Page 152 - Revista da Armada
P. 152

YlS  SETE VIYlGENS DE


                            •


                            ln






                                   o MARINHEIRO

                                                                            I ~

           A sexta viagem






                 a remansosa e a. colhedora entrada da sua fresca
                 casa, em Bagdade, relembrava Sindbad emo-
           N ções  de  antenores  viagens  -   as  boas,  por
           cwioso  capricho,  relegando  para  longe  as  más  -
           quando se deu  consigo, olhando,  pela rua, mercado-
           res que chegavam, mercadores que partiam, tanto uns
           quanto outros avivando-lhe o desejo de voltar a partir
           para tornar a  chegar. Pensado,  logo  feito. Comprou
           mercadoria, da mais fina, tomou o rumo das águas do
           Tigre, até Baçorá, escolheu navio com mercadores do
           melhor  nível e  prestígio  e  partiu.
              De  porto  em  porto,  a  vista reategIava-se  com o
           exotismo dos costumes, a  bolsa ia-se enchendo com
           o volume e lucro dos negócios. A monção era favorá-
           vel, as singradUIas, perfeitas. Um dia, porém, em pleno
           oceano, foi  o próprio capitão quem começou a  soltar
           grunhidos desesperados, a deitar o turbante ao chão,
           a  puxar pela barba:  (ISabei todos -  dizia ele -  que
           entrámos num mar cujas rotas desconheço e cujos ven-
           tos podem, de súbito, tornar-se contrários e furiosos_
           Então  estaremos  perdidos!  Só  em  Alá  poderemos
           depositar esperança,  confiando que ouça as nossas   ços que a  fúria do mar  desunia e  espalhava. MUitos
           preces! ••                                          homens foram logo para o fundo. Outros, porém, com
              Entre grande angústia e uma derradeira réstea de   a  sorte transitória de um pedaço de madeira vir ter
           fé, o capitão subiu ao mastro, a mão em pala por cima   com eles,  lá se  agarravam  de  pés  e  mãos  à  magra
           da testa a perscrutar horizontes, mas nem tempo teve   hipótese de salvação, deixando-se atirar contra parcéis
           de proferir  o  menor  aviso:  repentino golpe  de  mar,   e  rochedos.
           enorme e alteroso, levantou o navio de proa, metendo-  O aspecto da costa não era acolhedor, mas aos náu-
           -lhe para o fundo toda a estrutura da popa, que cedeu   fragos sorria com a promessa cativante de oferecer pé
           com  fragor;  o  leme  desfez-se  em  estilhas;  a  borda   firme. Quantos chegariam lá? Por todo o lado, destro-
           adornada embarcava o mar que se enfurecia sobre ela,   ços  de  navios  naufragados,  fardos  de  mercadorias,
           submergindo-a.                                      algumas, com certeza, daqueles mesmos companhei·
              Não longe dali, muito alta, recortava-se uma mon-  ros de infortúnio desaparecidos. A  montanha era de
           tanha,  única esperança de acoitar  alguém que dela   uma ilha que parecia enorme, mas estranha. Sindbad
           conseguisse abeirar-se.  Mas quem?!  As costuras do   tinha chegado a terra, mas sentiu-se só. Que seria dos
           navio cediam, as tábuas desconjuntavam-se em peda-  outros  mercadores,  bafeiados  como  ele  de  terem
           6
   147   148   149   150   151   152   153   154   155   156   157