Page 178 - Revista da Armada
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rechonchudo porco. Nós tínhamos
um gasolina à disposição do navio e
o embarque no cais correu da
melhor maneira. Atracado o gasolina
ao navio, resolveu-se, depois de
vários alvitres. passar uma cinta por
baixo da barriga do porco e içá-lo
para bordo. Porém, dizem que o
diabo tece-as e aconteceu que,
quando o porco já ia no ar, a cinta
desprendeu-se e ele ... foi no mala-
gueiro.
Gritaria, confusão, o Daniel a
pedir que salvassem o bicho senão
ficavam sem almoço no dia seguinte,
e o porco, levado pela forte corrente
do Geba, cada vez estava mais
longe. Mas o pessoal do gasolina,
que era todo indígena, largou atrás
dele, que já mal sustinha a cabeça
fora de água, e agarrou-o quando as
) forças estavam quase a faltar-lhe. E
pronto, salvou-se uma vida, embora
por poucas horas apenas, salvou·se
o dinheiro que tinha custado, e a
guarnição livrou-se do bacalhau que
* PORCO ... AO MAR! para mim o primeiro contacto com a na Marinha é o verdadeiro safa de
misteriosa África que apenas conhe- todas as rascadas como esta ...
Parafraseando a magnífica série cia dos compêndios de geografia e
de artigos da autoria do vice- do que dela contavam camaradas Carmo Pinto,
-almirante Silva Braga "Homem ao mais viajados. 1.~·ten. or
Mar» venho lembrar um episódio E assim se passaram quatro ••••••••••••••••••••
curioso, dos muitos que acontecem meses, navegando de conserva com
na Marinha. navios de passageiros; para sul até * DAMAS
Regressava o navio-patrulha ao Senegal e para norte até S. Vicen-
"Boavista .. de uma comissão nos te, sempre a partir de Bissau.
Açores, em Maio de 1961, quando, E foi precisamente neste último
ainda a navegar, começou a correr porto que se passou um episódio
na abita que tinha chegado a bordo que não resisto à tentação de contar,
uma ordem para.,preparar o navio embora sem o brilho com que o faria
para outra comissão, cujo destino o almirante Silva Braga.
era para nós desconhecido. S6 o Nesse tempo, como se sabe, um
comandante sabia mas, não se dos homens mais importantes na
descosia .. vida de bordo era o cabo do rancho,
Nos três dias que estivemos em pois o bem-estar da guarnição
Lisboa para reabastecimento mal dependia em grande parte do que
tivemos tempo de abraçar a família ele lhe dava a comer. É justo confes-
e os amigos. Eis-nos de novo a sar que nesse aspecto tínhamos tido
navegar. barra fora, desta vez sorte pois o cabo artilheiro Daniel era
sabendo já irmos a caminho da de mão-cheia. Metia-se pelas taban- Nesta posição as Brancas elimi-
Guiné. A nossa missão seria, a partir cas e lá conseguia o necessário para narão a Dama Preta rapidamente;
daí, dar escolta aos navios mercan- preparar boas petisqueiras. mas, é capaz de dizer qual a jogada
tes que levavam tropas para Angola. Um dia regressou eufórico em que o fará mais rapidamente?
Escalámos o porto do Mindelo, porque tinha arranjado, além de
na ilha de S. Vicente de Cabo Verde, galinhas, verduras e fruta, um J. A. Trabuco (Évora)
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