Page 259 - Revista da Armada
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operaç;\o humanitária  na Guiné-Bissau,  que nestJ data ainda
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                 decorre. teve um dos seus pontos mais altos na evacuação de
                 cerca de  2.250  refugiados, entre os quais  mais de 500 por-
            tugueses, recolhidos em condições muitO' adver.;as pelo  navio  por-
            tuguês pon.l-Contenlorcs ·Ponta de Sagres" que,  largando ii  I' de
            Junho de  Bissau  aportou  ii  Dacar, capital senegalesa, após cerca de
            20 horas de Vi.lj,'eIll. A acç30 do Comandante do navio, Hekler Costa
            Almeida,  quer durante  a aproxim.1Çào e embarque em  Biss"lU, qLJef'
            aind,l  durante  o tr.l;ecto .11é Dac"r e desembarque dos  refugiados,
            mereceu,  pelil  sua  determinação, os  mais  rasgados  elogios.  O
            Almirante CEMA enviou·lhe urna carta, enaltecendo a sua actuação,
            tendO' o Comand"nle do "Ponla de Sagres" sido condecClfildo  poste-  Na cerimónia de condecoração do Comandante Helder da Costa
            riomletllc pelo Presidente  da  República  corn  o colar de  oficial da  Almeida,  o Presidente  da República,  elogiou  mais  uma  vez o "IJe-
            Ordell'l da Torre c Espada, do Valor, lealdade e Mérito, em cerimónia   rofsmo,  .1bneg.1ÇJo c espírito de sacrifício" da  tripulação do "Poma
            realizada em & de Julho no Palácio de Belém.        de Sagres".
              O Cornandante  Helder da  COSIa  Almeida  recebeu  indicações do
            seu armador. via  rádio,  ao princfpio da  tarde  do dia  IOde Junho,   Em  II de Junho, la'b'OU de Lisboa para a Guiné-Bissau  uma  Força
            quando o navio.se encontrava a navegar em direcção a Bissau, quase  Naval, conslituída  pela fragat.1  "Vasco da  Gama-, o navio-reaooste-
            roo limite das águ.1S  territoriais da Guiné, para realizar a operação de  cecklr "8érrilt, as corvetas ")0.10 Coutinho" e Honório Barreto", bem
            erOO.1rt!IJC dos refugiados no porto de Bissau.     como um destacamento reforçado de Fuzileiros, o DestacamenlO de
             AI;) fim dl tarde desse dia, chegou :. íoz do rio Geba, leIlOO deddi-  Operações  Especiais e uma  equipa de  mergulhadores-sapadores,
            eh navegar durante a noite e fundear a cerca de 30 milhas de Bissau,   além de outros militares, englobando cerca de 560 ekmenlos.
            esperando pclo amanhecer.                             A acção desta  Força será  ~unamenle ob)ecto de um artigo na
              Na opcraç.'Io de evacuaç30 dos refugiados é também de realçar a  Revista  da  Armada. A disponibilização de um  navio  polivalente,
            acçoo levada  a cabo  pelo CAP. FRAC.  da J\t\arinha  Portuguesa  Fer-  como o que a f\.1..1rinlla  aponta como necessário  para "serviço das
            nandes de Carvalho,  Dirooor Técnico do Projecto de Reestruturação  populaçOes e comunidades  portuguesas disseminadas pelo mundo",
            da Mlrinha Nacional dl República da Guiné-Bissau (R.G.B.). Este ofi-  teria  permitido acqll.lr uma solução diferente, quanto :. constituição
            ciai foi contact.1do pelo Chefe do Estado-Maior da Marinha da R. G. B.  da  Força Naval, com vant.1geos evidentes. A comprovação, na práti-
            para, a seu pedido, emoorcar no navio -Ponta de Sagres-, ao largo do  ca,  d,1  necessidade de  um  meio naval  daquela  natureza  permitir;!
            porIo ele  Bissau,  para  aconselh.:lr  o Comandante do  navio, em cuja  mclhol" viabilizar a sua aquisição num futuro próximo.
            miss.."Io a Marinha da R.G,a. também colocava gratlde empenho.
