Page 397 - Revista da Armada
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Setting Sail
                                   Setting Sail








              19. PALHABOTE


              O termo palhabote designa o veleiro latino que arma com dois mastros e   prolongado com o navio, ou ainda a espécie de braçadeira em metal que
            mastaréus de lugre. Em ambos os mastros deita velas latinas quadrangulares   numa pequena embarcação aguenta o mastro para a bancada O mesmo
            armadas com retranca e carangueja, podendo largar gavetopes nos respec-  que garlindéu ou garlindréu.
            tivos mastaréus. Regra geral esta armação dispõe de gurupés onde fazem
            arreigada os estais que aguentam o aparelho para vante, podendo aí, actu-  Guinda – Denominação sinónima da altura de um mastro ou mastaréu,
            almente, envergar até três panos de proa.         podendo igualmente ser usada para designar a altura tomada a meio numa
              Etimologicamente, o termo palhabote derivou da expressão inglesa pilot   vela redonda, na valuma de uma vela latina quadrangular ou no gurutil de
            boat, que significa barco de piloto. Embora a designação iate de vela seja   uma vela latina triangular.
            também frequentemente utilizada para caracterizar este tipo de aparelho,   Mareação em leque – Esta técnica consiste em marear as diferentes vergas
            subsistem no entanto algumas pequenas dissemelhanças entre estas duas ar-  redondas de um mastro com um ângulo ligeiramente crescente, no sentido
            mações. A primeira, e talvez aquela que assume menor relevância, tem a ver   ascendente. Tem como objectivo optimizar o rendimento de cada uma das
            com o facto da expressão «iate de vela» ser por norma associada a um barco   velas uma vez que devido ao atrito a intensidade do vento, e consequente-
            de competição ou de recreio, embora no passado, tanto em Portugal como   mente a respectiva marcação, sofrem uma apreciável variação, em particu-
            no estrangeiro, esta tenha também constituído sinónimo de barco do Estado   lar nos primeiros 30 metros de altura.
            para transporte de pessoas de particular distinção, nomeadamente membros
            da família Real. Além disso, o aparelho do iate encerra três outras particula-  Mastro do mestre – Designação igualmente utilizada para apelidar o
            ridades que o distinguem do palhabote: em primeiro lugar um pronunciado   mastro da mezena.
            caimento do mastro grande em relação ao traquete, além de que, por norma,   Mastros – Gurupés (A), traquete (B) e grande (C).
            este não dispõe de mastaréus nem da vela de proa denominada giba.
              Quanto à sua raiz também o termo iate parece encontrar origem na lín-  Mastaréus – Pau da bujarrona (D), mastaréu do traquete (E) e mastaréu
            gua inglesa – yacht –, não obstante todos os indícios apontarem no sentido   do grande (F).
            deste ter tido génese no holandês antigo jaght, que actualmente subsiste no   Mesa das malaguetas – Designação pela qual é conhecida a prancha de
            flamengo contemporâneo como jacht. Presumivelmente utilizado no apa-  madeira existente nos navios de vela, normalmente cavilhada para o cos-
            relho dos veleiros que serviam para dar caça (jagen) a outros navios, a ter-  tado ou para o convés, dotada de furos onde são colocadas as malaguetas
            minologia flamenga deixa ainda entreaberta a possibilidade de, em sentido   que recebem as voltas dos cabos de laborar (e.g. estingue, escota, amantilho,
            mais lato, o termo poder ser igualmente sinónimo de leve, rápido ou mesmo   abraçadeira, carregadeira, etc.). Regra geral as mesas de malaguetas tomam
            barco pirata. Neste sentido, não nos parece pois despropositado considerar   o nome do mastro cujos cabos recebem.
