
nhado de dois S<lrgentos adjuntos (X)rtuguese5, em direcção ao navio, sões atribllfdas, as três fragatas da classe "Vasco da Gama", dispondo
começando então os bombardeamentos visando as instalações da de quatro helicópteros opemciooais, num total de cinco, J),.1ra além
Marinha da KG.H. e navios .seneg.lleses que tinham estado a desem- dos outros meios navais do dispositivo e da força naval qlle foi consti-
barcar tropas e m,lterial e procediam:' evacuação de refugiados. tufda. De facto, quando a força naval, integrando o N.R.P. ''Vasco da
Após o seu emb.lrquc no navio, o Comandante realizou duas tentati- Gama" se movimenlou para Africa, o N.R.P. "Corte Real- encontrava-
vas de aproximação ao cais, não sendo possível a atracação por não -se no Reino Unido no "Operalional Sea Training (OST)" e o N.R.P.
existirem condições de segurança. Efectivamente, continuava o perigo -Álvares Cabrnr mantinha-se integrado na "SIanding Naval Force for
dos bombardeamentos e também jX)tque os refugiados no cais .se the Allanlic (STANAVfORLANT)". A elevadíssima taxa de opera-
encontravam em pânico. Cerca de tres horas depois, foi realizada cionalidade assim ak.ançada constituiu sem dúvida, uma realização
uma terceira tentativa de atracaç30 coroada de êxito, não se registan- impar, que as marinhas mais modernas I\ào conseguem, normal-
do qualquer acç>o de leso a<M.sa. mente, <ISliegUrar. De sublinhar ainda, que, ao mesmo tempo, uma
O CAP. FRAG. Fernandes de Carvalho e os dois sargentos adjuntos fragatl da classe "Comandante João Bekf se encontrava integrada na
IOmaram então, em terra, todas as medidas para que o embarque se "EURQ\.-\ARFQR" no Mediterrâneo.
fizesse na melhor ordem, acalmando e disciplinando o pessoal que se
encontrava no cais. Foi importante a coIaOOração daqueles militares Em 26 de Junho O Almirante CEMA em comunicaçào interna :.
com o pessoal da Embaixada de Portugal, sob a orientação do nosso C<>rpO(aç.\o, em que também salientou aspectos que prestigiam o
Embaixador em Bissau. Sistema de Defesa do País, declarou: ·Uma vez mais ii Marinha .1fir-
Posteriormente, o General CEMGFA, General Espírilo Santo, deu mou d StJ" dlgnid..1de de comportamento, ao distanciar-se das especu-
ordem para este oficial e os dois sargentos adjuntos fazerem o lações mediáticas que sobre a operação se têm verificado. Todo o
acoml)anhamento a bordo cio navio no percurso Bissau- Dac<lr, aju- processo de decisJo foi conduzido pelas entidades competentes, com
dando o Comandante e a tripulação nas ligações com os refugiados, base 1)()5 e/emcn/os disponíveis e ele acordo com os objectiV05 JX)lrIi-
zelando mesmo pelo seu comportamento e garantindo a sua segu- cos traç.lc/os pclo GoI'ef"1)(). Até ,10 momento, recolheram-se ensina-
rança a bordo. num/os ele grande utilidade par., (,lzer face a situações de idêntic,'
A tripulaç<1o do navio foi incansável, distribuindo alimentaçào e n.lttlrez.1 qve, /lO ((lturo, venlJJm eventualmente a verificar-se. Em
bebidas, com I)rioriclade para as mulheres, crianças e idosos, e con- sede própria, Jlla/is.lr-.se-.lo as lições aprendidas.
fortando todos con1 ptllavras de ânimo e encoojamento. Estou convicto de Que todos os intervenientes fizeram O seu melhor
O Presidente da Republica enviou na altura um telegrama ao e ninguém mais se csfcxçou tanto p.lra Que tudo decorresse da melhor
Conltlndante e :. tripulaç.\o, lido pelo Embaixador em Dacar, JO'l;e (omlJ, do Que os parlicip.llltes, quer /lO processo de decisão, quer 11<1
Preto, felicit..lndo todos os que estiveram envolvidos na operação. qx'ftlÇJo cm si mesnJ.l·. 9
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