             O referido oficial  seguiu  numa  embarcação serni-rígida,  ac(011),.1-  Nesta  ahura,  enconlt.1vam-se simultaneamente no  mar,  com  mis-
            nhado de dois S<lrgentos adjuntos (X)rtuguese5, em direcção ao navio,   sões atribllfdas, as três fragatas da classe "Vasco da Gama", dispondo
            começando então os  bombardeamentos  visando  as  instalações da  de  quatro  helicópteros opemciooais,  num  total  de cinco,  J),.1ra  além
            Marinha da  KG.H. e navios .seneg.lleses que tinham estado a desem-  dos outros meios navais do dispositivo e da força  naval qlle foi consti-
            barcar tropas  e m,lterial  e procediam:' evacuação de  refugiados.  tufda.  De facto, quando a força naval,  integrando o N.R.P. ''Vasco da
            Após o seu emb.lrquc no navio, o Comandante realizou duas tentati-  Gama" se movimenlou para Africa, o N.R.P. "Corte Real- encontrava-
            vas de aproximação ao cais, não sendo possível a atracação por não  -se no  Reino  Unido  no "Operalional  Sea  Training (OST)" e o N.R.P.
            existirem condições de segurança. Efectivamente, continuava o perigo  -Álvares Cabrnr mantinha-se integrado na "SIanding Naval  Force for
            dos  bombardeamentos e também  jX)tque os  refugiados  no  cais .se  the Allanlic (STANAVfORLANT)". A elevadíssima taxa  de opera-
            encontravam em  pânico. Cerca de  tres  horas depois, foi  realizada  cionalidade assim ak.ançada constituiu sem dúvida, uma  realização
            uma terceira tentativa de atracaç30 coroada de êxito, não se registan-  impar, que as  marinhas  mais  modernas  I\ào conseguem, normal-
            do qualquer acç>o de leso a<M.sa.                    mente, <ISliegUrar. De sublinhar ainda, que, ao  mesmo  tempo, uma
             O CAP. FRAG. Fernandes de Carvalho e os dois sargentos adjuntos  fragatl da classe "Comandante João Bekf se encontrava integrada na
            IOmaram então, em  terra, todas as medidas para que o embarque se  "EURQ\.-\ARFQR" no Mediterrâneo.
            fizesse na melhor ordem, acalmando e disciplinando o pessoal que se
            encontrava no cais. Foi  importante a coIaOOração daqueles militares   Em  26 de Junho  O Almirante CEMA em comunicaçào interna :.
            com o pessoal da  Embaixada de Portugal, sob a orientação do nosso  C<>rpO(aç.\o, em que também salientou aspectos que prestigiam o
            Embaixador em Bissau.                               Sistema de Defesa do País, declarou: ·Uma vez mais ii Marinha  .1fir-
             Posteriormente, o General CEMGFA, General  Espírilo Santo, deu   mou d StJ"  dlgnid..1de de comportamento, ao distanciar-se das especu-
            ordem  para  este oficial  e os dois sargentos  adjuntos  fazerem  o  lações  mediáticas que sobre a operação se têm  verificado.  Todo o
            acoml)anhamento a bordo cio navio no percurso Bissau- Dac<lr, aju-  processo de decisJo foi conduzido pelas entidades competentes, com
            dando o Comandante e a tripulação nas ligações com os refugiados,  base 1)()5 e/emcn/os disponíveis e ele acordo com os objectiV05 JX)lrIi-
            zelando mesmo  pelo seu  comportamento e garantindo a sua segu-  cos traç.lc/os pclo GoI'ef"1)().  Até ,10 momento, recolheram-se ensina-
            rança a bordo.                                       num/os ele grande utilidade par.,  (,lzer face a situações de  idêntic,'
             A tripulaç<1o  do navio  foi  incansável, distribuindo  alimentaçào e   n.lttlrez.1  qve,  /lO  ((lturo,  venlJJm  eventualmente a  verificar-se.  Em
            bebidas, com I)rioriclade para  as  mulheres,  crianças e idosos, e con-  sede própria, Jlla/is.lr-.se-.lo as lições aprendidas.
            fortando todos con1 ptllavras de ânimo e encoojamento.   Estou convicto de Que todos os intervenientes fizeram O seu melhor
             O Presidente da  Republica  enviou  na  altura  um  telegrama  ao  e ninguém mais se csfcxçou tanto p.lra Que tudo decorresse da melhor
            Conltlndante e :.  tripulaç.\o, lido  pelo Embaixador em  Dacar, JO'l;e   (omlJ, do Que os parlicip.llltes, quer /lO processo de decisão, quer 11<1
            Preto, felicit..lndo todos os que estiveram envolvidos na operação.   qx'ftlÇJo cm si mesnJ.l·.      9
                                                                                           RE\15TA DA ARMADA.  AGOSTO 98  5
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