Page 305 - Revista da Armada
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tempo, os navios inimigos cessaram os comandante-chefe duma armada durante redes de cairo. de malh& apertada,
seus ataques e foram fundear perto da a batalha preocupou desde sempre os teó- enquanto os soldados aprontavam as
costa, do lado de fora do baixo que ricos da guerra naval. Nos tempos mais armas e se confessavam e comungavam.
separa o pono exterior do porto interior. recentes, a tese preponderante era a de Depois. fez-se o silencio e cada um ficou
Pouco depois. foram-se·lhes juntar as que devia manter-se fora da linha de a sós com a angústia que precede o dia
quatro naus de Diu, por ordem de Mir- batalha e a SOtafogo dela. Pois foi, das batalhas. No exterior dos navios. os
·Hocem. Teria este em mente sacrificar precisamente, esta, a solução adoptada vigias, de olhar atento, procuravam des-
a armada de Meliqueaz para quebrar o pelos ponugueses na batalha de Diu e cortinar qualquer indício da aproxima·
ímpeto dos portugueses. antes de entrar que tão bons frutos deu. ç!o do inimigo. Mas, nessa noite. nada
em acção com os seus próprios navios. No conselho acima referido. foi taro· mais aconteceu.
ou estaria pensando em, na manhã ~m feita aquilo a que hoje chamaríamos Ao amanhecer do dia 3 de Fevereiro,
seguinte, vir tam~m com estes para fora a distribuição dos alvos: as quatro naus puderam os ponugueses constatar que
do baixo? Nunca se poderá saber! grandes (aJém da «Frol de la Maflo) abor· tantO as naus como os navios de remo
Embora ausente da cidade, Meliqueaz dariam as quatro naus turcas; as quatro que estavam fora do baixo se tinham
era mantido ao corrente de tudo quanto naus pequenas abordariam as quatro naus recolhido ao porto imerior. Esclarecida
nela se estava a passar por meio de de Diu; duas caravelas redondas abor· definitivameme a situação táctica em que
correios. Logo que soube que Mir· dariam os dois galeões turcos; as outras se ia desenrolar a batalha, D. Francisco
-Hocem mandara a sua annada para fora duas abordariam onde lhes parecesse de Almeida mandou entregar a cada um
do baixo, regressou a galope e ordenou mais conveniente; uma das gal~ iria à dos capitães dos navios a mensagem
que as suas naus e fustas. bem como os frente das naus sondando o cana1; a seguinte:
paraus de Calk:ut. voltassem para dentro. outra, possivelmente, terá tido ordem
Oeste modo. falharam as jogadas com para se manter nas imediações deste a .SENHOR, OS RUMES JÁ NÃO
que Meliqueaz e Mir-Hocem se tinham fim de poder socorrer qua1quer navio que HÃO-DE SAIR POIS HOJE O NÃO
procurado enganar mutuamente. O pri- porventura encalhasse; as duas carave- FIZERAM, E PORTANTO COM A
meiro viu-se obrigado a permanecer em las latinas auxiliariam a «Frol de la Mar- LEMBRANÇA NA PAIXÃO DE
Diu durante a batalha: o segundo viu-se na sua tarefa de barrar a passagem aos CRISTO, COM A VIRAçÃO, A QUE
impedido de utilizar a armada daquele navios de remo inimigos; o bergantim FARElO SINAL, EM QUE TEREIS
como bode expiatório. manter-se-ia nas prox:imidades daquela BOA VIGIA, LHE VAMOS DAR A
MERENDA; E SOBRETUDO VOS
Nessa noite, D. Francisco de Almei- para transmitir as ordens do vice-rei.
da reuniu. pela última vez, o conselho Apesar de tudo, o problema que RECOMENDO GRANDE CUIDADO
DAS REGEIRAS, QUE DEIXAREIS
dos capitães para assentar no plano tác- naquele momento parecia mais difícil de
POR POPA, PARA VOS ALARDES A
tico a utilizar no dia seguinte. Logo de resolver era o da passagem do porto
início, os capitães, unanimemente, exterior para o porto interior através do ELAS QUANDO VOS CUMPRIR,
pediram a D. Francisco para desistir da estreito canal que os liga. Felizmente, PORQUE ISTO MAIS RELEVA
ideia de ser o primeiro a abordar a nau entre os cativos que a nossa armada SOBRE TODAS AS COISAS, PARA
QUE VOS APARTEIS DE FOGO, SE
de Mir·Hocem. insistindo para que per- levava, encontrava-se um rapaz de
OS MOUROS EM SI O PUSEREM
manecesse numa posição afastada dos dezoito anos que já tinha ido algumas
combates de modo a poder dirigir a vezes a Diu e que ensinou os enfiamen- PARA VOS QUEIMAR, OU VOS
LEVAREM Ã COSTA CORTANDO
batalha no seu conjunto. D. Francisco de tos da entrada aos pilotos portugueses.
SUAS AMARRAS.'
Almeida acedeu. ficando decidido que a Tenninado o conselho e em conse-
... Frol de la Mar- não abordaria nenhuma quência das decisões nele tomadas. a
das naus contrárias e que se limitaria, maior pane dos fida1gos e soldados da
com o tiro da sua artilharia, a impedir _FmI de la Mar- foram distribufdos pelas
que os navios de remo inimigos incomo- outras naus, sobretudo pelas que deviam
dassem as naus ponuguesas encarrega- ir na vanguarda. Até aJw ooms da noite.
das da abordagem. os marinheiros e os carpinteiros estive-
Será oportuno referir que o problema ram reforçando as bordas dos navios Satumino Monreiro,
da posição que deveria ocupar o com paveses e cobrindo-os com fortes cop.""'.-,.
Livro das Armadas (22)
Texto actualizado do códice reproduzido na contracapa: «Trindade,., ManOt!I Botelho;
No ano de 531 «Vera Ct'Ul., Diogo Botelho;
"CosleloiO, Aquiles Godinho:
Paniram para a India seis naus. com estes capitlJes: .. S. Miguel,., o Doutor P2ro Vaz. por veadorda Fazenda;
.. Esperança,., Manuel de Macedo; ~'Qrou em Cale ÚlXem,
arribou a Ponugal;
de trru do Cabo de Comorim. e em terro fo. tranqueiros em
.. Santo Ct'UlJO, Jonim, genovês.
defenslJo das embarcaçDes dos negros da terra, com quem
pelejou; •••••••••••••••••••••••••
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