Page 28 - Revista da Armada
P. 28

ocupados. Fiquei impressionado com a or- um nevoeiro cerrado, dezenas de ecos de uma corveta nossa nas águas da Islândia.
ganização do exercício e a perfeita coorde- barcos de pesca e um que vinha em rumo Fiquei atónito! Como era possível eu não
nação do pessoal. Sei iam para os Açores! de colisão com a fragata. Apitámos desal- saber…
RC – Fomos. Estive na «Roby» dois anos madamente mas tivemos de manobrar… Os seus amigos, de fora da Armada, sabe-
e além duma comissão de três meses nos cortaram-nos a proa e vinha tudo a dormir! rão alguma coisa?
Açores, fiz vários exercícios nacionais (Dis- O timoneiro, bem apontado a Peniche, em RC – Sim! Sabem quando estou a navegar,
trex, Contex, Swordfish…) e internacio- cima da cana do leme!                             porque preciso que me ajudem numa ou
nais, nomeadamente a integração da Força RC – A Marinha de Recreio também nos noutra situação, perguntam aonde vou, se
da«Euromarfor» no Mediterrâneo, com idas causa preocupações. Posso recordar uma há mau tempo ficam preocupados, princi-
à Tunísia, Marro-                                                                                         palmente agora,
cos e França. Foi                                                                                         porque estou so-
muito engraçado!                                                                                          zinha, acompa-
RA – Como foi?                                                                                            nham-me imenso.
Conta lá!                                                                                                 RA – Creio que
RC – O navio atra-                                                                                        é casada com um
cou no porto de                                                                                           oficial da Arma-
Bizerte, na Tunísia,                                                                                      da. Também é de
local onde integrou                                                                                       marinha?
a força e, apesar de                                                                                      RC – Sim e não!
todo o programa                                                                                           Ele é engenheiro
protocolar ainda                                                                                          naval e é quatro
nos foi possível vi- Equipa feminina de voleibol                    Descendo o Rio Minho                  anos mais antigo

sitar algumas cida-                                                                                       que eu.
des nomeadamente a capital, Tunis, de forte acção de busca e salvamento bem suce- RA – Ah! Conheceram-se na «Roby»!?
influência francesa.                      dida. Recebemos no MRCC um alerta de RC – Não. Não. Foi antes.
RA – Que países participaram?             socorro, despoletado pelo EPIRB (Emer- RA – Têm que coordenar a vossa vida. Tive
RC – França, Itália, Espanha e Portugal.  gency Position-indicating Radio Beacon), colegas casados com colegas…
RC – Fizemos Viagens de Instrução de Ca- proveniente de um veleiro português, que RC – É um problema dos casais com a mes-
detes, participámos num “Cadet Training” se encontrava a navegar em águas de Cabo ma profissão. Têm as suas limitações. Temos
em Itália, em La Spezia, com navios italia- Verde, fora da nossa área de actuação.        que gerir melhor o tempo, ter uma agenda
nos, alemães e franceses. Foi uma experiên- Entrámos de imediato em contacto com as mais organizada.
cia muito enriquecedora.                  Autoridades de Cabo Verde, e com os con- RA – Está embarcado?
RA – E esse distintivo?                   tactos de emergência do skipper para con- RC – Na «Sagres»!
RC – É de navegação. Tenho quatro mil horas firmarmos a localização da embarcação pois RA – Então, Está longe. Neste momento, al-
de navegação. É o de bronze, corres-                                                        gures, no Atlântico Sul. Ainda não
pondente a mais de 3000 horas.                                                              passaram o Cabo Horn?
Após dois anos na “Roby” fui desta-                                                         RC – Estão já no Chile, em Punta
cada para o Centro de Busca e Salva-                                                        Arenas!
mento Marítimo de Lisboa (MRCC                                                              RA – Na minha última Comissão,
LISBOA – Maritime Rescue Coor-                                                              28 meses, entre Angola, Timor,
dition Centre) e Sala de Operações                                                          Macau e Moçambique, a grande
do Comando Naval actualmente                                                                preocupação da Guarnição era sa-
designado por Centro de Operações                                                           ber quem estaria de Serviço no dia
Marítimas (COMAR), em Oeiras,                                                               da chegada a Lisboa. Por isso mes-
no edifício do Comando Naval. Foi                                                           mo, o Natal!
uma experiência completamente                                                               Quando fui mandado regressar a
nova. São duas funções diferentes,                                                          Lisboa, para um Curso, deixei es-
desempenhadas no mesmo espaço.                                                              tabelecida uma inexorável “Escala
RA – Muito mais sossegado!                                                                  de Ferro”, como lhe chamavam.
RC – Nada disso! Se antes estava          O N.R.P. “Águia”                                  Chegaram na antevéspera, claro!

onde era preciso salvar as pessoas, agora estava a ser difícil confirmar a sua posição Vêm pelo Cabo?
estava no local em que era responsável por e a natureza do alerta.                        RC – Pelo Suez. Vão a Alexandria e passam
empenhar meios e mandar salvá-las. Gostei Falámos com as entidades cabo-verdianas pela Argélia…
muito de lá estar!                        e, solicitámos o empenho nas buscas dum RA – A outra sua função era mais na área
RA – Houve algum incidente mais notável? navio de guerra americano que se encon- militar-naval?
RC – Muitas boas histórias, outras menos trava na zona, para averiguar e prestar RC – Tem a ver com as actividades Opera-
boas. O sucesso da Emergência no mar tem apoio, se necessário. O helicóptero do na- cionais do Comando Naval, em diversos
muito a ver com a Prevenção da Seguran- vio voou cerca de duzentas milhas, detec- domínios.
ça. Infelizmente muitos dos cidadãos que tou o veleiro português já em fase de afun- RA – Ainda não se especializou? E o co-
recorrem ao mar como forma de trabalho damento e resgatou o navegador solitário mando, como foi?
ou lazer, desconhecem ou não praticam as que se encontrava junto a uma rocha.             RC – A Especialização virá a seguir. Depois
recomendações de segurança e isso , por RA – Isso devia ficar nos Anais da História! de lá, embarquei na Lancha de Fiscalização
vezes, dificulta a nossa acção. Se no Mar RC – Como este há tantos outros casos…          «Águia», onde assumi o comando no dia 8
nos sentimos úteis à sociedade, ali ainda RA – Mas a verdade é que as pessoas não de Outubro de 2009, as minhas actuais fun-
mais!                                     sabem o que a Armada faz. Às vezes nem ções.
RA – A coordenação… Recordo ao largo os da casa. Sei que estou reformado, mas RA – Como se processou a entrega de co-
das Berlengas, num clarear do dia, com desconhecia que houvesse periodicamente mando?

28 MARÇO 2011 • REVISTA DA ARMADA
   23   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33