Page 93 - Revista da Armada
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s. ROQUE
~ da Marinha
tem um capítulo especialmente dedicado aos car-
AHar-mor pinteiros e calafates navais referindo que eram tão
afamados que de 1430 a 1441 foram aos Estados
de Borgonha construir naus.
O Padre Fernando de Oliveira, que viveu no princípio
do Século XVI, do qual, recentemente, o Ministério
da Marinha editou a sua obra «A Arte da Guerra do
~ar», escreveu um livro intitulado «Fábrica das
Naus», em que nos fala em termos do maior elogio,
da competência que -era exigida aos carpinteiros
navais.
Todos conhecemos a Avenida da Ribeira das Naus,
que passa junto ao Ministério da Marinha e atraves-
sa a zona do antigo Arsenal. Era este o local onde
nos séculos passados os petintais, carpinteiros,
calafates, cordoeiros, ferreiros e remolares cons-
truiam e aparelhavam as nossas caravelas e naus.
Na Idade Média, especialmente nos Séculos XIV,
XV e XVI, as Irmandades ou Confrarias desempenha-
vam um papel muito importante na vida portuguesa.
Os artífices de então, operários de hoje, organiza-
vam-seem instituições com aqueles nomes, de ca-
rácter fundamentalmente religioso mas visando
também a defesa dos seus interesses profissionais
e bem-estar dos familiares.
O «Livro das Memórias Históricas da Real Irmandade
do Glorioso S. Roque dos Carpinteiros de Machado»,
descreve-nos a históri.a da referida Irmandade até
ao ano de 1781. Segundo esse documento, não foi
um motivo propriamente de natureza marítima que
presidiu à fundação da Irmandade, mas sim, como
acima se diz, razões religiosas e de entreajuda.
O culto a S. Roque, que nasceu em 1290 na Gália,
ràpidamente se generalizou, levantando-se em sua
honra igrejas, capelas e altares, invocando-o o povo
cristão como advogado contra a peste ou qualquer
outro mal contagioso.
A cidade de Lisboa, no tempo do Rei D. Manuel I,
foi atacada pela peste trazida por uma nau que veio
de Veneza.
O Rei pediu para ali uma relíquia do Santo, e logo
que esta chegou a Lisboa, foi recebida pela Corte
e pelo Povo com grande fé e devoção e colocada
numa ermida edificada em 1506, à custa dos devotos
de S. Roque, entre os quais se sobressaíram com
grande generosidade os carpinteiros da Ribeira das
Naus. Em 1553 os Jesuítas tomaram a seu cuidado
a ermida.
A Igreja de S. Roque, junto à Misericórdia de Lisboa,
é a grande Igreja que Lisboa construiu em honra
do Santo.
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