Page 92 - Revista da Armada
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CAPELA D
do Ministéric
Toda a corporação da Armada conhece, pelo menos
de nome, a Capela de S. Roque, também conhecida
pela Capela do Antigo Arsenal de Marinha. Nela cos-
tumam ser depositados muitos elementos da Armada
que morrem em Lisboa e todos os que vêm do Ultra-
mar.
Ali estiveram os corpos do Infante D. Afonso, do Sol-
dado Desconhecido, do Patrão Joaquim Lopes, do
Comandante João Belo, de António Feijó e de muitas
outras personalidades militares e civis.
Vamos dar a conhecer um pouco da sua história.
Foi mandada construir pelo Marquês de Pombal
para o culto de S. Roque, Santo que foi da devoção
dos carpinteiros navais, e é considerada pelos enten-
didos como sendo um exemplar arquitectónico de
muito valor. Deveria mesmo ser classificada, pelo
menos, como «monumento de interesse público».
A nossa epopeia naval tem como colaboradores
mais entusiastas, embora esquecidos, os artífices
da construção dos navios - os carpinteiros navais.
Há dois documentos que muito nos dizem da vida
dos artistas que construíram as caravelas e as naus
que percorreram todos os oceanos na faina da «dila-
tação da Fé e do Império». São eles: o «Livro das Me-
mórias Históricas da Real Irmandade do Glorioso -
S. Roque dos Carpinteiros de Machado» e uma
«Carta de Confirmação de Privilégios» passada
pela Rainha D. Maria aos carpinteiros e cala-
fates do Reino.
Esta «Carta» confirmou os privilégios concedidos
pelos reis D. Fernando, D. João I, D, Duarte, D. Pe-
dro (Regente), D. Afonso V, D. João II, D. Manuel I,
"D. João III, D. Sebastião e D. José, que beneficiavam
os carpinteiros, calafates, arrais, mareantes e pilotos
das naus de guerra da carreira da índia de todo o
país.
Pode dizer-se que essas classes, pela isenção de
impostos e liberdades que gozavam, estando dis-
pensadas de vários serviços que competiam à maio-
ria dos cidadãos, eram tratadas quase como nobres.
E porque se procedia assim para com essas humil-
des profissões? Naturalmente porque havia a com-
preensão de que o destino da Pátria muito viria a
depender delas.
Eram ciosas dos seus direitos, não permitindo que
lhes superintendessem nem o Almirante do Reino,
nem os Vedores da Fazenda, nem o Almoxarife da
Cidade, recebendo somente ordens dos seus legí-
ti mos mestres.
Sousa Viterbo, grande investigador da História Na-
cional, na sua obra «Artes e Artistas em Portugal»,
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