Page 61 - Revista da Armada
P. 61
O exercício físico é útil, mas não é pana-
ceia universal, que, de qualquer tipo e prati-
cado em quaisquer circunstâncias resulte
sempre em ganho para a saúde individual.
Compete ao médico prescrevê-lo, de
acordo com as regras habituais de pres-
crição clínica, Só deve ser usado se indica-
do. Deve administrar-se com horário, dose
apropriada e sempre que a situação o
indicar com reajustamentos posológicos. As
contra-indicações e os efeitos secundários
existem e não podem ser esquecidos.
Parece pois, claro, que a prática regular
do exercício físico para ser eficaz como fac-
tor de prevenção cardiovascular deve reger-
se por princípios básicos – os mandamen-
tos da actividade física, que aqui, de modo arterial, a obesidade, as dislipidemias, o cia deixar de se “ouvir o corpo”. A sensação
sucinto deixamos, para que possam ser con- tabagismo e o “stress”. de fadiga extrema é de evitar. Formas mais
siderados por cada potencial candidato a As vantagens da actividade física não se elaboradas de treino, envolvem em geral,
praticante desportivo e por todos aqueles limitam ao aparelho cardiovascular sendo objectivos de aprimorar a forma física e
que já praticantes, julguem dominar pro- particularmente eficazes também para o devem, como tal, ser objecto de orientação
fundamente todas as suas vertentes. estado psicológico e para a saúde do apare- técnica apropriada.
Assim, e de acordo com as recomen- lho osteo-musculo-articular. Não deve ser esquecido:
dações da American Heart Association e 4. A actividade física deve ser apropria- - A prática de actividades físicas só deve
com o Grupo de Actividade Física da da e adequadamente executada. ser tentada se o indivíduo se sentir com
Fundação Portuguesa de Cardiologia, deve Deve ser regular, pelo menos 3 sessões saúde.
o exercício físico respeitar os seguintes semanais não consecutivas, com duração de - Não é fisiologicamente correcto a práti-
princípios: 20 a 60 minutos. ca do exercício em período digestivo, por
1. O Objectivo principal da utilização Os esforços físicos a utilizar devem ser poder ocorrer conflito de distribuição de
da actividade física é a promoção da predominantemente aeróbicos e do gosto débitos regionais, com risco cardiovascular
saúde. do indivíduo que se exercita. Devem consequente.
A promoção da condição física não praticar-se regularmente e de modo pro- - O esforço praticado deve ser ajustado
poderá ser senão um objectivo secundário, gressivo, para conduzirem a adaptação às condições climatéricas – evitar altas tem-
exigindo sempre práticas mais intensas e crónica e não poderão em caso algum peraturas e elevadas humidades relativas.
demoradas e acarretando maior risco de desrespeitar os condicionalismos individu- - A prática desportiva exige vestuário,
lesões, nomeadamente osteo-musculotendi- ais. As actividades com carácter lúdico são calçado e terreno adequados.
noas e articulares. as mais adequadas para as crianças, por - O indivíduo que se exercita deve respei-
2. A actividade física regular não signi- permitirem o aumento do seu reportório tar as suas limitações e saber identificar si-
fica apenas actividade desportiva. motor. Os adultos idosos devem sempre nais e sintomas de alerta, tais como o des-
Os benefícios do exercício físico podem evitar esforços associados a qualquer tipo conforto precordial, as tonturas e a dispneia
obter-se com tarefas tão diversas como de carga competitiva. extrema.
sejam jardinagem, a horticultura, as danças Os esquemas de execução de programas - O exercício deve ser do gosto individual
ou mesmo os jogos tradicionais. A simples de treino físico devem envolver sempre um e envolver predominantemente esforço
marcha pode ser suficiente para induzir período inicial de aquecimento e um perío- aeróbico.
ganhos de saúde. do final de retorno à calma. Durante a fase - Devem privilegiar-se os circuitos em
3. Com a actividade física combate-se o intermédia de estado, a intensidade dos terreno plano e as descidas.
sedentarismo e contribui-se para a cor- esforços praticados deve ser suficiente e - A melhoria da condição física exige
recção de outros factores de risco cardio- permitir ao indivíduo que se exercita, a treino e implica tempo.
vascular, nomeadamente a insulino- manutenção de uma conversa durante o 5. Um médico especializado em activi-
resistência, a hiperglicemia, a hipertensão mesmo. Não deve em qualquer circunstân- dade física e / ou um licenciado em Educa-
ção Física, são os conselheiros ideais para
ajudar o praticante a escolher o regime de
treino que melhor se lhe adapta.
6. Os programas de actividade física
devem iniciar-se na infância, mas ... nunca
é tarde para começar.
7. A prática passada de actividade física,
mesmo se intensa, não concede protecção
vitalícia. Ter sido praticante de actividade
física não significa estar imune às doenças
cardiovasculares. O exercício físico como
vacina necessita de constantes reforços.
8. O exame médico prévio à decisão
acerca da aptidão para a prática desportiva
é uma necessidade absoluta.
Eduardo Teles Martins
CFR MN
REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 99 23