Page 35 - Revista da Armada
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Navios Hidrográficos
15. O Navio Hidrográfico Almirante Lacerda
O N.H. Almirante Lacerda era o ex-navio lança-minas Cara- publicou, no dia 12 de dezembro daquele ano, um extenso
quet da Marinha do Canadá, construído em estaleiros daquele artigo com o título A tarefa da Hidrografia permitiu conduzir os
país e lançado à água em 24 de agosto de 1941. Pertencente trabalhos que abriram aos grandes navios a entrada no porto de
à classe “Bangor,” foi adquirido em 1946 pelo Governo Por- Lourenço Marques, no qual, a dado passo, refere o seguinte:
tuguês, transformado no Arsenal do Alfeite em navio hidro- O navio hidrográfico “Almirante Lacerda” foi o “quartel-general
gráfico e aumentado ao Efetivo dos Navios da Armada em científico” onde sucessivas missões hidrográficas e, por último, o
20 de junho de 1946. Destinado às atividades hidrográficas Sr. Comandante Rosa Coutinho, desenvolveram brilhante trabalho
em Moçambique, tomou o nome de um dos mais ilustres hi- que permitiu orientar a tarefa final das dragagens.
drógrafos da Marinha Portuguesa, o Vice-almirante Hugo
de Carvalho Lacerda Castelo Branco, que se notabilizou Não obstante os numerosos trabalhos hidrográficos em
em Moçambique onde, entre outros cargos, foi Inspetor de que esteve envolvido, a sua participação na Expedição In-
Obras Públicas, tendo ternacional ao Oceano Índico em 1964, foi porventura a mais
organizado os serviços
do porto de Lourenço relevante visto se ter
Marques e criado, pos- tratado de um notável
teriormente, a Missão acontecimento que con-
Hidrográfica da Costa tou com a participação
de Portugal. de perto de 50 navios
oriundos de 30 países
Foi o primeiro navio e que constituiu um
da Armada Portugue- marco histórico no de-
sa a utilizar o radar e senvolvimento da mo-
apresentava as seguin- derna oceanografia. O
tes características: N.H. Almirante Lacerda
foi então equipado com
Deslocamento máximo.................................... 900 toneladas diverso material oceanográfico, tendo-lhe sido atribuído a
Comprimento (fora a fora) ............................. 54,9 metros realização de diversos cruzeiros destinados a efetuar, entre
Boca.................................................................... 8,7 “ outros trabalhos, colheitas de amostras de fundo, registo de
Calado ............................................................... 2,9 “ temperatura de água a várias profundidades, colheita de
Velocidade ........................................................ 16 nós amostras de plâncton, observações dos fenómenos de turbu-
Propulsionado por duas máquinas alternativas de tríplice lência, coloração das águas, bioluminescência, mortalidade
expansão com uma potência de 2.400 cavalos, estava arma- de peixe e frequência de aves marinhas.
do com 1 peça de 76 mm e 2 de 20 mm. A sua guarnição era Descreveu o jornal “Diário de Moçambique”, na sua edição
constituída por 49 homens (7 oficiais e 42 sargentos e praças) de 22 de Abril de 1964, a participação do N.H.Almirante La-
Em 1947 fez a viagem para Moçambique via Suez, com cerda na Expedição Internacional ao Oceano Índico: O navio
uma guarnição reduzida, comandada pelo 1º tenente Alves hidrográfico “Almirante Lacerda”, que desde 1947 executa traba-
Leite. Uma vez chegado a Lourenço Marques foi atribuído lhos de hidrografia nas costas e portos de Moçambique, encontra-se
à Missão Hidrográfica de Moçambique, sendo a sua guarni- neste momento cumprindo o seu primeiro cruzeiro dentro do pla-
ção completada com marinheiros ultramarinos, termo então no de trabalhos da Expedição, ao longo do canal de Moçambique.
usualmente empregue para designar os militares nativos. Para o efeito, foi apetrechado em 1962 e 1963 com diverso material
A guarnição do navio participou no levantamento hidro- oceanográfico, que lhe permitirá realizar um extenso programa de
gráfico do Lago Niassa realizado em 1955, após ter sido re- trabalhos estabelecidos pela Comissão Nacional Portuguesa para
conhecido a Portugal o direito de soberania naquela região a Investigação Oceanográfica e relacionado com os programas dos
de fronteira e ainda da costa do Cobué e das Ilhas Licoma e outros países que tomam parte na Expedição, conforme foi acorda-
Chisumulo. A partir de 1960, com a criação do Instituto Hi- do na Reunião Regional que para o efeito, se efetuou em Lourenço
drográfico em 22 de setembro daquele ano, a atividade hi- Marques em Maio de 1962.
drográfica intensificou-se e assim efetuaram-se levantamen- O navio, que é comandado pelo capitão-tenente engenheiro hi-
tos em toda a costa moçambicana incluindo, entre outros, as drógrafo António de Sousa Leitão, tem de guarnição 6 oficiais, 8
baías e portos de Lourenço Marques e de Bartolomeu Dias, sargentos e 82 praças, cerca de metade originários de Moçambique.
a barra e porto de Inhambane, os portos do Chinde, Queli- Toma também parte nos cruzeiros, encontrando-se presentemen-
mane, António Enes, Beira, o arquipélago das Quirimbas, te a bordo, o Dr. António de Freitas, do Instituto de Investigação
os baixos de Inhaca e os canais de Macúti, Polana e Xefina. Científica de Moçambique, que orientará a parte respeitante à Bio-
O jornal “Diário de Lisboa”, na sua edição de 4 de dezem- logia Marítima.
bro de 1964, publicou uma pequena notícia com o título En- Em junho de 1975, quando da independência do territó-
trou hoje em Lourenço Marques o maior cargueiro do Mundo. Este rio, foi transferido para a Marinha da República de Moçam-
acontecimento estava diretamente relacionado com os traba- bique o N.H. Almirante Lacerda, que desde 1947 vinha rea-
lhos hidrográficos realizados pela Missão Hidrográfica de lizando valiosos trabalhos hidrográficos nas costas e portos
Moçambique, com o indispensável apoio do N.H. Almirante moçambicanos.
Lacerda, os quais possibilitaram a construção dos canais de Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO
acesso ao porto de Lourenço Marques. Aliás, o mesmo jornal,