Page 5 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 525
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          SUMÁRIO
          tilidades  contra  esse  estado,  ou  (iii)  sem
          atender  à  possibilidade  do  estado-vítima                  O navio mais empregue pela maior potência naval (EUA)
                                                                        em ações de diplomacia de canhoneira são os porta-aviões.
          retaliar em escalada, levando à guerra. Por                   Na foto, o porta-aviões Carl Vinson.
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                                                                                         DOS FUZILEIROS 04
                   700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento
          outras palavras, um ato de guerra: (i) pode                             OS VALORES E MÉRITOS
          continuar  uma  guerra  já  existente;  (ii)
           07
                   NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa
          pode, deliberadamente, iniciar uma guer-
           09
          ra; ou (iii) pode ser responsável por levar o
                   Lusitano 17
          estado-vítima a iniciar uma guerra.
           Por  outro  lado,  um  ato  de  diplomacia
          coerciv  Cerimónia Militar
           18a visa obter determinadas vanta-
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          gens  específicas  junto  de  outro  estado,
                   Direito do Mar e Direito Marítimo (13)
          perdendo o seu caráter diplomático se in-
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          fligir dano desproporcionado ou se o dano
                   Academia de Marinha
          causado  levar  o  estado-vítima  a  um  es-
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          calar de hostilidades, que acabe por con-
                   Notícias
          duzir à guerra. Concluindo, “a diplomacia
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          coerciva é, assim, uma alternativa à guerra                                 BALANÇO DAS
                   Novas Histórias da Botica (66)
          e, se levar à guerra, então não só devemos                           11     ATIVIDADES 2017 – MARINHA
           29
          considerar que falhou, como até devemos
                   Estórias (37)
          duvidar de que alguma vez tenha mereci-
           30
          do esse nome”.
                   Vigia da História (97)
           Com esta distinção, Cable faz tábua rasa
           31
          do conceito de guerra limitada, pois con-  MOSTRAR A BANDEIRA        a não haver dúvidas quanto às intenções
                   Desporto
          sidera não haver qualquer distinção entre   Em 1987, num artigo escrito para a revis-  amistosas da visita. Assim, enquanto a di-
           32
                   Saúde para Todos (51) –  para
          guerra  ilimitada  e  guerra  limitada   ta Naval Forces, James Cable viria a alargar   plomacia de canhoneira implica, como já
                                                                               vimos, o uso ou a ameaça do uso da força,
          ele há simplesmente guerra. O contrapon-  o  seu  quadro  conceptual  da  diplomacia   mostrar a bandeira “é um lembrete mais
           33
          to à guerra é, naturalmente       naval, introduzindo o conceito de mostrar   genérico aos estrangeiros da existência da
                   Quarto de Folga, a paz, durante
          a qual é possível usar a força limitada na   a bandeira  (do  ingês:  showing  the  flag),   marinha em causa”, em que a ameaça do
           34
                   Notícias Pessoais / Convíviosos.
          prossecução  de  objetivos  diplomátic  que  complementava  o  de  diplomacia de   uso da força será muito remota.
          Quando  a  força  limitada  envolver  meios   canhoneira, que foi o cerne das suas inves-  Segundo Cable, “mostrar a bandeira tor-
           CC
                   Símbolos Heráldicos
          navais, então entra-se no domínio da diplo-  tigações. Mostrar a bandeira concretiza-se   na-se  diplomacia  de  canhoneira,  quando
                                                                                  ATIVIDADES 2017 – AMN 20
                                                                                           BALANÇO DAS
          macia de canhoneira. Dessa forma e como   através de visitas a portos estrangeiros com   se  corre  o  risco  deliberado  de  encontrar
          corolário, a alternativa à guerra é a diplo-  objetivos benignos, como demonstrar pa-  resistência armada”. Ou seja, se há o ris-
          macia de canhoneira, que permite empre-  cificamente  capacidades  militares,  estrei-  co de se encontrar resistência e, mesmo
          gar a força naval limitada para a obtenção   tar relações de amizade entre povos, dar   assim,  se  planeia  uma  determinada  mis-
          de vantagens no concerto das nações.   boa impressão do país de origem e apoiar   são diplomática, então é porque há fortes
           Importa acrescentar que a distinção pro-  o comércio e a indústria nacionais. Tudo   motivos para o fazer, entrando-se por isso
          posta  por  Cable  entre  atos  de  guerra  e   isso obriga a ponderar cuidadosamente o   no domínio da diplomacia de canhoneira e
          atos de diplomacia coerciva não deixa de   momento, o local e a forma da visita (em   não no domínio do showing the flag.
