Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
6. O SubmerSível “eSpadarte”
Considera-se que a navegação submarina em Portugal teve o seu marina, todas com lançamento de torpedos de exercício.
início a 17 de Junho de 1910, quando o Ministro da Marinha, capi- Entretanto, em 14 de Maio, eclodiu um movimento revolucionário
tão-tenente João de Azevedo Coutinho, encomendou o “Espadarte”,
o primeiro submersível português. A decisão ministerial, que foi de contra o Governo do General Pimenta de Castro. Nesse dia o Ministro
elevado risco já que este tipo de navio estava longe de comprovar a da Marinha ordenou ao comandante do “Espadarte” para torpedear o
sua notável eficácia, suscitou viva polémica a nível nacional. Como cruzador “Vasco da Gama” e outros navios revoltados. Algumas horas
escreve o jornalista Maurício de Oliveira na sua obra “Os Submari- depois o movimento revolucionário triunfava mas as ordens de torpe-
nos na Marinha Portuguesa”. deamento não foram cumpridas.
Submarinos para quê? Para atacar quem e onde?- perguntava-se Os exercícios no mar para o primeiro submersível português continua-
em Portugal e havia ainda de perguntar-se por alguns anos. Poucos vam. Assim, a 8 de Julho foi de novo incorporado na Divisão Naval e
viam, efectivamente, por essa altura, que os submarinos nos eram efectuou, pela primeira vez, ao largo de Sesimbra, exercícios conjuntos
necessários mais para nos saber defender do que para atacar os ou- com os contratorpedeiros “Douro” e “Guadiana”. Em 1 de Novembro
tros. Não adivinhava o jornalista que passado um século continuava realizaram-se outros exercícios mais complexos, para além do “Espadar-
bem patente essa falta de visão. te” participaram três cruzadores, dois contratorpedeiros, um torpedeiro e
uma canhoneira. Um terceiro exercício, em moldes idênticos, efectuou-
Construído o casco nos estaleiros “Orlando” de Livorno e a pro- -se em 22 do mesmo mês e finalmente o derradeiro teve lugar ao largo
pulsão na firma “Fiat Sam Giorgio” de La Spezia, o “Espadarte” do Cabo Raso nos últimos dias do ano de 1915. Todos os exercícios ex-
foi lançado à água
a 5 de Outubro de cederam as expectati-
1912 e aumentado vas tendo o submersí-
ao Efectivo dos Na- vel sido detectado só
vios da Armada em no momento em que
15 de Abril do ano mostrava os respecti-
seguinte, sendo seu vos periscópios (sinal
comandante o 1º que tinha lançado
tenente Joaquim de com sucesso os seus
Almeida Henriques, torpedos).
estudioso e grande
entusiasta da arma A 9 de Março de
submarina.. 1916 a Alemanha de-
clarava guerra a Por-
Tinha as seguintes tugal e a missão prio-
características: ritária do “Espadarte”
Deslocamento à superfície ......................................250 toneladas passou a ser a patru-
Deslocamento em imersão ......................................310 “ lha da costa, especialmente a foz do Tejo entre os Cabos da Roca e do
Comprimento (fora a fora) ........................................ 45,15 metros Espichel. Só passados cerca de dois anos, a partir de Fevereiro de 1918,
Boca........................................................................... 4,20 “ esta missão foi partilhada, com a chegada dos três novos submersíveis,
Calado máximo .......................................................... 2,95 “ “Foca”, “Hidra” e “Golfinho”, recém construídos em Itália que, com o
Profundidade máxima (resistência do casco) ............ 40,00 “ “Espadarte”, formaram a 1ª Esquadrilha de Submersíveis.
Velocidade máxima à superfície .................................... 13,25 nós Terminada a Grande Guerra, em Novembro de 1918, o “Espadarte”
Velocidade máxima em imersão...................................... 7,95 “ voltou à sua missão de apoio à Escola de Navegação Submarina. De
Autonomia à velocidade de 8,5 m à superfície ......... 1.500 milhas 20 a 26 de Maio de 1919 patrulhou a costa Norte e de 25 de Agos-
to a 1 de Setembro foi a vez da Costa Centro e Sul, tendo efectuado
Possuía dois motores Diesel-“FIAT-LAURENTI de 350 HP cada, várias imersões.
provavelmente a primeira instalação Diesel a existir em Portugal. Seguiu-se um longo período em que, baseado na Doca de Belém,
Para navegar em imersão dispunha de dois motores eléctricos de fazia imersões estáticas e dinâmicas em S. José de Ribamar e na baía
150 HP cada. Foi armado com dois tubos lança torpedos a vante, de Cascais, onde por vezes lançava torpedos.
dispondo de quatro torpedos Whitehead de 450 mm. A guarnição De assinalar que em Outubro de 1924 os quatro submersíveis e a
compreendia 3 oficiais, 5 sargentos e 12 praças. canhoneira “Bengo” tomaram parte num exercício ao largo de Cascais
que contou com a presença do Presidente da República, Dr. Manuel
Largou de La Spezia a 4 de Maio de 1913, seguindo-se uma atri- Teixeira Gomes, do Ministro da Marinha capitão-de-fragata Pereira
bulada viagem com contínuas avarias, principalmente nos motores da Silva e de altas individualidades embarcadas no aviso de 2ª classe
de combustão, o que o obrigou a arribar a Marselha, Barcelona, “Cinco de Outubro”.
Valência, Alicante e Gibraltar. Após percorrer 1.400 milhas, sem Em Janeiro de 1927 ainda efectuou com os outros submersíveis exer-
escolta, demandou o porto de Lisboa a 5 de Agosto, indo atracar cícios no mar, mas as medidas de segurança do pessoal obrigavam ao
no canto sudoeste da Doca de Belém, local onde passaria a ficar seu abate, já que entre outras avarias metia água em imersão e tinha
instalada a primeira base de submersíveis da Armada. graves problemas no alinhamento dos veios, pelo que em Fevereiro
uma comissão foi do parecer que o “Espadarte” deve ser condenado
Enquanto se procedia à longa reparação dos motores, fez imersões como navio submersível.
estáticas na própria Doca de Belém, ficando operacional apenas em Assim, em 31 de Maio de 1928, foi abatido ao Efectivo dos Navios
Maio de 1914, sendo em 11 do mesmo mês criada a Escola de Na- da Armada o submersível que iniciou a já centenária arma submarina
vegação Submarina, apoiada no “Espadarte”. Desde logo as missões da Marinha de Guerra Portuguesa.
do navio foram não só a instrução e treino da sua e das futuras guar-
nições, como também a preparação dos navios de superfície para a J. L. Leiria Pinto
luta anti-submarina. Em Agosto foi incorporado na Divisão Naval de
Instrução e Manobra e em Abril de 1915 fez cinco imersões na baía CALM
de Cascais, no âmbito do curso de especialização em navegação sub-