            que, em determinadas alturas, este peculiar navio pudesse por vezes encer-
            rar em simultâneo todas as características mencionadas.  Palha – Termo utilizado para caracterizar a grossura ou secção de um
              O barco de piloto – pilot boat –, com a função que hoje lhe associamos,   mastro, mastaréu ou verga. Ter muita palha significa possuir grande grossu-
            terá surgido pela primeira vez nos Estados Unidos em finais do século XVIII,   ra, embora na gíria de bordo seja utilizado como sinónimo de alguém que
            destacando-se pelo facto de contar com uma enorme superfície vélica. Esta   é muito gordo.
            característica, aliada a um casco de formas finas e elegantes, permitia-lhe   Palhaboteiro – Designação pela qual é conhecido o mestre ou tripulante
            atingir boa velocidade, à qual se somava ainda uma elevada manobrabilida-  de palhabote, nomeadamente no Brasil.
            de. A evolução do comprimento do gurupés, só possível com a introdução de
            melhorias significativas na estrutura e rigidez do casco, tornaram praticável,   Velas de proa – Vela de estai (1), bujarrona (2) e giba (3).
            já no século XIX, a existência de três velas de proa em vez de uma só, como
            era timbre nos navios mais arcaicos dotados deste tipo de armação.  Velas do traquete – Traquete latino (4) e gavetope do traquete (5).
              Recordamos ainda que os veleiros vencedores das quatro primeiras edi-  Velas do grande – Vela grande (6) e gavetope do grande (7).
            ções da famosa Taça América – América (1851); Magic (1870); Columbia e
            Sappho (1871); e Madeleine (1876) –, armavam em palhabote, o que desde   Vela áurica – Vela latina quadrangular que enverga em carangueja ou
            logo diz bem da sua especial propensão para um desempenho exigente ao   verga de espicha. O mesmo que vela auricular.
            nível da velocidade, em particular com ventos relativamente fracos.
                                                               Zincos – Nome dado às placas de zinco laminadas que se fixam ao
              Amante do mastaréu – Nome que recebe cada um dos dois cabos pas-  casco, nomeadamente perto do hélice, com o objectivo de minimizar a
            sados ao alto em moitões, tendo como finalidade içar os mastaréus. De sa-  corrosão galvânica do bronze pela presença do aço que constitui o navio,
            lientar que num dos chicotes dispõe de mão onde é engatado o aparelho   e que no essencial é desencadeada pela acção electrolítica do sal conti-
            de força.                                         do na água do mar.
              Caimento (α) – Nome dado ao grau de inclinação para ré dos mastros   Com este número dedicado ao palhabote conclui-se o segundo bordo
            e mastaréus de um veleiro, ou chaminé de um navio de propulsão mecâ-  do Setting Sail. Dado a abrangência do título, estamos certos de que mui-
            nica, relativamente à vertical. No entanto este termo é mais comummente   to terá ficado ainda por dizer, pelo que aguardaremos o aparecimento de
            associado à diferença de calados a vante e a ré. Neste segundo sentido, a   vento favorável que nos permita prosseguir a navegação iniciada há mais
            existência de caimento leva ao assumir implícito de que o navio se encon-  de dois anos.
            tra mais metido de popa.                           A terminar queremos publicamente agradecer à Aida Colaço e ao José
                                                              Cabrita a preciosa colaboração que ambos nos dispensaram, sendo de
              Escoteira – Nome pelo qual é conhecido o madeiro existente no convés   realçar que sem ela não nos teria sido possível dar corpo nem assegurar,
            no interior da amurada e em ambos os bordos, em cujas malaguetas dão   durante catorze meses, este espaço de excelência que é a contracapa da
            volta alguns cabos de laborar (e.g. briol, apaga, talha do lais, serzideira,   Revista da Armada.
            braço, ostaga, etc.)
              Galindréu – Tipo de ferragem situada na extremidade de vante da retran-      António Manuel Gonçalves
            ca, ou pé dum pau de carga, cuja finalidade é ligá-los ao mastro, mas não                     CTEN
            inibindo o seu movimento. Pode também ser a ferragem de uma verga que             am.sailing@hotmail.com
            abraça o mastro, que aguenta o pau de surriola quando este se encontra   Desenho Aida Colaço e António Gonçalves
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