Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República

11. Os submersíveis “FOca”, “GOlFinhO” e “hidra”

Com o início da Grande Guerra, em 1914, tornou-se evidente a neces- te reparadas com os meios de bordo, o “Foca”, o “Golfinho” e o “Hidra”
sidade da Marinha Portuguesa reforçar a sua capacidade submarina, até demandaram a barra no Tejo na manhã do dia 10 de Fevereiro de 1918.
então apenas representada, desde 1913, pelo submersível “Espadarte”, Não haja dúvida que tinha sido notável a formação das guarnições
construído nos estaleiros italianos “Fiat-San Giorgio” de La Spezzia.Assim, dos novos submersíveis, efectuada durante cerca de 4 anos a bordo do
em Dezembro de 1915, foram encomendados àqueles estaleiros três sub- “Espadarte”.
mersíveis de dimensões semelhantes ao “Espadarte”, mas de tonelagem Constitui-se então a 1ª Esquadrilha de Submersíveis com base na Doca
ligeiramente superior. Os três navios foram lançados ao mar em 1917, o de Belém.
“Foca” e o “Golfinho em Março e o “Hidra” em Agosto.
                                                                                                     A partir de Junho os novos submersíveis iniciaram o serviço de patrulha
Aumentados ao Efectivo dos Navios da Armada em 20 de Outubro de numa zona fora da barra do Tejo e limitada pelos cabos da Roca e do Es-
1917, as suas características eram as seguintes:
                                                                                                     pichel. Cada cruzeiro, efectuado em subzonas previamente demarcadas,
Deslocamento à superfície................................................. 389 toneladas durava habitualmente três dias, sendo a navegação diurna em imersão e a
Deslocamento em imersão................................................ 469 “
                                                                                                     nocturna à superfície. Este serviço durou até 11 de Novembro, data em que
Comprimento (fora a fora).................................................... 45,60 metros foi assinado o Armistício que pôs fim à Grande Guerra.Tinham sido cinco
Boca........................................................................................ 4,22 “
                                                                                                     meses de árduo trabalho a que as guarnições foram sujeitas, agravado pelas
Calado máximo...................................................................... 3,12 “
                                                                                                     características das suas unidades, reduzidos espaços e penosa habitabilidade.
Velocidade de cruzeiro à superfície .............................................8,25 nós Em princípios de 1919 a Esquadrilha iniciou um regular programa de
Velocidade em imersão.................................................................3 “ patrulhamento costeiro, com imersões e lançamentos de torpedos de exer-
Dispunham de 2 máquinas diesel
                                                                                                     cício.A par desta actividade de rotina
“Fiat” de 6 cilindros com a potência
                                                                                                     realizou exercícios, tendo sucedido o
de 275 HP e 2 motores eléctricos com
                                                                                                     primeiro com os quatro submersíveis
240 baterias para a navegação em
                                                                                                     e um navio de superfície em Outubro
imersão, sendo armados de 2 tubos
                                                                                                     de 1924. Em Julho do ano seguinte,
lança torpedos com 4 torpedos Whi-
                                                                                                     na baía de Lagos, efectuaram-se as
tehead de 450 mm. A sua guarnição
                                                                                                     primeiras grandes manobras navais
era constituída por 21 homens (3 ofi-
                                                                                                     depois da guerra com a participação
ciais e 18 sargentos e praças).
                                                                                                     dos três novos submersíveis, a que
As previsíveis condições meteoro-
                                                                                                     se seguiu, em Agosto, um exercício
lógicas adversas no Mediterrâneo du-
                                                                                                     ao largo de Buarcos com a Esquadra
rante o Inverno e a situação de guerra
                                                                                                     de Operações. NoVerão de 1926 foi
determinou que a viagem para Por-
                                                                                                     executado um exercício com os qua-
tugal fosse sob escolta. A navegação
                                                                                                     tro submersíveis ao largo de Cascais
deveria ser normalmente feita à noite
e com os submersíveis prontos para      Os três submersíveis atracados na Doca de Belém.             e em Julho de 1928 manobras no
                                                                                                     âmbito da Flotilha Mista de Exercí-
imediata imersão e torpedos regulados para 7 metros de profundidade. cios. Também no ano de 1928 o “Espadarte”, depois de 15 anos de ope-
A largada de La Spezzia foi a 15 de Dezembro de 1917 tendo os navios racionalidade quase ininterrupta, foi abatido. A Esquadrilha continuou a
sido escoltados pelo rebocador da Marinha Portuguesa “Patrão Lopes”, cumprir regularmente o programa de instrução e treino com duas saídas
que se manteria na missão até Lisboa e pelo torpedeiro italiano “Condo- semanais para as águas de Cascais, Sesimbra e Setúbal cumprindo uma
re”. Debaixo de mau tempo foi escalado o porto de Ville Franche, tendo média mensal de oito exercícios de imersão.
o “Condore” sido rendido pelo torpedeiro francês nº 369 e a escolta re- De 1929 a 32 os submersíveis fizeram os Exercícios de Verão, mas já
forçada com o torpedeiro “Borée”. No porto seguinte, Toulon, onde foi com progressivas limitações operacionais devido ao envelhecimento do
passado o Natal e oAno Novo os torpedeiros franceses foram substituídos material.
pelo patrulha da mesma nacionalidade “Elizabeth Marie”.
                                                                                                     Entretanto aguardava-se a concretização do Programa Naval Magalhães
Sob violento temporal só à terceira tentativa foi possível alcançar Mar- Correa, de 1930, que incluía três submersíveis.
selha. Seguiu-se o trajecto para Cette durante o qual foi presenciado o A última participação conjunta dos três submersíveis deu-se em 5 de
torpedeamento de um navio mercante, tendo o “Elizabeth Marie” reco- Outubro de 1933, numa revista naval na baía de Cascais, quando da co-
lhido os náufragos. Novamente por razões meteorológicas o comboio só memoração do 23º aniversário da implantação da República.
conseguiu navegar até PortVendres após segunda tentativa, tendo depois Após 16 anos de intensa actividade operacional as unidades que cons-
largado deste porto, com a escolta acrescida de mais uma unidade da Ma- tituíam a 1ª Esquadrilha foram sendo abatidas ao Efectivo dos Navios da
rinha Francesa, o patrulha “Ailly”. A fim de evitar as costas espanholas, Armada, o “Golfinho” em Dezembro de 1934 e o “Foca” em Janeiro de
onde uma arribada poderia, dado a neutralidade de Espanha, originar o 36. O “Hidra”, abatido em Julho de 1936, tinha acompanhado, em Ja-
internamento dos navios, foi escalado o porto de Oran, após o que os na- neiro do ano anterior, da entrada da barra do Tejo até Belém, o “Delfim”,
vios rumaram para Gibraltar. Embora tivesse sido constatada a presença o primeiro submersível do Programa Naval de 1930 que com os novos
do inimigo nas imediações do Estreito e na proximidade do Cabo de São “Espadarte” e “Golfinho”, chegados também em 1935, constituíram a 2ª
Vicente, a navegação para Lisboa, com uma curta paragem em Sesimbra, Esquadrilha de Submersíveis da Marinha Portuguesa.
fez-se sem novidade. Depois de dois meses de uma navegação difícil, atra-

vessando zonas infestadas pelo inimigo e suportando condições meteoro-                                                    J. L. Leiria Pinto

lógicas muito desfavoráveis, que originaram inúmeras avarias prontamen-                                                         CALM
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