Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
4. O CRUZADOR AUXILIAR E NAVIO-TRANSPORTE “GIL EANES”
Construído em 1914 nos estaleiros “G. Seebeck Akt. Gesellschaft”, “Ibo”, serve de navio-apoio e abastecedor. Escala portos em todas
na Alemanha, com o nome de “Lahneck”, encontrava-se surto no as colónias portuguesas de África e também Capetown, Durban,
Tejo quando apresado, por ordem do Governo português, em 24 Zanzibar, Aden, Port Said e Argel.
de Fevereiro de 1916.
Entretanto, em princípios de Junho, perante grandes manifesta-
De construção robusta, com casco de aço, as suas características ções anti-ocidentais em Cantão, torna-se necessário abastecer e
principais eram as seguintes: reforçar a guarnição militar de Macau. Com este propósito larga
Deslocamento ......................................................3.712 toneladas para o Extremo-Oriente em Julho, menos de um mês após a che-
Comprimento fora a fora ......................................... 88,00 metros gada do “Périplo de África”. Demanda Macau em fins de Agosto,
Boca......................................................................... 12,50 “ onde transfega pessoal e material, escala Timor, regressa via Cabo
Calado máximo .......................................................... 5,10 “ da Boa Esperança e entra no Tejo em Junho de 1926.
Possuía uma máquina de tríplice expansão, três cilindros com Após os já citados fabricos na Holanda, inicia, com a 1ª comis-
a potência de 2.000 cavalos que correspondiam à velocidade de são de assistência á frota bacalhoeira, o segundo período do seu
10.5 nós. historial como navio-transporte.
Aumentado ao “Efectivo dos Navios da Armada” em 18 de Mar- Efectua oito comissões à Terra Nova e Gronelândia. A 1ª em Abril
ço de 1916, foi classificado como cruzador auxiliar, denominado de 1927, depois as de 1929 e 1930, retomando anualmente, a partir
“Gil Eanes” e armado com 2 peças Armstrong de 76 mm, 1 peça de 1937 até 1941, ano em que realiza a sua 8ª e última.
Hotckiss de 65 mm e 4 de 47
mm. A guarnição inicial era de Habitualmente, após carre-
apenas 6 oficiais e 51 sargen- gar material, largava de Lisboa
tos e praças. em meados de Junho e regres-
sava em fins de Outubro, prin-
Agregado à Divisão Naval cípios de Novembro. Escalava
de Defesa e Instrução, inicia a Horta, por vezes Ponta Del-
a actividade operacional, de gada e visitava os lugres nos
dois anos, em Junho de 1916. bancos da Terra Nova, de St.
A Alemanha declara guerra a Pierre e da Gronelândia, pra-
Portugal e o “Gil Eanes” efectua ticando os portos de St. John’s,
cruzeiros de patrulha na costa e de St. Pierre e de Godhaven.
escoltas a navios mercantes. Também costumava aportar a
Halifax e Sydney, na Nova Es-
No início de 1917, sendo cócia. Navegando de dia e fun-
preciso colocar o Corpo Expe- deando à noite, apoiava embar-
dicionário Português (C.E.P.) cações portuguesas e por vezes
em França, o navio passa a ser- francesas e canadianas, prestando assistência médica, localizando
vir como transportador. Assim, de Fevereiro de 1917 a Abril do ano e entregando dóris ocasionalmente perdidos e fazendo serviço de
seguinte, faz quatro viagens redondas: as duas primeiras a Brest e a correio. Os membros da sua guarnição reparavam avarias, domina-
Plymouth e as duas últimas só a Brest. Em Plymouth embarca car- vam incêndios ou acorriam a lugres em dificuldades, muitas vezes
vão, fonte energética de que Portugal era então extremamente ca- enfrentando péssimas condições meteorológicas, entre icebergs e
rente. As três primeiras viagens decorreram em 1917: a 1ª de 16 de denso nevoeiro. Note-se que as duas últimas comissões foram efec-
Fevereiro a 21 de Março; a 2ª de 14 de Maio a 15 de Junho e a 3ª tuadas quando da II Guerra Mundial, em plena “Batalha do Atlânti-
de 17 de Julho a 20 de Setembro. A 4ª e última de 9 de Janeiro a 10 co”. Durante oito campanhas do bacalhau, o “Gil Eanes” constituiu
de Abril de 1918. Navegava integrado em comboios, de que fazia um precioso apoio às frotas pesqueiras, facto amplamente reconhe-
parte o cruzador auxiliar “Pedro Nunes”, compostos, na maioria, por cido a nível nacional e internacional.
transportes ingleses e escoltados por contratorpedeiros da mesma Neste segundo período efectuou, de Maio a Julho de 1928, um
nacionalidade e pelos portugueses “Douro” e “Guadiana”. transporte de presos para a Guiné e S. Tomé e na mesma viagem
um carregamento de material com destino a Luanda. Em Junho de
De salientar que na revolta de 5 de Dezembro de 1917, o “Gil 1931 rumou para o Extremo-Oriente levando pessoal para o cruza-
Eanes”, juntamente com o cruzador “Vasco da Gama”, o aviso de dor “Adamastor” em Macau, presos com destino a Timor e material
2ª classe “Cinco de Outubro” e o contratorpedeiro “Guadiana”, para os navios estacionados nas colónias. Nesta missão, que durou
bombardeia a Rotunda, onde se encontravam tropas partidárias do um ano e cujo regresso foi via Suez, o “Gil Eanes” escalou portos
major Sidónio Paes. de todos os territórios portugueses do Ultramar.
Também neste período efectuou cinco viagens a Inglaterra em
Em Abril de 1918, passa ao estado de desarmamento e em 1 de 1933, 34, 35, 36 e 38 transportando guarnições dos novos navios
Junho é abatido ao efectivo. do “Programa Naval Magalhães Corrêa”, em aprontamento naquele
país e embarcando para Lisboa sobressalentes, munições e material
Em 18 de Setembro de 1924 é novamente aumentado ao “Efectivo diverso. A última missão foi, uma ida a Ponta Delgada em Novembro
dos Navios da Armada” com a designação de navio-transporte, na e Dezembro de 1941, para transporte de material de guerra.
qualidade da qual se mantém operacional até Dezembro de 1941. Em 14 de Fevereiro de 1942 foi abatido ao “Efectivo dos Navios da
Este espaço de tempo pode ser dividido em dois períodos distin- Armada” um navio que prestou excelentes serviços em missões de
tos. O primeiro de 1924 a 26, a que se seguem, de fins de 1926 a guerra e de paz durante os dois conflitos mundiais do século XX.
meados de 27, fabricos na Holanda e o segundo período em que
efectua missões de assistência à frota bacalhoeira na Terra Nova e J. L. Leiria Pinto
Gronelândia e faz viagens logísticas a Inglaterra.
CALM
Realiza então o “Périplo de África”, uma viagem de instrução da
Escola Naval, que decorre de Outubro de 1924 a Junho de 1925 e
em que o “Gil Eanes”, integrado na Divisão Colonial de que faziam
parte o cruzador “República” e as canhoneiras “Beira”, “Bengo” e