Page 366 - Revista da Armada
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Batalhas e combates da Marinha portuguesa (Ix)
PASSO DE CAM BALÃO
(Abril de 1504)
PASSO DE CAM BALÃO-1504
urante a primeira guerra de
Cochim, em 1503, tinham-se
D passado para o Samorim de
Calicute dois italianos, idos à Índia
nas naus portuguesas a mandado de ,
Veneza, com o propósito de ensina- " ,
rem os Malabares a fabricar artilharia
e a servirem-se dela contra nós. Por ,
oulro lado, os «Mouros» tinham for- , , ,
necido ao Samorim grande quantida-
de de canhões e espingardas. Por ,
,
tudo isso, quando ele, em 1504, vol-
\
tou a invadir o reino de Cochim, após ,
a partida para Portugal de Francisco ,
,
e A fonso de Albuquerque, dispunha .. , , ,
, ,
dum exército e duma armada muito , , ,
,
,
melhor equipados que os do ano an- , , ,
..
,
,
terior. , , , .
,
Incluindo as tropas de q uatro reis ,
seus vassalos, o exército do Samorim \
ascendia a mais de oitenta e quatro
,
mil homens. A sua armada era com· , , ,
,
,
posta por cerca de cem paraus, cada ,
,
um deles armado com duas bombar- , .'
das e cinco espingardas, cerca de cem '\ .,
~rcurso pro~á"e!
tones com uma bombarda cada um, e da exercito
grande número de catures (navios li- de CalicUlC, \ de Calicu!(
, .
geiros). , ,
,
• ,
A concentração destas forças foi , ,
,
efectuada em Cranganor, donde par- · .
,
tiram nos primeiros dias de Abril em · ,
·
direcção a Cochim , indo a armada pe- · , ' ,
,
los rios e esteiros que ligam as duas ci- • , , ,
.
dades, não só por ser já difícil, naque- \ .. , \ CoCHIM
,
,
le mês. a viagem por mar, mas tam- , \ , ,
bém por causa da fortaleza e da nau , , , ' ' .
quedefendiam a barra de Cochim. """ , ,
Para enfrentar o enorme poten- , ,
,
ciai bélico do Samorim. dispunha ·
Duarte Pacheco Pereira somente de ·
•
uma nau. em que deixou o mestre por
capitão com mais vinte e quatro ho-
mens. duas caravelas com vinte e cin-
co homens cada uma e dois batéis ar- Quando a invasão de Cochim se rados fora da borda, destinados a
mados, um dos quais capitaneado por tornou iminente, Duarte Pacheco amortecera impacte dos pelouros ini-
ele próprio, guarnecidos. cada um, mandou construir uma forte paliçada migos. Mandou também armar cada
por vinte soldados. Na feitoria estava diante do vau que na maré baixa dava batel com quatro berços.
o fei tor, fazendo também as vezes de passagem para a quase-ilha em que Apesar de todos estes preparati-
alcaide. com mais trinta e oito ho- estava construída a cidllde. Além dis- vos, a população de Cochim e o pró-
mens! A inferioridade das forças por- so, mandou reforçar a protecção das prio rei andavam muito descoroçoa-
tuguesas em relação às do Samorim caravelas e dos batéis com paveses dos por ver que as nossas forças eram
era de um para quinhentos em ho- feitos de tábuas da grossura de dois insignifiCllOtes comparadas com as do
mens e de um para sessenta em na- dedos e com arrombadas constituídas Samorim.
vios! por sacos cheios com algodão. pendu- Para os animar, Duarte Pacheco
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