Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República

12. A CANHONEIRA MISTA “LIMPOPO”

   Construída em ferro, nos estaleiros ingleses “Thomas Iron                             IV Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia.
Works” durante os anos de 1889/90, a canhoneira mista “Lim-                                 Em Julho rumou para Cabo Verde onde se manteve até
popo” aparelhava com dois mastros latinos, envergando um re-
dondo no de vante. Além das velas do grande e do traquete pos-                           Dezembro, tendo então seguido novamente para a Estação
suía duas de estai, sendo a superfície total do velame de 159 m2.                        Naval do Atlântico Sul onde durante uma década prestou
As suas características principais eram as seguintes:                                    serviço. É neste período que participou num episódio marcante
Deslocamento máximo ....................................... 288 toneladas                da História da Marinha Portuguesa.
Comprimento (fora a fora) ...................................... 37,8 metros
Boca ............................................................................ 6,4 “     Foi no dia 6 de Dezembro de 1904 quando a “Limpopo”,
Calado máximo .........................................................1,9 ‘‘            comandada pelo 1º tenente João Carlos da Silva Nogueira, inter-
Velocidade máxima .................................................11 nós                ceptou a esquadra do Almirante Rogestvensky, a quem deu 24
Velocidade de cruzeiro ......................................... ....8 ‘‘                horas para abandonar as águas territoriais portuguesas frente à
Autonomia (a 8 nós) ...........................................1.800 milhas              Baía dos Tigres, onde fundeara. A esquadra russa, que se dirigia
                                                                                         para o Extremo-Oriente a fim de intervir na guerra russo-japone-
   Dispunha de duas                                                                      sa, obedeceu às ordens do comandante português.
máquinas de tríplice ex-
pansão com a potência                                                                       De salientar que em Dezembro de 1930, quando coman-
de 530 HP, utilizando                                                                    dante do cruzador “Vasco da Gama”, o capitão-de-fragata Silva
carvão como combus-
tível. Estava armada com                                                                                                             Nogueira receberia em
duas peças Hotchkiss de                                                                                                              Tóquio o 2º grau da Or-
47 mm e uma metralhado-                                                                                                              dem do Tesouro Sagra-
ra Maxim de 8 mm, ini-                                                                                                               do, condecoração con-
cialmente montada num                                                                                                                ferida pela sua actuação
cesto colocado no mastro                                                                                                             na Baía dos Tigres. Foi
de ré. A sua guarnição                                                                                                               o primeiro português
compreendia 40 homens                                                                                                                a quem foi concedida
(2 oficiais, 6 sargentos e                                                                                                           tão elevada distinção
32 praças).                                                                                                                          japonesa.

   Foi aumentada ao                                                                                                                      Em Agosto de 1908
Efectivo dos Navios da                                                                                                               largou a canhoneira de
Armada, em Londres, a                                                                                                                Luanda com destino a
15 de Outubro de 1890                                                                                                                Lisboa, onde chegou
tendo demandado a barra                                                                                                              em Setembro do mes-
do Tejo, pela primeira vez, a 30 de Novembro.                                                                                        mo ano.

   Em Janeiro de 1891 largou, via Suez, para a Divisão Naval                                                                             Após década e meia,
da África Oriental e Mar da Índia, tendo aportado à Ilha de                                                                          intervalada por um
Moçambique em Março, após repetidos dias de navegação sob                                                                            período de dois anos
condições meteorológicas adversas que causaram sérias avarias                                                                        (1896-1898) de per-
e obrigaram a várias arribadas a portos. O comportamento da                              manência em águas do Continente, tinha concluído o seu serviço
canhoneira, perante mau tempo, levou a que o Comandante da                               no Ultramar. Novas missões lhe seriam atribuídas.
Divisão Naval de Moçambique informasse Lisboa de que julga-                                 Assim, depois de dois anos de fabricos, em Julho de 1910,
va o navio impróprio para navegar na costa de Moçambique,                                passou a ser empregue prioritariamente em missões de fiscali-
sugerindo que fosse transferido para Angola onde poderia prestar                         zação da pesca e apoio a capitanias, fazendo base nos portos de
melhor serviço.                                                                          Leixões, quando na Zona Norte e de Faro na Zona Sul.
                                                                                            Esporadicamente suspendeu a fiscalização de pesca para
   Após ter estado empenhada em operações de balizagem da                                cumprir outras missões das quais são salientadas as que a seguir
barra de Lourenço Marques seguiu para os estaleiros de Durban                            se mencionam.
onde, no mês de Janeiro, efectuou reparações.                                               Em Setembro de 1912, ida a Antuérpia transportar munições
                                                                                         para Lisboa. De Abril de 1916 até fins de 18, quando da Grande
   Largou então para Luanda sendo em Março integrada na Di-                              Guerra, em serviço de patrulha na barra do Tejo. Viagens a portos
visão Naval da África Ocidental e América do Sul. Durante os                             do Sul de Espanha e de Marrocos, em Março e Abril de 1928 e
quatro anos que se seguiram, além de patrulhar as costas de An-                          Março de 1930, levando a bordo estudantes de visita àqueles
gola e S. Tomé e transportar pessoal, inclusive forças militares,                        portos. Em Abril e Maio de 1931 integrada nas forças navais que
malas de correio e abastecimentos entre os respectivos portos,                           na Ilha da Madeira combateram um movimento revolucionário
cumpriu quatro comissões ao Daomé, actual República do Be-                               contra o Governo e por último ao serviço da Brigada Hidrográ-
nin, para apoio logístico ao forte português de S. João Baptista                         fica Independente para colaborar na actualização das cartas dos
de Ajudá, em pleno conflito franco-daomeano. De destacar a                               Algarve, em Julho e Agosto de 1937 e de Maio de 38 a Março
notável intervenção diplomática do 1º tenente António Pinto                              de 39.
Basto, então Comandante da “Limpopo”, que conseguiu obter a                                 Foi mandada passar à disponibilidade, para ser entregue à
liberdade de três franceses que se encontravam, há longo tempo,                          Brigada Naval da Legião Portuguesa, em Maio de 1939.
detidos no Daomé.                                                                           Depois de meio século de bons serviços a “Limpopo”, a úl-
                                                                                         tima canhoneira mista da Marinha Portuguesa, em 19 de Dezem-
   Em Maio de 1896 deixou Luanda tendo chegado a Lisboa em                               bro de 1943, foi abatida ao Efectivo dos Navios da Armada.
Julho. Foi submetida a grandes fabricos, de Dezembro de 96 até
Maio de 98, findo os quais participou nas comemorações do                                                                                      J.L. Leiria Pinto
                                                                                                                                                            CALM
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