Page 32 - Revista da Armada
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quarto de folga






            À  GUISA  DE  INTROITO             pão (e  de, trabalho) vive' o  homem,   umas  damas  oú  um  bridge  que
                                               faze,r qualque'r coisa sem trabalhar   suscitem  o  gosto  de  encontrar  a
              Nem  só  de  pão  vive  o  homem.   também  tem  de ter  um  nome. E  o   sO'lução,  para a anedota que alivie
            Até  o  homem  português,  consu-  «Quarto  de  Folga»  se'rá,  então,   de maus humores, e,  enfim, para o
            midor em  percentagem  apreciável   um passatempo. Aqui temos, pois,   mais  que  com  o  tempo  se  verá.
            do  bíblico  alimento,  não  restringe   o  «Quarto  de  Folga»,  e  o  que'  é .   A  nossa mensagem pretende ser
            a  manutenção  da  sobrevivência  à   -  um  passatempo.  O  nome  diz  'de  boa  disposição,  que  nem  só
            única  função  de  ingerir,  primária   tudo.  Quando  o  homem  de'ixou  de   de pão  vive o  homem. Assim  seja.
            e  benfaze'ja,  mas  não única.    caçar  por  não  carecer  da  caça
              O  trabalho,  que  (há  quem  diga)   para  sobreviver,  mas continua  a  ir
            dá saúde e dá vigor, arroga-se exi-  à  caça,  fá-lo  para  «matar»  o  tem-  PILHA  DE  PALAVRAS
            gências  especiais  de  carburante,   po.  QuandO'  nãO'  é  pescador e  vai
            obrigando  o  homem  (pretendente   à  pesca,  é  par~  passar  o  tempo.
            a  livre,  e  autodassificado  de  inte-  Quando  se  une  em  matrimónio  e
                                                                                     1t---+_+--+_+---t
            ligente)  a  suar as  estopi'nhas para   contribui  para  a  pe'rpetuação  da
            conseguir a  côdea,  e' a  ingelrir afi-  espécie ...  mas ...  bom,  adiante.  Há   2  J---+--+--+---+--t
            nai  a  côdea  para  de  novo  suar as   uma  data  de co'isas que o  homem   3t---+_+--+_+---t
            estopinhas.  Quase  vem  a  propó-  inventO'u  (e  até  a  mulher)  para
                                                                                     4t---+_+--+_+---t
            sito pelrguntar, como na  etema dú-  passar o tempo. Os jogos de car-
                                                                                    ' 5
            vi'da do ovo e da gal'inha, se, temos   tas  e  de salão,  o·s Í'0'9'O-s  de socie-  ~--~~~~~~~~
            de comer para trabalhar, se, temos   dade,  O'S  jogos dos  campos  arrel-
                                                                                     -
            de  trabalhar  para  oomeir.  Mas  à   vados e  de terra  batida,  o turismo
                                                                                     6t---+_+--+_+---t
            fava  com  as  filosofias.  E  então   e  as palavras cruzadas,  os  contos
            aqui!  O  diabo  que'  as  leve.  Sim,   e  nove'las,  o  romance  e  histórias   7  t---+-+--+-+---t
            porque,  graças  a  Deus,  o  homem   de quadradinhos, ir ao te'atro a ve'r   8  J---+-+-~~1---t
            também adoptou  o  descanso  (me-  as  figuras  que  faz  na  vida,  ir  ao
                                                                                     9t---+_+--+_+---t
            temos  o  «graças  a Deus»  bem  de   cinema,  à  praia,  à  cidade,  quando
            propósito,  pois,  em  verdade  o  sa-  vive  na  aldeia,  e  à  aldeia,  quando   10  '--~_L...-""""'---''--....I
            bemos,  logo  que  fez  a  primeira   vive  na  cidade,  gastar  dinhe'iro,
            criação,  De,us  também  de·scansou.   gastar  gaso,lina,  gastar  paciência,
                                                                                     1 -  Imitação.
            Fez  o  mundo  de  s'e'gunda  a  sá-  às  veze,s  gastar a vi'da,  tudo como
                                                                                     2-Nata.
            bado  e  descansou  ao  domingo).   passatempo,  é  hoje  autênticO'  de-
                                                                                     3 -  Crosta  do  pão.
              Pois,  vai  daí,  nós,  as  trabalha-  safio  à  capacidade  de resistência
                                                                                     4 -  Branquear  roupa.
            dores do mar (há  quem  diga) tam-  do homem  p,ara  os  mO'mentos  de
                                                                                     5 -  Corpo simples, gasoso, de
            bém  descansamos,  claro,  e  com   descans'o.  CO'nsomem-se  milhões,
                                                                                         oheiro activo e sabo·r cáus-
            justo -  justíssimo! -  dire,ito.  No   trabalha-se espantosamente, sába-
                                                                                         tico.
            mar chamamos àquele pedacito de    do, s,  domingos, feriados  nacionais
                                                                                     6 -  Decorações  te'atrai .
                                                                                                            9
            tempo  que  dá  para  fazermos  as   e  dias  santos  de  guarda, ' tudo
                                                                                     7-Zelo.
            coisas  que  não  podemos  fazer   para  reinventar,  renovar,  conce-
                                                                                     8- Fo'ssO'.
            enquanto  trabalhamos,  o  «Quarto   ber,  proporcionar  esta  invenção
                                                                                     9 -  Corporação de sacerdotes.
            de  Folga».  E  ele  aqui  está:  o   simples  e  ino-cente' que  se  tornou
                                                                                    lO-Unir.
            «QUAHTO  DE  FOLGA».               obce'oação  humana :  p as s a r  o
              Ora  nós  tivemos  agora  mesmo   tempo.
                                                                                    Depois de resolvidO' este passa-
            o cuidado de dize,r  «para fazermos   No  nosso  caso,  a  pretensão  é
                                                                                  tempo,  na  coluna  central  o  le,itor
            as  cOlisas  que não  podemos  fazer   bem  modesta,  enquadrada  em  tal
                                                                                  encontrará  o  nome de um  célebre
            enqua, nto  trabalhamos .. ,  que  é   ritmo universal.  «Quarto de Folga"
                                                                                  matemático  e  astrónomo  portu-
            como  quem  ,diz,  faze'r  qualquer   quer apenas  estar convosco,  ir na
                                                                                  guês do século XVI.
            coisa  que  não  seja  trabalho.  Por-  REVISTA  DA  ARMADA  para  um
                                                                                    Este  passatempo  apresenta  a
            que,  v~rdade verdadinha,  ·não  fa-  convívio  ameno,  para  umas  per-
                                                                                  particularidade de  as  palavras  se
            zer  nada  também  é  chato.  E  se   guntas  de  algibeira,  para  umas
                                                                                  iniciarem pela  letra  «C" .
            o trabalho dá para o  pão" o pão dá   palavras  cruzadas  que  e'ntrete-
            para  o  trabalho,  mas  nem  só  de   nham  e  il'ustrem,  para  um  xadrez,       (Solução  na pág.  n.o  33)
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