          ser algo ambígua e dúbia, pois baseia-se   conjunto com o governo local), de forma
          essencialmente  na  interpretação  das  in-
          tenções do estado perpetrador do ato em                              CONSIDERAÇÕES FINAIS
          causa. Se se pretender causar dano a um                                A obra de James Cable constitui o primei-
          estado ou aos seus habitantes (aquilo que                            ro  estudo  da  aplicação  política  da  força
          Cable considerava ser uma intenção nega-                             naval limitada, no século XX, com objeti-
          tiva), então trata-se de um ato de guerra.                           vos  políticos.  O  livro  apresenta  numero-
          Se “apenas” se pretender ganhar algo (in-                            sos  casos  de  diplomacia  de  canhoneira
                                                                                 Capa
          tenção positiva), então está-se no domínio                           ocorridos  entre  1919  e  1969  (período
                                                                                 Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme
          da diplomacia coerciva. Só que, nas Rela-                            posteriormente alargado até 1979 e 1991,
                                                                                 da Brigada Real da Marinha.
          ções Internacionais, as intenções contam                             nas  edições  subsequentes)  de  forma  a
                                                                                 Foto SMOR L Almeida de Carvalho
          pouco e o que conta verdadeiramente são                              provar a tese de que o uso da força na-
          os atos em si e, sobretudo, a forma como                             val limitada, sem ser como ato de guerra,
               Revista da
          são percebidos pelos vários atores envolvi-                          continuava a ser uma técnica largamente
          ARMADA                                                               empregue pelos governos para obter van-
          dos. O próprio Cable reconhecia a dificul-
          dade em interpretar as intenções, quando                             tagens ou para evitar perdas nas relações
           Publicação Oficial da Marinha
                               Diretor
                                                                                       E-mail da Revista da Armada
          referia que um determinado ato podia ser         Desenho Gráfico     internacionais. Isso levou Richard Hill a es-
                               CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos
           Periodicidade mensal
                                                                                       revista.armada@marinha.pt
                                                           ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria
                                                                                       ra.sec@marinha.pt  na revista Survival
          visto por uns como uma violação da sobe-                             crever, logo em 1976,
           Nº 525 / Ano XLVII
                               Chefe de Redação
                                                                               que “desde 1971 é impossível discutir o
           Janeiro 2017
          rania nacional e por outros como a manu-         Administração, Redação e Publicidade   Paginação eletrónica e produção
                               CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira
                                                           Revista da Armada – Edifício das Instalações
          tenção da ordem internacional. Da mesma          Centrais da Marinha – Rua do Arsenal   poder no mar sem mencionar Cable”.
                                                                                       Página Ímpar, Lda.
                               Redatora
          forma, aquilo que uns entendessem como           1149-001 Lisboa – Portugal    Estrada de Benfica, 317 - 1 Fte
                               1TEN TSN -COM Ana Alexandra G. de Brito
           Revista anotada na ERC
                                                           Telef: 21 159 32 54
          uma agressão, podia ser entendido por   Capa da 3ª edição de Gunboat         1500-074 Lisboa   Sardinha Monteiro
                               Secretário de Redação
           Depósito Legal nº 55737/92
           ISSN 0870-9343
          outros como autodefesa.     SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho           Tiragem média mensal: 4000 exemplares
                                                                                                            CMG
                                                Diplomacy, de James Cable.
                                                                                                    JULHO 2018
                                                                                                   JANEIRO 2018  3 5
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